Nos dias 11 e 12 de abril, aconteceu na ABC o II Simpósio de Empreendedorismo em Biotecnologia, organizado por uma parceria entre o Instituto de Bioquímica Médica (IBqM), o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e o Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foram discutidos, em palestras e mesas-redondas, o panorama da biotecnologia no Brasil, os desafios da área e a inserção dos jovens profissionais no mercado de trabalho.

O público-alvo era composto por alunos de graduação e pós-graduação. O objetivo era disseminar a Biotecnologia e estimular nos estudantes a opção de tornar-se, mais do que um pesquisador da área, um empreendedor. Entre os palestrantes convidados estavam profissionais experientes preocupados em motivar o público jovem para aquela área de atuação, assim como investidores, que demonstraram um interesse real em incentivar o empreendedorismo em biotecnologia no país.

“Os pesquisadores das universidades em geral apresentam uma certa resistência em transformar suas pesquisas em produtos”, explicaram as mestrandas Cecília Cudischevitch e Ana Beatriz Barletta, colaboradoras da organização do evento. “Quisemos mostrar novos caminhos aos jovens que estão ingressando na Ciência, defendendo a produção não só de publicações científicas, mas na transformação de seus conhecimentos em produtos de fato.”

Segundo o professor do IBqM Aurélio Graça-Souza (foto ao lado), responsável pela realização do evento, o número de doutores absorvidos pela iniciativa privada ainda é muito pequeno. “Precisamos de muito mais gente para conseguir o adensamento tecnológico no setor produtivo que tanto desejamos”. Nesse sentido, a avaliação do evento foi bastante positiva. “Muitos alunos de graduação se inscreveram no simpósio, demonstrando um real interesse por novas áreas”, afirmou Débora Moretti, outra mestranda envolvida na organização.

As palestras trataram de temas diversos, como biotecnologia e inovação em saúde, inovação na indústria farmacêutica, as dificuldades no financiamento da biotecnologia, os desafios e perspectivas dos Núcleos de Inovação Tecnológica das universidades, oportunidades em biotecnologia na interação academia-empresa e a inserção do recém-doutor no mercado de trabalho. O representante do BNDES Pedro Palmeira falou sobre as oportunidades e desafios para a biotecnologia em saúde no Brasil, na visão do Banco. Clique aqui para ver a programação do simpósio

O vínculo com a ABC foi marcado pela apresentação da professora do ICB Daniela Uziel (foto ao lado), da Empresa-Júnior Antônio Paes de Carvalho, nome do médico e Acadêmico fundador da Extracta, criada em 1998. Segundo ela, o Acadêmico hesitou um pouco em aceitar a homenagem, mas autorizou o uso de seu nome. “Reconhecemos nele uma figura extremamente importante para a biotecnologia no Brasil. Além de ser um empreendedor, o Prof. Paes de Carvalho tinha uma visão muito à frente do seu tempo, pois há 30 anos ele já falava sobre o assunto”.

Daniela explicou o processo de criação de uma Empresa-Júnior, que precisa ser aprovado em todas as instâncias universitárias. “Começamos em agosto de 2010 e em março de 2011 a Empresa-Júnior passou a ter CNPJ, tendo sido então registrada efetivamente como empresa”. No momento, o empreendimento apresenta três linhas de produtos: anticorpos policlonais, usados para pesquisa científica; lâminas, para serem usadas nos laboratórios pelos cursos de graduação, e peças platinadas, utilizadas em experimentos nas escolas.

Para Daniela, que também é professora e pesquisadora da UFRJ, a procura dos estudantes pelo mundo científico é promissora. “A participação de jovens na Ciência tem crescido bastante, eles estão atentos, lêem jornal no ensino médio, se interessam pelas novidades. E nós, na universidade, fazemos a nossa parte, procurando chamar a atenção deles e atraí-los para essa área”.

A pesquisadora afirmou que as perspectivas para a biotecnologia no Brasil são bastante favoráveis atualmente. “A área está crescendo muito, há muitas oportunidades. Eu não seria leviana de motivar os estudantes para essa área se ela não fosse promissora. Jamais fecharia os horizontes do aluno ao invés de abri-los”. O professor Graça-Souza concorda. “Com instrumentos de financiamento primordialmente governamentais e os marcos regulatórios recentes, o setor está sendo estimulado como nunca foi”.

Ele afirmou que a possibilidade cada vez maior de interação entre academia e empresas, apresentada no simpósio, agradou aos jovens. “A julgar pela média de idade da audiência e a avalanche de perguntas, me parece que o tema é de extremo interesse”, concluiu, satisfeito.

O Acadêmico Antônio Paes de Carvalho comentou que o desenvolvimento da biotecnologia no Brasil é muito recente. “Estamos progredindo razoavelmente bem, mas ainda é algo muito incipiente”, disse. “Somos muito fortes em biotecnologia clássica, que trata das experimentações industriais, da agricultura etc”.

O Acadêmico acredita no potencial das Empresas-Júnior como a de Daniela: “Iniciativas como essa, que têm por trás cientistas com total conhecimento deste tipo de trabalho, são capazes de levar a realidade comercial a produtos de biotecnologia avançada em curto prazo”.

Segundo Paes de Carvalho, falta, no Brasil, uma maior dedicação financeira para que o ramo cresça. “É preciso investir nessas pequenas empresas para que elas tenham um futuro brilhante, como nos Estados Unidos. Estamos extremamente tímidos em investimentos na área biotecnológica”.

Ele disse que, para passar da fase de Pesquisa e Desenvolvimento para aquela em que a empresa coloca produtos no mercado, são necessários infraestrutura, tecnologia de alto nível e capacitação de profissionais, e o Brasil ainda não está conseguindo fazer isso. “O capital privado está acostumado a investir em shoppings centers, não em tecnologia avançada”, criticou.