A arte na educação foi considerada, em passado recente, como atividade de lazer e recreação na escola. Um bom exemplo que ilustra essa concepção merece ser lembrado. Em 1972, quando Ana Mae Tavares Bastos Barbosa, considerada a grande pioneira da arte-educação, solicitou à Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento doPessoal de Ensino Superior) uma bolsa para a realização de seu mestrado no exterior e teve sua solicitação negada. A resposta foi negativa, pelo não reconhecimento da arte-educação como área de pesquisa.
Felizmente, os conceitos mudaram e hoje a pioneira é bolsista de produtividade em pesquisa, nível 1A, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). As ideias e pensamentos de Ana Barbosa foram fundamentais para a conceituação e importância das artes na educação. Em 1991, ela dizia: “Como a matemática, a história e as ciências, a arte tem domínio, uma linguagem e uma história. Se constitui num campo de estudos específicos e não apenas em meia atividade. A arte-educação é epistemologia da arte e, portanto, é a investigação dos modos como se aprende arte na educação infantil, no ensino fundamental e médio e no ensino superior. Talvez seja necessário para vencer o preconceito sacrificarmos a própria expressão arte-educação que serviu para identificar uma posição e vanguarda do ensino da arte contra o oficialismo da educação artística dos anos 1970 e 1980. Eliminemos a designação arte-educação e passemos a falar diretamente de ensino da arte e aprendizagem da arte sem eufemismos, ensino que tem de ser conceitualmente revisto na escola fundamental, nas universidades, nas escolas profissionalizantes, nos museus, nos centros culturais e a ser previsto nos projetos de politécnica que se anunciam”.
A arte é um importante trabalho educativo, pois procura, através das tendências individuais, amadurecer a formação do gosto, estimular a inteligência e contribuir para a formação da personalidade do indivíduo, sem ter como preocupação única e mais importante a formação de artistas. No seu trabalho criador, o indivíduo utiliza e aperfeiçoa processos que desenvolvem a percepção, a imaginação, a observação e o raciocínio. No processo de criação, ele pesquisa a própria emoção, liberta-se da tensão, ajusta-se, organiza pensamentos, sentimentos, sensações e forma hábitos de trabalho.
Sendo a escola o primeiro espaço formal onde se dá o desenvolvimento de cidadãos, nada melhor que por aí se dê o contato sistematizado com o universo artístico e suas diferentes linguagens: arte cênica, cinema, desenho, escultura, pintura, literatura, teatro, dança, música, etc. No entanto, a contemplação e a criatividade nas artes devem transcender o ambiente escolar. Além da expansão dos espaços culturais é importante que, em cada um deles, haja de forma permanente um espaço reservado para as crianças provido de material visual, ferramentas de interatividade, oficinas de pintura, artesanato, música, etc. A arte tem sido, tradicionalmente, uma parte importante nos programas da primeira infância.
Friedrich Froebel, o pai do jardim de infância, foi o primeiro educador a enfatizar o brinquedo e a atividade lúdica. Ele disseminou o conceito de que as crianças deveriam criar as próprias expressões artísticas e apreciar a arte criada por outros. No Distrito Federal existe um campo fértil para experiências pedagógicas que poderiam estimular os benéficos estímulos das artes no desenvolvimento das crianças. A parceria virtuosa que está se estabelecendo entre a Secretaria da Criança do GDF (Governo do Distrito Federal) e o Instituto de Artes da Universidade de Brasília (IDA/UnB) certamente será um instrumento importante no desenvolvimento integral de nossas crianças, que perpassam também pelo seu desenvolvimento cultural. É preciso apreciar, entender e estimular a criativade das crianças, ilustrada pela célebre frase de Pablo Picasso: “Precisei de toda uma existência para aprender a desenhar como as crianças”.