A editora de Ciência do jornal O Globo, Ana Lúcia Azevedo, foi a ganhadora do Prêmio José Reis de Divulgação Científica, já em sua 31ª edição. Sua conferência, intitulada “Desenvolvimento, cultura e espetáculo: a cultura em jornal diário”, integrou o primeiro dia de atividades da
63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Goiânia. No dia anterior, 10/6, Ana Lúcia havia sido homenageada na sessão de abertura da Reunião, onde recebeu o prêmio das mãos do Acadêmico e presidente do CNPq
Glaucius Oliva e do ministro Aloizio Mercadante (veja a
matéria).
Segundo a editora, foi no ano de 2006 que a página de ciência entrou no Primeiro Caderno. “Na diagramação, nossas notícias estão sempre acima da dobra do meio do jornal, o que chama mais atenção e valoriza imensamente o nosso trabalho. Ter a ciência nas chamadas de primeira página é um prestígio muito grande, pois é o primeiro convite ao leitor”, explicou.
A laureada lembrou que a editoria possui, atualmente, uma página inteira por dia e uma equipe de sete profissionais, uma vitória que não foi fácil de alcançar. “Tínhamos meia página. Foi uma luta árdua convencer os editores que a ciência tinha espaço para crescer e, mais ainda, conteúdo a ser comunicado para os leitores do jornal”.
Cultura, desenvolvimento e espetáculo
Para Ana Lúcia, cultura, desenvolvimento e espetáculo são aspectos importantes para as notícias de ciência. “Temos que mostrar a ciência enquanto causa e consequência do desenvolvimento, a ciência como caracetrística cultural dos povos e a ciência enquanto espetáculo. A notícia tem que ter um pouco de cada um dos três pilares, pois precisamos atrair o leitor pelo equilíbrio. Não falamos para os cientistas e sim sobre cientistas”. A editora enfatizou o compromisso da editoria em tratar do tema de forma interessante e sedutora, já que o público que lê o jornal, na maioria das vezes, não é especializado.
Em sua experiência profissional, a editora descobriu que a graça de cobrir ciência é justamente ter em mãos um tema difícil e transformá-lo, de modo que o leitor mais leigo consiga entender de forma clara e correta. “As matérias não podem ter erro, pois temos a missão de divulgar para pessoas de todas as formações. A ciência que mostramos precisa ter uma linguagem que todos possam entender”. Complementando, Ana disse que divulgar ciência é importante para todas as camadas da sociedade, pois quem financia, consome e precisa de ciência necessita saber como funciona e o que acontece. “Quem paga a ciência no Brasil é a opinião pública, aqueles que pagam impostos. Escrevemos para eles”, afirmou.
A relação com o público
Como as matérias são muito lidas em escolas, existe um caráter educativo e lúdico por trás de todo esse trabalho. “Além disso, procuramos hoje mostrar o que está sendo feito no Brasil por pesquisadores brasileiros”, ressaltou a editora.
Ana Lúcia informou que a ciência é o segundo assunto do jornal mais lido pelo leitor jovem, que se encontra na faixa etária de até 40 anos. Segundo ela, existem assuntos que são mais retratados nos jornais, como biologia e a medicina. “Todos querem saber os avanços no que diz respeito à vida e à saúde”.
Nesse cenário, uma ferramenta que mudou a forma de fazer jornal foi a internet. “O público da área de ciência é mais jovem ainda na internet”, destacou a laureada. Devido a isso, a editoria pretende aprofundar mais no site assuntos como nanotecnologia, astrofísica, astronomia, mecânica quântica, entre outros, pois são áreas que interessam aos jovens internautas.
Um fator muito relevante na elaboração das matérias é a questão da imagem, pois é o primeiro contato do leitor com o texto. “Não são todas as vezes que conseguimos colocar foto, mas ajuda imensamente a lidar com o tema tratado, ilustra e, acima de tudo, humaniza a matéria, pois podemos colocar o rosto do pesquisador”, explicou a editora.
O papel do cientista
Concluindo, Ana Lúcia comentou que os cientistas estão mudando seu comportamento e redimensionando seu papel dentro da sociedade. “Eles estão compreendendo o quanto é importante transmitir para o público todo o conhecimento que eles produzem em suas pesquisas e laboratórios. O jornalismo científico depende do cientista e, por isso, é fundamental que ambas as partes dialoguem e se entendam, em prol da sociedade”.