No dia 28 de setembro, o Golden Room do hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, foi o palco da cerimônia de entrega do Prêmio L’Oréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência 2011. Sete cientistas, entre 400 inscritas, foram escolhidas para receber uma bolsa-auxílio, no valor de 20 mil dólares cada uma.
O júri era presidido por Jacob Palis, presidente da ABC, e composto por oito Acadêmicos: Cid Bartolomeu de Araújo (UFPE); Jailson Bittencourt de Andrade (UFBA); Mayana Zatz e Beatriz Leonor Silveira Barbuy (USP); Francisco Mauro Salzano (UFRGS); Marcelo Miranda Viana da Silva (IMPA); Lúcia Mendonça Previato e Belita Koiller (UFRJ). Também faziam parte do júri o Oficial de Ciência e Tecnologia da Unesco no Brasil, Ary Mergulhão Filho, e a diretora científica da L’Oréal Brasil, Suely Bordalo.
A cerimônia foi apresentada pela jornalista da TV Globo Renata Capucci, que exprimiu sua alegria em conduzir o evento pela quinta vez. “Entre 2006 e 2011, 40 jovens cientistas foram homenageadas e 800 mil dólares em prêmios foram entregues”, comentou a apresentadora. Capucci informou alguns dados sobre o “For Women in Science” – o prêmio internacional que deu origem à edição brasileira: entre as 67 premiadas desde 1998, quatro são brasileiras –
Mayana Zatz,
Belita Koiller,
Lucia Previato e Beatriz Barbuy. Além disso, o programa, através de suas versões nacionais, regionais e internacional, já premiou 1.019 cientistas de 103 países, sendo que duas laureadas internacionais foram agraciadas com o Prêmio Nobel de Química e da Medicina, em 2009.
O reconhecimento à contribuição – e beleza – feminina
O francês Didier Tisserand, que deve ser escalado até o fim do ano para assumir a presidência da L’Oréal Brasil, discursou no lugar de François Fenart, que ocupa o cargo atualmente. O executivo demonstrou alegria em chegar ao Brasil e afirmou estar orgulhoso por apoiar iniciativa de estímulo à presença das mulheres no mundo científico. “Apoiando o trabalho dessas jovens pesquisadoras estamos colaborando com o futuro do país”, comentou. “A promoção das mulheres é uma peça-chave e os projetos de pesquisa aqui premiados trazem temas atuais, de grande importância para a sociedade”.
Jacob Palis declarou que a cerimônia reconhece o valor das mulheres na ciência, “área em que sempre brilharam, mas na qual nem sempre foram reconhecidas”. Segundo o matemático, o prêmio mostra ao Brasil que há mulheres excelentes no meio científico e aos Acadêmicos que elas devem ser eleitas para a ABC, de modo a aumentar a sua presença na ciência brasileira. Já o representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny, falou sobre a importância do prêmio em quebrar a imagem que as pessoas têm da mulher brasileira, “além da Garota de Ipanema, existem no Brasil brilhantes cientistas”. Ele aproveitou a cerimônia para homenagear a bióloga do Quênia Wangari Maathai, fundadora do Movimento Cinturão Verde, que faleceu no dia 26 de setembro. Eleita ministra assistente do Meio Ambiente e ativista dos direitos das mulheres, ela foi a primeira mulher africana a ser agraciada com o Prêmio Nobel da Paz, em 2004.
O Acadêmico Jailson Bittencourt falou em nome do júri e fez uma brincadeira em relação à beleza das homenageadas: “Estamos aqui celebrando o belo, por dentro e por fora”. Bittencourt comentou o Ano Internacional da Química (AIQ), que está sendo realizado em 2011 no mundo todo. “A química também tem sua beleza e, por isso, ela está sendo homenageada pela Unesco. A humanidade tem avançado, a expectativa de vida aumentou e a química tem um papel fundamental nesse aspecto. Ela contribui para que as pessoas fiquem mais velhas e mais belas com medicamentos, produtos e perfumes”. O Acadêmico destacou ainda o papel da cientista Marie Curie para o avanço científico mundial, afirmando que ela buscou criar uma nova ciência. “Era uma mulher irreverente, bela, que fez experimentos belíssimos. Espero que a carreira de vocês seja semelhante a de Marie Curie – e que vocês continuem belas.”
Em seguida, as premiadas foram apresentadas através de vídeos. Rubiana Mara Mainardes, da área de ciências da saúde farmácia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), foi escolhida por seu projeto “Desenvolvimento Tecnológico e Avaliação da Eficácia e Toxicidade de Sistemas Nanoestruturados Poliméricos Contendo Anfotericina B”.
Segundo a cientista, o prêmio é importante porque gera visibilidade: “Geralmente, o trabalho fica restrito a pessoas do meio. Com ele, posso firmar novas parcerias e projetos. Quero entrar em uma farmácia, daqui a alguns anos, e ver o meu medicamento trazendo benefícios para as pessoas”.
A subsecretária estadual de Energia, Logística e Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro, Renata Cavalcanti, entregou o prêmio à pesquisadora e a parabenizou por atuar em uma área tão importante como a dos fármacos: “É preciso quebrar o preconceito para que o desenvolvimento da ciência não dependa só do governo e dos homens”.
Com graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado em Farmacologia, Daniella Bonaventura (Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG) foi homenageada pelo projeto “Estudo das alterações hemodinâmicas e da reatividade vascular em um modelo animal de Dengue (DENV-3)”.
“Este prêmio é ótimo porque estou em início de carreira e conseguir financiamento é complicado para quem está começando. Além disso, meus alunos também ficaram empolgados, pois é um estímulo para que eles continuem nesta profissão”.
A entrega do prêmio à Daniella foi feita pela apresentadora da Globo News, Maria Beltrão. “Lembro da minha mãe, a arqueóloga Maria Beltrão, trabalhando no interior do Bahia, quando tudo era difícil e a mulher não era reconhecida. Ela me mandou dar a seguinte mensagem: cientista tem que ser contestador da ciência, senão ela se estagna”.
A farmacêutica Tatiana Barrichello, da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), foi agraciada por seu projeto “Avaliação Comportamental, Neuroquímica e a Integridade da Barreira Hematoencefálica em Cérebro de Ratos Jovens Induzidos a Meningite Pneumocócica: Inibidores do TNF- α e Metaloproteinases de Matriz um Possível Papel Terapêutico?”.
“Sempre vimos os homens brilhando na ciência. Por isso, mostrar que a mulher pode ser mãe, dona-de-casa, esposa, elegante, inteligente e também uma boa cientista é um prêmio para todas mulheres”, comentou a pesquisadora sobre a homenagem recebida.
A Dra. Rosa Célia, fundadora do projeto Pró-Criança Cardíaca, entregou o prêmio. “O que nós fazemos para cuidar da criança doente depende do que todas vocês fazem. Parabéns por este trabalho tão bonito, que costuma ficar atrás da cortina”.
Pesquisadora do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Josimari Melo de Santana foi escolhida pelo projeto “Efeito e Mecanismo de Ação da Eletroestimulação Analgésica na Fibromialgia: Estudo Pré-clínico em Ratos”.
“O prêmio representa um reconhecimento do nosso trabalho. É um estímulo para que continuemos investindo nosso tempo e esforço em novas pesquisas”, declarou a cientista.
A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC),
Helena Nader, entregou o prêmio a Josimari: “Feliz é o país que tem jovens que vão levar essa bandeira para a frente. Nós, os mais velhos, ficamos com a sensação de missão cumprida”. Confira aqui o trabalho e a história de Josimari.
A física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Ana Luiza Cardoso Pereira foi laureada devido ao projeto “Propriedades Eletrônicas e Efeitos de Desordem em Mono e em Multi-Camadas de Grafeno”.
Para a cientista, o prêmio gera um grande entusiasmo para dar continuidade à sua pesquisa. “Não entendo por que há poucas mulheres na física… eu amo o que faço”, comentou.
Quem entregou o prêmio a Ana Luiza foi a jornalista da TV Globo, Sonia Bridi: “Justamente na ciência, que é onde estão os melhores cérebros, os mais abertos, é tão difícil a entrada da mulher. Vocês são, portanto, desbravadoras, além de um exemplo para outras”.
Viviane Ribeiro Tomaz da Silva, matemática da UFMG, foi escolhida por seu projeto “*-Cocaracteres de M_
1,1(E)”. “Está aumentando o número de mulheres cientistas no Brasil. O que me moveu para esse caminho foi o desejo de ser professora e de contribuir com o ensino de matemática de qualidade”.
A representante do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Zélia Bianchini entregou o prêmio à cientista: “Ver a mulher sendo tão destacada nos emociona muito. É uma conquista significativa, pois chegar aqui não é simples”.
A química da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) Mariana Antunes Vieira foi uma das vencedoras por seu projeto “Desenvolvimento de Métodos para a Determinação de Contaminantes Inorgânicos em Glicerina obtida como Coproduto da Produção de Biodiesel”.
Seu interesse pela ciência começou cedo: “Na escola, tive um professor que fez os alunos decorarem toda a tabela periódica, e eu adorei fazer isso”. Para a pesquisadora, a sociedade chegou a um patamar em que não há mais uma diferença entre homem e mulher.
A atriz Ildi Silva entregou o prêmio a Mariana e afirmou ser um prazer estar enaltecendo as vencedoras: “Nossas profissões são semelhantes, pois ambas envolvem criatividade, persistência e paixão”.
Mariana Vieira também falou em nome de todas as vencedoras, lembrando os dois meses de expectativa pelos quais as cientistas passaram até aquele momento. “Todas nós sabemos os desafios que enfrentamos, as dúvidas e até mesmo a vontade de desistir, mas valeu a pena a persistência”, comentou. “O prêmio mostra que estamos no caminho certo e nos estimula a continuar investindo nas pesquisas, na formação de recursos humanos e, mais importante, no retorno à sociedade”.
Uma das vencedoras da edição passada, a bióloga Cristiane Matté, falou em nome das agraciadas de 2010: “Após um ano, vemos que muita coisa mudou. Os laboratórios ganharam vida e estão mais modernos. Nosso amor à pesquisa é o que continua igual. Laureadas de 2011, aproveitem esse caminho que é árduo, mas também fascinante”.
Outra vencedora de 2010, Bruna de Souza concorda: “O prêmio abriu muitas portas para mim dentro da universidade”. “Ele faz toda a diferença na carreira de uma cientista mulher”, complementa Kathia Honório, mais uma agraciada do ano passado. Lucimara Martins completava a lista das premiadas de 2010 presentes no evento: “O prêmio valoriza o trabalho do cientista, que é o que falta no Brasil”.