De que forma as modificações do meio ambiente agem sobre a respiração e as adaptações dos peixes da Amazônia? Esse foi o tema da palestra do vice-presidente da ABC para a região Norte Adalberto Val, biológo e diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), na 63° Reunião Anual da SBPC, que aconteceu entre os dias 11 e 15 de julho em Goiânia.

Val iniciou sua fala com uma breve revisão dos fatos relativos ao aquecimento global atual. Segundo o Acadêmico, retemos na atmosfera o calor que deveria se dissipar, através da emissão de CO2 na atmosfera. Este gás não seria o único responsável pelo fenômeno, mas é o mais importante, devido à sua quantidade. Analisando dados desde o surgimento da Terra, ele realtou que houve um período em que a pouca concentração de oxigênio e a alta concentração de CO2 eram predominantes – e foi exatamente nesse momento que surgiram todos os seres vivos do planeta. Depois, foi observada uma tendência à estabilização, até chegar aos níveis dos gases que conhecemos hoje.

O fato de, em algum momento, a concentração de CO2 ter sido extremamente alta, é dado fundamental para a pesquisa de Val, pois a hipótese levantada é a de que animais que se adaptaram para viver com baixo nível de oxigênio naquele período provavelmente desenvolveram também formas de sobreviver às altas concentrações de gás carbônico. Não existem estudos sobre esse fato, pois a maioria foca na possibilidade da extinção e não da adaptação. Nos laboratórios do INPA, Adalberto e sua equipe criam cenários ambientais e expõem a eles peixes, plantas, insetos e microrganismos, a fim de recuperar na informação contida no DNA uma expressão genética diferenciada que possa ser a chave para a adaptação às novas condições.

Os peixes de água doce da Amazônia foram escolhidos pela importância do rio e também pela biodiversidade única das espécies. Existem no mundo cerca de 1.400 espécies de peixes Characiformes, que são peixes com escamas, e 1.200 delas estão no rio Amazonas. Outro exemplo da rica biodiversidade regional são os peixes elétricos verdadeiros, que só são encontrados no rio Amazonas. “Os peixes estão definitivamente expostos, quando falamos de mudanças climáticas e alterações da interface aquática, a uma maior variação da exposição aos raios ultravioleta; a uma maior lixiviação, com sedimentos que saem do ambiente terrestre para o ambiente aquático; ao assoreamento de rios e lagos; a uma diminuição da disponibilidade de oxigênio eao aumento da temperatura, entre outros problemas causados pelas mudanças climáticas de uma maneira geral”, esclareceu Adalberto.

O biólogo aponta o fato de não nos darmos conta da importância da água e de que o Brasil possui 20% de toda água doce do mundo. “Quando falamos sobre a Amazônia, ela extrapola os limites nacionais. A mensagem que eu quero deixar em relação a isso é que a questão de como minimizar os impactos das mudanças climáticas envolve ações individuais, mas certamente precisamos ter uma grande ação global”.