No dia 17 de junho, o diretor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) do MCT e Acadêmico Fernando Rizzo participou de uma mesa redonda com o tema “A Química no Cenário Nacional da Próxima Década”, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Coordenada e mediada pela professora Angela de Luca Rebello Wagner, a mesa fez parte de uma série de eventos organizados pela universidade dentro do Ano Internacional da Química (AIQ).
Também participaram como palestrantes o coordenador da área de Química da Capes e professor da Unicamp, Luiz Carlos Dias; o membro do Comitê Assessor de Química do CNPq e professor da UFRJ, Ricardo Santelli, a representante da Petrobras Maria Luisa Tristão; e o professor da PUC-Rio Reinaldo Calixto de Campos.
Rizzo deu início à mesa redonda apresentando o contexto atual da Ciência no mundo e afirmou que este campo de estudo está passando por uma globalização crescente. O Acadêmico informou alguns dados que exemplificam tal afirmação, como o de que, atualmente, o mundo engloba mais de sete milhões de pesquisadores. Ele também comentou que, em 2008, foram publicados 1,5 milhão de artigos científicos, sendo que um terço desse total foi resultante da cooperação internacional. A isso, Rizzo associou o fato de que a participação do Brasil, Rússia, Índia e China (BRICs) na Ciência está crescendo consideravelmente.
O palestrante falou sobre a nova geografia da Inovação, fazendo breves considerações: esta está ocorrendo em mais lugares, tratando de problemas globais e incluindo novos atores, os países emergentes. A Inovação também está se apresentando crescentemente multipolar e concentrada em alguns “hubs” (lugares que se tornaram centro de geração de conhecimento). Segundo Rizzo, alguns dos desafios globais relativos à Ciência são o crescimento populacional, a crise de energia, a falta de alimentos e água, as mudanças climáticas e a preservação ambiental. “Esses são problemas que a humanidade tem que cuidar”, alertou.
O Acadêmico também falou sobre a economia do conhecimento: “A produção de conhecimento é a mola propulsora para o crescimento e inovação”. Segundo Rizzo, só é possível trazer estabilidade econômica para um país se houver crescimento e, hoje em dia, o crescimento vem basicamente da inovação. Ele complementou que, para avançar, a pesquisa deve se situar na fronteira do conhecimento, estando em contato com todos os campos: “Ela deve ser interdisciplinar. A cooperação internacional tem um grande papel no aperfeiçoamento da pesquisa. Devemos buscar a colaboração em redes”.
Já o palestrante Luiz Carlos Dias apresentou um panorama da pós-graduação em Química no Brasil a partir da avaliação trienal 2007-2009 da Capes. Ele comentou que, no geral, ocorre um crescimento da especialização nessa área, mas informou que os programas de pós-graduação em Química estão centrados no Sudeste e Sul, denotando uma necessidade de descentralização e “popularização de Ciência em outras regiões”. De acordo com o professor, cerca de 60% da produção científica nacional é oriunda de sete universidades, sendo quatro delas paulistas.
Dias também disse que um dos objetivos da Capes é aumentar o número de programas da área de Química com notas 6 e 7 (os conceitos mais altos de acordo com a avaliação da pós-graduação feita pela instituição). “Hoje, sete programas têm conceito 7 e três têm conceito 6, sendo que todos esses estão apenas na região Sudeste e Sul”. Dias explicou as regras básicas para a atribuição de conceito ou nota no curso e disse que, para adquirir conceito 6 ou 7, o programa deve cumprir uma série de exigências rigorosas: “Programas 6 e 7 devem estar no nível de alguns dos melhores do mundo”.
No entanto, o palestrante mostrou que, no triênio 2007-09, houve um aumento de 26% de mestres formados por ano em relação ao triênio 04-06. O índice de doutores formados por ano cresceu 19% no mesmo período. “A maior parte dos mestres e doutores formados segue a carreira acadêmica”, acrescentou.
Dias concluiu dizendo que, para o crescimento da área, deve-se atrair estudantes do exterior e também enviar os nossos para lá, analisar a qualidade na formação de mestres e doutores, estimular disciplinas voltadas ao empreendedorismo, valorizar egressos da pós-graduação que seguem para o setor industrial e aprimorar parcerias, incentivando participações em redes como os INCTs.
Luiz Carlos Dias, Maria Luisa Tristão, Angela de Luca, Reinaldo Calixto, Fernando Rizzo e Ricardo Santelli
O professor da UFRJ Ricardo Santelli falou rapidamente sobre a formação de estudantes em Ciência. Segundo ele, algumas coisas estão sendo deixadas de lado na pós-graduação e na graduação. “Estamos deixando de formar o aluno no sentido da Ciência fundamental”, comentou. “Tenho sentido que os conhecimentos científicos estão escasseando, ao contrário do vemos na Ciência, onde o conhecimento tem aumentado enormemente”.
O palestrante afirmou que, na graduação, se encontra alunos muito despreparados e, como esta alimenta a pós-graduação, o estudante formado chega defasado à especialização. Santelli complementou sua declaração dizendo que “o País trata muito mal a educação”. De acordo com dados do Ministério da Educação, um professor ganha 60% do que ganharia na sua profissão se não atuasse no Magistério. “Ninguém quer ser professor. A criança não aprende, o jovem não aprende e essa sequência continua. Não estamos com um nível bom e nós, da Academia, precisamos pensar nessas coisas”.
Santelli também falou sobre a dificuldade de se produzir mudanças: “Em uma universidade, levamos anos e anos para mudar o currículo. É uma das instituições mais conservadores que existem”. Ele mencionou, ainda, a Inovação. “Todo mundo considera essa questão importante, a Capes, o CNPq, as universidades, mas ninguém sabe fazer isso. Precisamos perder essa inércia.”
A representante da Petrobras Maria Luisa Tristão comentou a atuação da empresa relacionada ao tema discutido, fazendo uma associação entre o crescimento acelerado da produção de petróleo no pré-sal e a questão da Química no Brasil. Segundo ela, o direcionamento da Petrobras para tecnologia envolve, principalmente, acelerar o desenvolvimento tecnológico, ampliar a capacidade nacional e atuar em rede.
De acordo com a palestrante, essa ação é suportada em três grandes eixos: a expansão dos limites, a sustentabilidade e a agregação de valor e diversificação dos produtos. Maria Luisa afirmou que uma participação especial nesse processo é o da universidade, que pode ter papel importante na indústria. Ela enfatizou a questão da parceria, enfatizada pelos outros palestrantes, indagando se esta não poderia constituir um novo modelo de integração: “Será que não é para a gente repensar tudo?”.
O professor do Departamento de Química da PUC-Rio Reinaldo Calixto afirmou que, a princípio, a participação da Química na divulgação científica para o grande público é muito pequena em relação a outras áreas. “Tem muito artigo de meio ambiente, nanomateriais etc. Mas todas essas áreas contêm a Química, então, de certa maneira, ela está presente”.
O professor buscou apresentar rapidamente uma “futurologia do Agora”. Segundo Calixto, o pesquisador do futuro não deve fazer Ciência “velha”, deve olhar para os lados, não ficando limitado a si próprio, ter cultura científica e trânsito em outras áreas, precisa fazer interconexões e trabalhar em (hiper) equipes, ter capacidade discriminativa e perceber oportunidades.
“O cientista tem que interagir com outras áreas, não basta saber muito sobre aquele pontinho que é o seu campo. Ninguém vai fazer nada sozinho fechado no seu laboratório”, declarou o professor, defendendo a interdisciplinaridade. “É preciso saber discriminar a informação que é do seu interesse”. Reinaldo Calixto citou, por fim, uma afirmação do cientista James Watson: “Afinal de contas, a vida é simplesmente uma questão de Química.”