Na manhã do dia 3/5, o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Acadêmico Glaucius Oliva abriu a agenda da Reunião Magna 2011 da ABC. Segundo Oliva, a ocasião foi uma oportunidade única para refletir sobre o quadro atual da ciência brasileira e as perspectivas para o futuro, abordando os 60 anos do CNPq, completados este ano.
Oliva lembrou que o CNPq foi criado em 1951 visando três ações básicas: oferecer bolsas no exterior para estudantes brasileiros se capacitarem em países com melhores condições; incentivar a pesquisa científica através de programas de bolsas para alunos e professores universitários e promover a iniciação científica, visando o estímulo aos jovens iniciantes na área da ciência.
A proposta inicial ganhou porte. Segundo Oliva, atualmente o CNPq oferece mais de 11 mil bolsas de mestrado e quase 10 mil de doutorado. Além disso, mantém 1.700 bolsistas de pós-doutorado, 46 mil bolsas nas modalidades de iniciação científica e de iniciação científica júnior para jovens de ensino médio. Infelizmente, segundo Oliva, o número de bolsas no exterior atualmente é pequeno comparado ao de algumas décadas atrás: 500 contra um pouco mais de 5.000 há alguns anos. Em 2010, foram investidos R$1,85 bilhões de reais diretamente em bolsas e fomento à pesquisa.
Oliva também deu importante destaque para a Plataforma Lattes, com seus 1,9 milhões de currículos registrados. “Nos Estados Unidos, por exemplo, não se consegue formar um sistema nacional de dados que tenha a aderência dos pesquisadores de lá como é o caso em nosso país. A Plataforma Lattes é um exemplo para a comunidade científica internacional, devido à sua pujança e pelo fato de ser diariamente atualizada”, destacou.
Segundo Oliva, o CNPq é a agência federal através da qual outros ministérios encaminham seus recursos para investimentos em C&T. “Por exemplo, o Ministério da Saúde, com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) e com seus investimentos no fomento à pesquisa na área da saúde brasileira, canaliza esses recursos através do CNPq, que, então, promove editais, faz convênios com estados para projetos que são realizados em parceria e oferece bolsas. Esses são os instrumentos que temos e que disponibilizamos aos outros ministérios para que ações efetivas dentro da área possam ser executadas”, explicou Oliva.
Desafios a serem enfrentados
De acordo com Oliva, um desafio a ser vencido é o da qualidade, com relação ao impacto do conhecimento científico produzido no país. “Embora tenhamos grupos de excelência e pesquisadores de altíssimo nível, a média nacional, em termos de relevância de conteúdo produzido e aproximação com o conhecimento de outros países, ainda é muito baixa”, explicou.
Segundo ele, o tempo gasto por um cientista no momento da formulação da pergunta científica, o engajamento que ele passa aos seus alunos, a qualidade das questões por ele levantadas, entre outros, fazem toda a diferença. “Considero importante reestruturar o sistema de avaliação dos projetos de pesquisa, que delineia o resultado da produção científica do país. Assim valorizamos a qualidade e incentivamos o foco da pesquisa em inovação, em tecnologia de ponta, itens tão valorizados lá fora”.
Outro desafio levantado por Oliva é o envolvimento dos cientistas brasileiros com a educação básica, assim como com a comunicação e a popularização da ciência. “Levar a ciência para o cotidiano do cidadão não deve ficar somente por conta dos jornalistas da área. A prática da divulgação científica deve ser vista como uma missão de todos.”
A internacionalização da ciência brasileira, nas palavras de Oliva, depende do engajamento interno, para que sejam incentivadas as bolsas no exterior. “O futuro exige ousar e, para ousar, temos que olhar o que o mundo está fazendo em relação à ciência”, acrescentou o Acadêmico.
Metas para 2011-2014
Dentro das prioridades citadas pelo seu presidente, a instituição visa dobrar o orçamento no período em questão, com o objetivo de contribuir para o crescimento da ciência que vem sendo realizada no país, e aumentar o número de bolsas no exterior. “A presidente Dilma Rousseff falou em 100.000 bolsas no exterior até 2014, 75.000 do governo e 25.000 da indústria, o que nos coloca um desafio extraordinário, mas muito necessário. Esse número contemplaria alunos de graduação e pós-graduação”, salientou.
Outro exemplo seria o novo programa de atração de jovens talentos do exterior, em parceria com a Capes e a ABC, seguindo um modelo de sucesso implantado no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), assim como o novo programa nacional de estímulo à formação de engenheiros, em parceria com a Capes e a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Veja a apresentação em Power Point do presidente do CNPq Glaucius Oliva.