O interesse de Diego Bonatto por Ciências começou desde cedo. Ele se lembra de uma enciclopédia do pai chamada Tecnirama, voltada para as Ciências Exatas e Biológicas. “Eu ficava horas lendo a enciclopédia. O que mais me encantava eram as ilustrações, que eram fantásticas”. Este interesse precoce o levou a livros mais específicos nas áreas de Química, Astronomia e Biologia, assim como os livros de divulgação científica do Isaac Asimov e a série “Cosmos”, do Carl Sagan. Também tem recordações de “kits” de química que adorava e de uma luneta, com a qual passava horas a fio olhando para o céu.
Mas o registro mais marcante em sua memória ocorreu no ensino médio: um livro de Bioquímica, da Fundação Calouste Gulbenkian. “Eu gostava de Química e o mero fato daquelas reações estarem ocorrendo em um organismo vivo fez com que eu me voltasse de forma intensa para a Biologia”, conta Diego, que prestou vestibular na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e entrou para o curso de Ciências Biológicas.
Já no primeiro mês de aulas procurou algum orientador na área de Bioquímica e foi fazer iniciação científica (IC) com Magdolna Hamp, professora de Bioquímica Vegetal, que lhe ensinou as bases fundamentais de cromatografia de coluna para a separação de lectinas vegetais. Mais adiante, soube que o Acadêmico João Antonio Pêgas Henriques, do Centro de Biotecnologia, estava procurando um aluno de IC para trabalhar com reparação de DNA e estresse oxidativo usando leveduras como modelo. Diego conseguiu a vaga e permaneceu no mesmo laboratório da iniciação científica até o doutorado, na área de Biologia Celular e Molecular. “É claro que o tema da pesquisa mudou durante esse percurso, mas estes estágios me proporcionaram uma visão muito ampla de como a Ciência funciona de uma forma geral.”
Fascínio pela área de pesquisa
Diego travou contato com a área de Bioinformática na iniciação científica. Na época, este campo de pesquisas estava se iniciando no Brasil e foi fortalecido com os diferentes projetos de sequenciamento de DNA que estavam surgindo na época. Ele sempre gostoude ver a relação de “parentesco” – chamada de filogenia – entre moléculas de proteína e de DNA. Esta relação possibilita analisar moléculas de função ainda desconhecida e atribuir uma função a elas.
Como qualquer análise de Bioinformática, os dados são analisados por programas específicos que mostram o quão similares são duas ou mais moléculas. “Este conhecimento prévio serviu de base para o meu projeto de doutorado, no qual analisei um grupo de proteínas importantes para a manutenção e correção de erros no DNA de diferentes organismos”, relata o pesquisador. Entretanto, após o doutorado e então professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Diego conheceu um campo de pesquisas, também muito novo no Brasil e recente em outros países: a Biologia de Sistemas, hoje uma das suas linhas de trabalho principais.
A Biologia de Sistemas tem como base a análise de redes, que mostra a interação entre os elementos constituintes de um organismo – de uma rede social, de uma rede de computadores, etc. As redes biológicas – fascinantes, para Diego – mostram como todos os componentes celulares (proteínas, DNA, RNA, pequenas moléculas) precisam interagir entre si para que a célula possa manter a sua integridade e responder aos sinais vindos do ambiente, como presença de nutrientes, fontes de calor, frio, toxinas, entre outros. “Estas interações compõem o que definimos como Vida”, explica Diego.
O estudo destas redes de interação possibilita compreender a vida em sua complexidade e tem implicações mais profundas, de ordem prática, como é o caso dos tumores, por exemplo. “Se nós conhecemos como os diferentes componentes de uma célula tumoral interagem entre si, quais são os elementos mais importantes da rede, como estão organizados, é possível criar terapias mais direcionadas ao tumor, preservando as células sadias do organismo – ou seja, terapias menos tóxicas”, destaca, entusiasmado, o cientista.
Diego observa que também é possível usar a Biologia de Sistemas para entender fenômenos biológicos pouco conhecidos e de implicações socioeconômicas grandes, como é o caso do envelhecimento. Graças aos avanços na Medicina, nas políticas sociais e na Economia, a população mundial está cada vez mais velha e a incidência de inúmeras doenças conhecidas como “doenças da velhice” estão aumentando, como diabetes e doenças neurodegenerativas (Alzheimer e Parkinson). O pesquisador acrescenta: “Compreender como os elementos celulares interagem entre si, na forma de redes, durante o envelhecimento de uma célula, pode nos dar uma ideia da dinâmica deste processo.”
Para ser um bom cientista é preciso…
Ele avalia que essa área requer um conhecimento profundo de Biologia e, acima de tudo, disciplina e persistência para analisar os dados. Por isso, considera que as principais qualidades de um pesquisador nesta área – e nas Ciências em geral – são a persistência, a disposição para encarar trabalho pesado e ficar antenado, para estar sempre atualizado sobre o seu campo.
Mas, para Bonatto, o cientista ou o candidato a cientista tem que ter paixão pelo que faz e adorar a Ciência. “Sendo assim, vai se divertir fazendo pesquisas e orientando pessoas que também são apaixonadas pelo que fazem”. Para os que amam a Ciência e ainda não escolheram um campo de pesquisas, ele recomenda que experimentem. “Façam estágios em diferentes laboratórios, leiam a respeito dos assuntos que lhes
interessam. A experimentação auxilia muito na escolha do campo de pesquisas”, orienta.
Ele atribui ao Prof. Henriques a forma como vê a Ciência hoje. “Precisa ser honesta, estruturada, diplomática e, acima de tudo, divertida para quem a tem como filosofia de vida.”
Paixão trouxe realizações e reconhecimento
Bonatto atuou como professor titular da Universidade de Caxias do Sul no período de 2005 até 2009. Atualmente, é professor adjunto da UFRGS e consultor ad-hoc da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). É Membro da The Genetics Society of America (GSA), da International Society for Computational Biology (ISCB), da Society for Molecular Biology and Evolution (SMBE) e da The International Society for Systems Biology.
O novo Acadêmico atua também como membro do corpo editorial dos periódicos Theoretical Biology Insights, Open Access Bioinformatics, Advances and Applications in Bioinformatics and Chemistry e Biomedical Engineering and Computational Biology. Desde 2007 atua como revisor de diversos outros periódicos, como os Anais da Academia Brasileira de Ciências e mais 20 outros. Desde 2009 atua como revisor de e-books na área de Bioinformática para a Bentham Science Publishers e até março de 2011 tinha publicado 33 trabalhos, com um total de 245 citações na base Web of Science.
O pesquisador acredita que o reconhecimento pelos pares da ABC foi fruto de sua paixão associada com o trabalho numa área de ponta. “Eu me sinto feliz e gratificado por este reconhecimento”, diz, mas sabe que é uma grande responsabilidade. “Sendo um membro afiliado da ABC, a minha pesquisa fica muito mais em foco, o que é excelente. Minha intenção agora é contribuir para identificar e dar destaque a pesquisadores ou pesquisas pouco conhecidas, mas que podem ter implicações grandes no futuro, sejam aquelas feitas na Bioinformática ou em outras áreas de pesquisas”. Nos nichos ainda ocultos, para Bonatto, muitas vezes estão as respostas para grandes questões.