O presidente da Finep, Glauco Arbix, fez uma apresentação em 3/5 na Reunião Magna da ABC, para um auditório lotado. A partir do tema “A Nova Finep”, o sociólogo comentou as principais propostas da sua gestão na instituição, mostrou dados relativos aos avanços brasileiros na área de ciência e tecnologia (C&T) e pesquisa e desenvolvimento (P&D), enfatizando a urgência de investimentos na área de inovação.
Arbix declarou que um de seus objetivos é aumentar a eficiência das ações da Finep, de modo a potencializar os recursos de quatro bilhões de reais de que dispõe atualmente. No entanto, o presidente do órgão disse que o ideal seria que a Finep tivesse condições de investir de 30 a 40 bilhões de reais, não apenas quatro, e que pretende contribuir para tornar isso possível em 10 ou 15 anos. “Mas não é apenas uma questão de vontade”, completou.
Inovação deve orientar investimento
Segundo Arbix, a inovação se tornou uma agenda prioritária de políticas permanentes de estado a partir de 2003. “Antes, ela aparecia apenas de vez em quando nas discussões”. Investir em inovação, no seu entendimento, significa produzir estímulos para tal: financiamento adequado, menos burocracia, mão-de-obra qualificada, entre outros aspectos. De fato, a economia brasileira hoje ainda é pouco inovadora. “Não há estímulos suficientes para que a inovação seja uma área atraente, o que dificulta o avanço do país. Inovação no Brasil não é uma escolha, é necessidade”, afirmou.
O presidente da Finep reiterou que a questão da inovação no Brasil deve ser entendida por todos, sejam universitários ou cientistas nos centros de pesquisa: “Temos a obrigação de repensar e reorientar o nosso investimento se quisermos ter futuro”. Ele comentou que, em países mais avançados tecnologicamente, a inovação desponta como o principal fator a orientar e sustentar todo o desenvolvimento econômico e social, o que deve ser um exemplo para o Brasil.
Arbix afirmou que, ainda assim, o ambiente é muito mais favorável a avançar atualmente. “Esse aspecto da inovação se disseminou, se popularizou, é um debate que está presente, mas cada um entende de um modo diferente”, disse. Para Glauco Arbix, o assunto deve ser pauta tanto para o governo quanto para as empresas: “o Brasil vive um momento especial para avançar, mas o avanço não é automático”.
Estímulo que vem de fora
De acordo com o sociólogo, a pressão sobre a economia brasileira, empresas e universidades aumentou e aumenta a cada dia, o que é um dos motivos para esse avanço recente. Glauco Arbix informou que parte dessa pressão vem de parceiros como a China e a Índia, que avançaram mais que o Brasil. Em um dos gráficos apresentados, o palestrante mostrou que a trajetória científica e tecnológica brasileira avançou, mas ainda é muito tênue se comparada com a dos dois países. “Nós estamos em um meio termo. Se vamos ser atropelados pelos países que estão atrás de nós ou se vamos dar um salto, ainda é uma interrogação”.
Ele afirmou, no entanto, que o país não pode se limitar a atuar apenas como um produtor de commodities, mesmo em se tratando de casos promissores como o pré-sal, a mineração e o etanol. “Somos altamente competitivos nesse ramo”, comentou. “Mas se não evoluirmos e integrarmos às cadeias produtivas aquele tipo de atividade que permite avanço, de modo a aumentar a competitividade do Brasil, esse futuro de que tanto falamos estará cada vez mais distante”. Segundo o presidente da Finep, para avançar nas questões ligadas ao petróleo e ao pré-sal, é preciso que, justamente, se avance em tecnologia.
Glauco Arbix ressaltou a questão da sustentabilidade do crescimento, que depende do processo de diversificação das empresas. Afirmou que isso se dá a partir da ampliação de suas competências – e que esse é um dos principais desafios da economia brasileira. No entanto, a seu ver, o Brasil é diferente da média dos países em desenvolvimento. “O estado de São Paulo, por exemplo, produz mais artigos científicos do que toda a América Latina junta. Por isso as perspectivas de futuro são mais fortes para nós”, afirmou.
Incentivo à P&D nas empresas e universidades
Arbix apresentou dados relativos aos investimentos e progressos em CT&I no Brasil e informou que os avanços são muito significativos nas áreas acadêmica e empresarial, mas que faltam investimentos em P&D. “Fomentar a pesquisa e desenvolvimento nas empresas e universidades pode ser o elemento deflagrador de um ciclo altamente novo na história do Brasil”. Apesar do investimento nesta área estar crescendo no Brasil, ainda é pouco. “Nos países avançados, mais de 70% dos dispêndios são realizados pelas empresas. O setor é protagonista nesse quesito”, comparou Glauco Arbix. “Já a taxa de inovação brasileira está quase parada – esse é o principal problema do país”.
Ele explicou que existem três regimes de C&T. No primeiro, a infra-estrutura é incapaz de alimentar a produção de tecnologia; no segundo, a produção científica pode determinar parte da produção tecnológica, mas não ao ponto de viabilizar um efeito retro-alimentador sobre a mesma; e no terceiro, as conexões e interações estão estabelecidas e o principal determinante do crescimento econômico é a capacitação científica e tecnológica, que atuam como suporte permanente para a inovação.
O Brasil se encontra atualmente no segundo estágio. O problema geral, de acordo com o sociólogo, não é que não avançamos, mas que os outros países avançam junto conosco. “Hoje, nós publicamos mais artigos científicos, formamos muito mais doutores, mas não estamos sozinhos no mundo”, afirmou. “Temos que discutir a distância que estamos da fronteira, pois ela também avança”.
Por fim, o presidente resumiu o que pretende que seja a nova Finep: uma instituição que vai buscar melhorar a qualidade de investimento em CT&I, além de focalizar, priorizar e aumentar os investimentos para otimizar procedimentos, e oferecer transparência e uma gestão eficaz.
Veja o final do debate, após a palestra na ABC