Curiosidade e perseverança. Paixão, dedicação e compromisso. Para Emiliano Medei, essas são as principais características de um bom cientista.

Nascido na Argentina e filho único, Medei diz que desde criança sabia que iria fazer pesquisa. A vocação foi estimulada pelos pais, que lhe deram aos nove anos um kit de Química, presente que se tornou um grande companheiro.

Vários membros da família de seu pai eram médicos, o que seguramente influenciou sua escolha profissional. Mas foi na Universidade de Buenos Aires, onde graduou-se em Medicina, que despertou para a pesquisa. Convivendo naquele ambiente rico, começou a fazer perguntas e a necessidade de obter respostas o levou a querer buscar mais conhecimento. “De repente percebi que estava completamente envolvido com a pesquisa e que minha vida seria dedicada à ciência”, conta Medei.

A construção da carreira

No ano que antecedeu a entrada na universidade Medei fez um curso de eletrocardiografia, já impulsionado pela paixão pela cardiologia. No segundo ano da universidade, estagiou no Laboratório de Eletrofisiologia Cardíaca do Hospital Ramos Mejia, em Buenos Aires, fundado pelo Dr. Mauricio Rosenbaum e o Dr. Marcelo Vitor Elizari, grandes mestres da eletrofisiologia cardíaca mundial. Nessa época, adquiriu os primeiros conhecimentos de eletrofisiologia cardíaca com o Dr. Serge Sicouri, que chefiava o laboratório e a quem Medei reconhece como influência marcante em sua carreira.

Quando concluiu a graduação, foi convidado pelo Acadêmico Antonio Carlos Campos de Carvalho para realizar o doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o que aceitou de bom grado, pois estaria num laboratório fundado por outro ícone da eletrofisiologia mundial, o Acadêmico Antonio Paes de Carvalho. “Ele e o Prof. José Nascimento foram muito influentes na minha formação pessoal e profissional, durante o doutorado e ainda hoje”, ressalta Medei.

Nessa época, Medei confessa que não foi fácil deixar os pais na Argentina, mas persistiu porque seria por uma boa causa. “Eles sabiam da minha paixão e me apoiaram incondicionalmente”, conta o cientista. A mudança de país, de hábitos e costumes, que de início parecia assustadora, foi leve e natural. O carinho da recepção no laboratório ajudou basante, segundo Medei. “”Sou muito grato às pessoas que me acolheram até passar na prova de ingresso no doutorado, com quem ainda mantenho grande amizade. Todos contribuíram para minha adaptação”. O pesquisador conta que passou pela casa de quase todos os professores do Laboratório e que guarda as melhores lembranças de cada uma das famílias que o receberam.

À medida que o tampo ia passando, a ideia de viver no Brasil e continuar no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF) foi se tornando cada vez mais sólida. E tudo parecia conspirar para que isso acontecesse. Em 2004 conheceu Fernanda, que tornou-se sua esposa. “Ela me deu muito apoio, tanto na vida pessoal como na profissional. É uma grande companheira”, diz Medei. E a convivência com o pessoal do Laboratório do IBCC/UFRJ, ambiente científico e acadêmico privilegiado, reiteraram a decisão de ficar por aqui.

Foi convidado então pela Dra. Coeli Lopes para realizar um pós-doutorado na Universidade de Rochester, no EUA,onde aperfeiçoou seus conhecimentos no campo da eletrofisiologia e sinalização intracelular nas células cardíacas. Ao voltar, em 2009, foi aprovado em concurso para Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em Xerém. Dentre suas atividades na universidade, atua como colaborador do Dr. Serge Sicouri, que trabalha atualmente no Masonic Medical Research Laboratory (Nova Iorque, EUA), realizando a caracterização eletrofisiológica de cardiomiócitos derivados das chamadas células-tronco pluripotentes humanas induzidas (iPSCs – do inglês induced Pluripotent Stem Cells).

Suas linhas de pesquisa

As linhas de pesquisa em que Medei está envolvido estão relacionadas com o funcionamento do coração. Neste contexto, estuda todos os componentes que contribuem para que os batimentos cardíacos aconteçam de forma rítmica e sincronizada (eletrofisiologia cardíaca).

Também trabalha em pesquisas que envolvem a utilização de células-tronco como ferramenta para reparar o coração em situações de doença. As células-tronco são aquelas células que têm a capacidade de se diferenciaar e auto-renovar. Medei está participando da caracterização de células do coração a partir de células da pele. “Conseguimos reprogramar uma célula adulta e diferenciá-la em células cardíacas. Estas são chamadas de células-tronco induzíveis”, explica o Acadêmico.

Para isto, se introduzem genes específicos em células adultas de pele, fazendo com que essas célulasvoltem a ter capacidade de dar origem a qualquer outra célula do corpo. “Estas células possuem muitas vantagens em relação a outras células-tronco”, explica Medei, ressaltando o fato de não apresentarem rejeição, por serem obtidas do próprio paciente. Podem ainda ser utilizadas para prognóstico e diagnóstico em diferentes doenças genéticas. “Numa perspectiva de futuro, podemos pensar em desenvolver drogas personalizadas, conforme a demanda de cada paciente.”

Ser nomeado Membro Afiliado da ABC foi para Medei uma honra. “Como cientista, ter este reconhecimento dado pelos pares nesta etapa da carreira me coloca na obrigação moral de contribuir com esta instituição de excelência. Gostaria não somente de apoiar as atividades já existentes, mas de criar novas atividades que aproximassem ainda mais a ABC da sociedade e dos cientistas.”