No dia 30 de junho, o cientista-chefe da IBM Brasil, Fábio Gandour, fez apresentação intitulada A Divisão de Pesquisa da IBM no Brasil – a construção de um laboratório de pesquisa no 2o Simpósio Academia-Empresa ABC/Faperj. Formado em Medicina pela Universidade de Brasília (UnB), Gandour disse que sempre incluía na grade do curso matérias de matemática, o que o fez seguir para a Ciência da Computação e obter o título de PhD na área pela Universidade de Stanford, nos EUA.

Segundo o cientista, é sua função apontar os itens da agenda técnica e científica que a Divisão de Pesquisa irá seguir. “Quando anunciaram que o laboratório viria para o país, as pessoas me perguntaram onde seria instalado e eu respondia: por enquanto, ele vai existir na cabeça das pessoas”, relatou.

Conduzindo um modelo de pesquisa que pratica o conceito da “ciência como negócio”, Gandour o explicou. ” A ciência como doutrina é aquela praticada por instituições e centros de ensino e pesquisa e justifica-se a si mesma: tem os seus dogmas, liturgia, credos”. Já a ciência como negócio tem que ser praticada de modo a produzir impactos positivos nos negócios de quem a financia. Enquanto a ciência como doutrina é financiada por órgãos públicos, doações, fundações, entre outros, a ciência como negócio é financiada por empresas. “Se a perspectiva de futuro de um projeto não é viável ou se o projeto começa a esfriar, as empresas perdem o interesse rapidamente”, explicou o cientista.

Criada há 86 anos, a Divisão de Pesquisa da IBM percorreu uma trajetória longa. Gandour relatou que passaram seis anos entre a primeira visão testada na corporação e sua idealização. “Posteriormente, a ideia virou projeto, e, por fim, execução”. O cientista brincou ao dizer que o primeiro desafio da IBM foi “vender o Brasil para gringo”. “Temos 15% do suprimento mundial de água potável e inúmeros outros atrativos. Precisei vender a ideia de que o Brasil era promissor para a aplicação do modelo de ciência como negócio”. Segundo ele, foi necessário listar as universidades que teoricamente seriam as principais fontes de “neurônios com qualidade”, entre elas a Unicamp, UFRJ, UFMG, USP e outros centros de excelência. Como método de atração, Gandour mostrou que essas universidades, constantes na listagem das melhores do mundo, estavam na frente de universidades estrangeiras. “Na lista que eu fiz, não importava a posição na qual a universidade se encontrava. Tudo o que eu precisava salientar aos estrangeiros era que ela estava na frente de muitas outras”, exlicou.

Durante a palestra, o cientista indagou aos presentes o porquê do doutorando americano ser mais caro que o brasileiro. “A infraestrutura de lá é muito sofisticada, os alunos têm um acesso à instrumentação muito maior que os brasileiros. Lá, a frequência de instrumentos de altíssima complexidade acontece em maior número que aqui”. Segundo ele, o fato de estarmos em um ambiente mais pobre em matéria de instrumentação faz com que os pós-graduandos tenham uma capacidade maior de abstração mental. “Os alunos brasileiros pensam o problema e o solucionam. Eu prefiro os que têm capacidade de abstração em vez de um aluno capaz de lidar apenas com instrumentação”, apontou.

No processo de expansão e globalização do laboratório de pesquisa, a IBM se deparou com um cenário de competição, o que a fez pedir ajuda à Finep para que conseguisse competir com as empresas internacionais. “Fomos muito bem recebidos”, ressaltou Gandour. Foi necessário avaliar quais as áreas que o laboratório deveria trabalhar, os atributos nacionais e as principais necessidades do país. “A tarefa mais trabalhosa e demorada foi selecionar os pilares de sustentação e construir a agenda de pesquisa. Demoramos entre 8 e 10 meses”, disse.

Em sua opinião, um laboratório leva em torno de 25 anos para produzir impacto suficiente até atingir um resultado global. “Temos que ter persistência, resistência e resiliência. O chão do Brasil é jovem, não é muito firme, mas eu tenho fé”, concluiu o cientista.