O ministro de Ciência e Tecnologia (C&T), Aloizio Mercadante, abriu as palestras da 63ª Reunião Anual da SBPC, evento que vai até o dia 15 de julho em Goiânia. A presidente da SBPC e Acadêmica, Helena Nader, deu início à apresentação. Ela falou sobre a ExpoT&C, espaço de exposição e divulgação científica, com 135 estandes. Mercadante parabenizou-a pela exposição: “Houve um salto de qualidade, está muito bonito. Esse evento é importante para motivar os jovens para a pesquisa.”

A visão do economista

O ministro destacou a evolução econômica do Brasil: ” É bom voltar ao passado para ver como vamos vencer os desafios e crescer daqui para frente”. No início do século XX, a média de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) era de 4,6%. Com os investimentos e a reorganização do Estado brasileiro entre os anos 40 e 50, o mercado interno foi fortalecido e o setor produtivo se desenvolveu. Entre 51 e 80, o PIB cresceu 7,26%, mas passou por um período de decadência entre 61 e 70. Entre 1981 e 2002, passamos por um período de crise econômica, endividamento interno e externo e inflação, com o PIB crescendo a 2,1%. Já entre 2003 e 2010, o Plano Real contribuiu para a estabilidade e o Brasil voltou a crescer em um patamar de 4%.

Segundo Mercadante, as bases para o novo desenvolvimento são: o controle da inflação, que está dentro da meta desde 2004; a aceleração do crescimento baseada na expansão do mercado interno de consumo de massa; o planejamento estratégico; a consolidação do sistema público de financiamento do investimento; o bônus demográfico (a população economicamente ativa é maior que a inativa, e não temos o peso da idade avançada da população) e a consolidação da democracia.

Tecnologia para o desenvolvimento

Em relação à Tecnologia da Informação e Telecomunicação (TICs), o ministro afirmou que somos o sétimo mercado mundial e que o setor tem 8% de participação no PIB, mas o déficit comercial é de quase 19 bilhões de dólares. “Paralelamente, estamos trabalhando com o Ministério da Educação e outros ministérios para a inclusão digital nas escolas públicas, tanto em termos de software quanto de equipamentos”, declarou. Ele afirmou, ainda, que o tablet é o caminho para o futuro, pois é a biblioteca digital do aluno, garantindo mais agilidade.

Para Mercadante, o país não pode mais importar tantos produtos prontos. Ele falou sobre a Ceitec S.A., empresa pública federal ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), criada em 2008, com o objetivo de desenvolver a indústria de microeletrônica brasileira através da implantação de uma base sólida no setor de semicondutores. “Os semi-condutores são desenvolvidos em apenas 20 países. O Brasil precisa aprender a fazer e avançar nisso”.

O ministro disse que o país também precisa impulsionar o desenvolvimento de softwares livres e colaborativos nas universidades, nos institutos de pesquisa e empresas: “Evolução tecnológica não se dá só na área acadêmica e empresarial; hoje também acontece na web. Software livre desenvolve capacidade nacional e talentos. É um erro criminalizar esses movimentos que nascem da internet, pois a essência dela é a liberdade”. Aplaudido, ele complementou dizendo que é preciso diferenciar os criminosos da internet daqueles que estão participando de uma cultura livre. “Alguns desses hackers querem transparência na coisa pública. Quanto mais transparência, acesso livre e cidadania, menos desperdício e mais eficiência vamos ter”.

Inovação é fundamental para a autonomia do país

Ao referir-se ao déficit de 12 bilhões de dólares em fármacos, Mercadante alertou que avançamos muito pouco no setor biológico, de modo que o Brasil precisa ter mais apoio e foco para desenvolver a capacidade de produção nessa área. “O MCT está olhando com muita atenção essas cadeias. Queremos colocar Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) como eixo estruturante do desenvolvimento tecnológico, industrial e sustentável no país”.

Segundo o ministro, desenvolvendo a pesquisa e infra-estrutura científica e tecnológica e promovendo a inovação, se contribui para a erradicação da pobreza, redução das desigualdades sociais, inserção internacional e soberana do Brasil e fomento da economia verde e criativa. De acordo com Mercadante, estamos nos consolidando como a sétima economia do mundo, mas, para sermos a sexta ou a quinta, é preciso investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). “O Brasil tem que olhar para países como o Japão e a Alemanha, que investem muito em P&D – tanto o setor público quanto o privado. Nós temos pouco investimento privado nessa área.” O ministro disse que, para estimular o investimento por parte desse setor, é preciso criar uma cultura de inovação e haver uma política de incentivo fiscal. Ele também informou que o governo está conseguindo atrair centros de P&D para o Brasil, como GE e IBM, além de fortalecer parcerias internacionais: “Estamos vinculando pós-graduação e bolsas de pesquisa a instituições como o CERN [Laboratório Europeu de Física de Partículas] e o DESY [Síncrotron Alemão de Elétrons]. “

Investir em gente: o país precisa de profissionais qualificados

Já a formação de mestres e doutores aumentou bastante e as universidades federais estão mais descentralizadas. “Há dez anos, o Nordeste tinha 1,4% dos centros de pós-graduação, hoje tem quase 10%. Temos que desconcentrar e manter o esforço de manutenção da qualidade”, disse o ministro. No entanto, ele observou que, apesar da mudança qualitativa em relação à graduação, as Engenharias não avançaram no ritmo que o país precisa, “seja porque ficamos 20 anos sem demanda de engenheiros, seja porque agora estamos crescendo rápido demais, seja porque o aluno abandona o curso no início por causa da dificuldade”.

Ele também mencionou o Programa Ciência sem Fronteiras, cuja expectativa é conceder 75.800 bolsas nos próximos anos, especialmente para as Ciências Básicas, Engenharias e Exatas. “Queremos integrar as melhores universidades e centros de pesquisa do mundo e atrair jovens cientistas de grande talento, além de pesquisadores de liderança científica”. Mercadante afirmou que o Brasil, hoje, tem uma grande capacidade de atração, devido ao momento econômico, à democracia, à beleza do país, à Copa e às Olimpíadas.

Em relação às patentes, o ministro deu o exemplo da copaíba: “Somos o país com mais publicações sobre o óleo de copaíba nos últimos dez anos, mas os Estados Unidos são o país com mais patentes sobre o mesmo tema no mesmo período. Estão patenteando os nossos trabalhos”, alertou. Mercadante disse que é preciso simplificar o processo de patentes, que demora até sete ou oito anos para ser concluído. “Temos que deixar de perder renda e investir na inteligência do Brasil”, declarou.

O economista constatou a falta de pesquisadores e a necessidade de se aumentar a comunidade científica brasileira, admitindo que não é fácil ser cientista: “Tem que ser muito teimoso. Ele levanta uma hipótese e passa a vida toda tentando descobrir a verdade. Às vezes não descobre, mas sabe que alguém vai descobrir depois. É mais fácil largar a prancheta e ir para a empresa ganhar dinheiro”. Mercadante complementou dizendo que é preciso desenvolver uma política de comunicação em relação à ciência. “É necessário mudar a imagem de ciência e o reconhecimento à comunidade científica por parte da população. A sociedade tem que entender o papel que a ciência tem para resolver questões estratégicas”.

Exemplos de ações

Mercadante anunciou uma grande ampliação da rede de fibra ótica para suportar a demanda das universidades e centros de pesquisa em relação à conexão de internet. Segundo o ministro, o governo está investindo mais em áreas que são fundamentais para o desenvolvimento do país. Ele falou também sobre a avaliação dos INCTs, afirmando que aqueles que estão fazendo bem o respectivo trabalho receberão mais recursos: “Temos que saber quem está produzindo e cobrar resultados”.

O ministro também citou o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), cujo objetivo é fornecer alertas deflagrados por chuvas internas e/ou persistentes e desenvolver capacidade científica e tecnológica de inovação para continuamente aperfeiçoar os alertas de desastres naturais. “Agradeço ao Carlos Nobre, que tem se empenhado muito nesse trabalho. Vai continuar morrendo gente nas chuvas, ainda mais com o agravamento das alterações climáticas, mas também poderemos salvar muitas pessoas”, comentou.

Alertas para o país

Ele reiterou que o país não pode se acomodar e ser um grande exportador de commodities, pois esse setor já está encaminhado para as próximas décadas. O faturamento das commodities deve ser usado para desenvolver o setor de alta e média tecnologia. No que diz respeito à questão do pré-sal, Mercadante foi enfático: “Se não associarmos educação, C&T e meio ambiente à repartição dos royalties do petróleo, vamos cometer um grande erro. As futuras gerações não vão ter essa riqueza. É um compromisso com os nossos netos desenvolver uma economia do conhecimento”. O ministro alertou que os royalties devem ser usados para a construção de um Brasil pós-petróleo. “Jogar na máquina de pulverização dos estados e municípios é o maior erro”.