No dia 23 de março, o auditório da ABC foi o cenário do lançamento oficial do Ano Internacional da Química (AIQ), que traz o slogan “Química para um mundo melhor” e comemora o aniversário de 100 anos do Prêmio Nobel concedido à cientista Marie Curie. Ela foi a primeira mulher aceita na Academia Brasileira de Ciências como Membro Correspondente, em 1926.

O AIQ tem por objetivo celebrar as grandes descobertas e avanços da área, aumentar o interesse dos jovens pelo assunto, demonstrar a importância dessa Ciência para o mundo e incentivar trabalhos científicos e pesquisas nas universidades.


Jorge Fleming, Jerson Lima, Jacob Palis, Glaucius Oliva, Hernan Chaimovich, Fernando Figueiredo e Cesar Zucco

A mesa do evento era composta pelo presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), César Zucco; o coordenador do comitê gestor do AIQ na Associação Brasileira de Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo; o presidente do Conselho Regional de Química do Rio de Janeiro (CRQ-RJ), Jorge Fleming; o diretor científico da Faperj e diretor da ABC, Jerson Lima; o vice-presidente da ABC, Hernan Chaimovich; o presidente da ABC, Jacob Palis; e o presidente do CNPq, Glaucius Oliva.

De acordo com os palestrantes da abertura do AIQ, o evento será direcionado principalmente aos jovens, com o intuito de aproximá-los da Química e, assim, aumentar a formação de profissionais nessa área, que carece de pessoal qualificado. “Celebrar a Química é mostrar às crianças e aos jovens a importância dessa Ciência no dia a dia”, afirmou César Zucco.

O presidente da SBQ começou dizendo que a Química desempenha um papel fundamental na sociedade e que ela está em todos os lugares, embora mal a percebamos. “A Ciência Química não é somente descoberta. É também criação e transformação”, afirmou. Zucco informou que, sem esta Ciência, muitos avanços não teriam ocorrido: “um mundo sem Química é um mundo sem telefone, cinema, jornal, métodos contraceptivos, aspirina, materiais sintéticos. Estaríamos na Idade Média e a vida seria chata, curta e dolorida”.

O palestrante citou grandes cientistas da História, como o russo Dimitri Mendeleiev, criador da tabela periódica, o norte-americano Linus Pauling, que recebeu um prêmio Nobel por seu trabalho relativo às ligações químicas, e o dinamarquês Niels Bohr, que contribuiu para a compreensão da estrutura do átomo. Mas alertou: “a abrangência, amplitude e importância da Química para a sociedade é inquestionável. Mas também é inquestionável seu potencial para o mal”.

Em seguida, Fernando Figueiredo disse que, apesar de ser advogado, aprendeu a reconhecer e admirar a Química como transformadora. “A Química transforma sonhos em realidade”, explicou o representante da Abiquim. Em sua opinião, lamentavelmente, os alunos não costumam se interessar muito por esta matéria na escola, mas destacou que existe um grande potencial para os jovens trabalharem e estudarem neste campo. “A nossa indústria química é a 8ª maior do mundo. Queremos ser a 5ª até o final da década, então existem muitas oportunidades de trabalho.” O palestrante informou que a maior dificuldade da área é a captação de mão-de-obra para desenvolver novas tecnologias e processos e reforçou a importância do interesse da juventude pela Ciência: “precisamos cada vez mais de jovens. Se eles não forem estimulados, vai ser muito difícil promover o desenvolvimento brasileiro”.

Segundo Fernando Figueiredo, o Brasil é o país com maior potencial para o aproveitamento da biomassa, mas a indústria química é a área com o maior déficit na balança comercial. “Até 2020, reduziremos esse índice a zero”, declarou. Sua mensagem final foi enfática: “Que o AIQ inspire talentos, desperte vocações e estimule os jovens à Química”.

Jorge Fleming falou rapidamente sobre a necessidade de aproveitar o AIQ para atuar com afinco na melhoria da profissionalização da Química. O presidente do CRQ-RJ também mencionou a importância de divulgar informações corretas relacionadas a esta Ciência para o grande público, de modo que a Química seja mais acessível. Já Jerson Lima ratificou a importância dos jovens para a Química e acrescentou: “de todas as Ciências Exatas, a Química é a que tem mais poesia para atrair o jovem. Ela modifica a cabeça por causa dos hormônios. O jovem fica curioso com as transformações que estão acontecendo com ele”. O diretor científico da Faperj afirmou que ainda existem muitos desafios a serem vencidos em relação à educação, mas que é necessário olhar para frente. Acha que, o AIQ deve servir para levar os estudantes a pensar as Ciências Exatas e colocou a Faperj à disposição para ajudar. “Daqui a dez anos, queremos mais jovens se formando na área científica”.

Hernan Chaimovich (foto ao lado) afirmou que é adequado que o ano se celebre e inicie na Academia e que existem alguns desafios a serem enfrentados: a absoluta ignorância dos profissionais da área química, a falta de professores e os constantes cortes nos orçamentos de Ciência e Educação. O vice-presidente da ABC também disse que a Química é a Ciência do real e que é impossível que um jovem não se interesse por esta área, a menos que seja incentivado a apenas decorar. “Não existe uma criança de sete anos que não ache lindo um experimento em que as substâncias mudam de cor”, declarou o Acadêmico. “O objetivo do AIQ é fazer com que a beleza da Química seja compreendida e que aconteça uma revolução no Ensino Fundamental”. Ele mencionou que o evento também celebra a contribuição das mulheres à Ciência, através da homenagem ao centenário da descoberta de Marie Curie. Segundo Chaimovich, é essencial construir capacidades envolvendo jovens e utilizar o AIQ como catalisador da cooperação internacional da Química. No entanto, o vice-presidente brincou que o evento não representa, para ele, algo muito significativo: “Todo ano é o ano da Química para mim”.

A abertura prosseguiu com um breve pronunciamento de Jacob Palis, que afirmou ser uma grande alegria dar início ao AIQ na sede da Academia, no caso do Brasil. “Tenho certeza de que as comemorações e proposições feitas serão um sucesso”, declarou. O presidente da ABC também disse que a Química tem tudo para contribuir com a inserção dos jovens na Ciência.

Glaucius Oliva (foto ao lado) representou o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que não pôde estar presente. O presidente do CNPq lembrou que o Brasil ainda é um país muito jovem na área científica: “Temos apenas 60 anos de história em se fazer Ciência com apoio institucional”. O Acadêmico ressaltou a importância de uma maior inserção no topo da liga da Ciência mundial. “O desafio não é só da Química, mas de toda a Ciência brasileira”, defendeu.

Oliva citou desafios que precisamos enfrentar, como a internacionalização, a multidisciplinaridade, relevância, inovação na sustentabilidade e a formação de recursos humanos. “Somos o país mais adequado à Química verde”, constatou. “Mas se não vencermos esses desafios, não nos tornaremos, em 2020, nem a 5ª maior indústria química, nem a 5ª economia mundial, conforme o previsto”. O Acadêmico finalizou dizendo que o AIQ precisa aumentar o diálogo entre a Ciência e o público: “é missão dos cientistas se comunicar com a sociedade, não somente ser excelência na pesquisa”, declarou para a platéia.

A mesa foi então desfeita e o Acadêmico e diretor do Departamento de Políticas e Programas Temáticos da Secretaria de Políticas e Programas de P&D do MCT, Carlos Alfredo Joly (foto ao lado), apresentou o estudo “Ciência, Tecnologia e Inovação: Agenda Estratégica para o País”, que discute a situação da Ciência e Tecnologia no Brasil e os desafios a serem enfrentados.

Entre muitos dados, Joly informou que o déficit comercial brasileiro se encontra, principalmente, nos setores farmacêutico, de equipamentos de rádio, tv e comunicação e de instrumentos médicos de ótica e precisão. Também falou sobre a necessidade de aumentar as exportações e diminuir as importações e o entrave representado pela legislação nesse aspecto. “Minha prioridade é resolver esse impasse”, declarou.
Além disso, Joly mencionou a necessidade de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), que vinha subindo, mas caiu no último ano, e do baixo número brasileiro de patentes, em comparação aos outros países do BRIC.

Em seguida, Jailson Bittencourt falou sobre o fato do AIQ ter sido estabelecido em 2011: além do centenário do Prêmio Nobel de Marie Curie, a fundação da União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) completa 100 anos. O pesquisador da UFBA também falou sobre os temas das celebrações do AIQ no mundo. Segundo o Acadêmico, na Índia foi utilizado o slogan “A mãe de Todas as Ciências”; nos Estados Unidos, “Desafios Globais/ Soluções Químicas”; na África do Sul, “Temos uma Vida Saudável em um Planeta que Morre”; e a Unesco apresentou o tema “Da Matéria à Vida”.

Bittencourt (foto ao lado) comentou o fato de a Química estar cada vez mais embutida em outras áreas e sobre a convergência dessa ciência com a Biologia, Física, Matemática, sustentabilidade, educação, interdisciplinaridade e inovação. Além disso, o Acadêmico mencionou o crescimento exacerbado da população e a dificuldade de prover energia, água, ambiente e alimento em qualidade e quantidade. Para finalizar, o Acadêmico apresentou o vídeo comemorativo exibido na abertura do AIQ em Paris.

A última palestra foi da coordenadora do AIQ, Claudia Rezende, que disse que, apesar dos desafios a serem enfrentados, muitos avanços na Ciência já estão acontecendo. Rezende apresentou o portal do AIQ no Brasil (http://www.quimica2011.org.br/) e os diversos projetos e atividades que ele oferece. Segundo a coordenadora, o AIQ está sendo motivo de comemoração nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, além de tema de feiras de Ciências. “Queremos alcançar o público leigo e as crianças para acabar com a imagem de que a Química é inacessível”, comentou. Claudia Rezende mencionou alguns eventos do AIQ que vão acontecer durante este ano, como a exposição A Química no Cotidiano, no Museu da Vida do Rio de Janeiro, o concurso A Química Através da Câmera e o projeto 365 Dias de Química, que traz, a cada dia, uma entrevista e a apresentação de uma molécula.

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