Maria Domingues Vargas, Jailson Bittencourt e Roberto Fernando de Souza

A sessão de Ciências Químicas, dentro do evento Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América latina e Caribe 2010 teve como palestrantes o próprio coordenador – o Acadêmico Jailson Bittencourt – e os Acadêmicos Roberto Fernando de Souza e Maria Domingues Vargas, que apresentaram suas pesquisas na área.

O quatro atual da química brasileira

Bittencourt foi o primeiro a se apresentar e abordou a situação atual e os desafios da Química no Brasil, dando ênfase aos setores acadêmico e industrial. Ele destacou o panorama nas duas áreas e disse que “a ênfase do quadro atual do setor químico industrial é justamente na questão do faturamento, especialidades, nos desafios das empresas de alta tecnologia e no grande desafio do setor químico: a sustentabilidade. Ser sustentável tendo em vista os produtos com os quais estamos mexendo, os processos químicos, a energia, competitividade econômica e a preservação do meio ambiente e da vida”.

O químico também comentou as ações da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), com relação ao ano de 2011, proclamado Ano Internacional da Química na 63ª sessão da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, conferindo à ONU, Unesco e a União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) a coordenação das atividades mundiais. “O Ano Internacional da Química tem como meta promover o conhecimento e a educação em Química em todos os níveis. Tem como slogan “Química: nossa vida, nosso futuro”, mostrando o foco na educação e na reflexão do papel da Química para a criação de um mundo sustentável”, explicou Bittencourt.

Ele finalizou destacando a agenda do Século XXI, que, segundo ele, tem como prioridade promover a conexão entre educação, C&T e inovação. “Para tal, é preciso educar para inovar e inovar para educar!”, concluiu o Acadêmico.

Os fármacos e a platina

A Acadêmica Maria Domingues Vargas é professora titular no Departamento de Química Inorgânica da Universidade Federal Fluminense (UFF) e apresentou seu trabalho de pesquisa Complexo de Platina e Aminonaftoquinonas: design e atividade biológica.

“As naftoquinonas são moléculas orgânicas que estão presentes em várias árvores nativas, como os ipês, e possuem uma série de atividades biológicas”, explicou a Acadêmica. Seu grupo de pesquisa evoluiu para o estudo de complexos metálicos de tais moléculas, visando o tratamento de doenças negligenciadas, como a malária e Doença de Chagas. Mais recentemente, o grupo passou a investigar esses compostos para o tratamento de câncer, como é o caso do complexo de cisplatina, um dos componentes da quimioterapia. “A área de tratamento de câncer com fármacos feitos com platina envolve um número muito grande de pesquisas, de patentes – são 277 no total – e muito dinheiro. Compreender o mecanismo e saber como funciona a resistência à cisplatina é importante para que possamos pensar em novos fármacos contra a doença”, destacou Vargas.

O uso constante de cisplatina conduz a um alto nível de toxicidade no organismo e em certos cânceres ocorre a resistência ao fármaco. Essa área da Química, portanto, está estudando o desenho de novas drogas de platina que sejam capazes de contornar o problema da toxicidade e da resistência.

Desafios na química: ligação carbono-carbono

A última palestra foi do Acadêmico Roberto Fernando de Souza, engenheiro químico e professor do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que tratou da Oligomerização de olefinas: desafios científicos e tecnológicos.

Souza explicou que a vida do homem está baseada em processos que englobam cadeias de carbono. “Para sintetizar detergentes, aditivos para a gasolina, lubrificantes, entre outros, é necessário ser produtor de cadeias carbonadas com estruturas diferentes, ou seja, mais simples e mais complexas. E no Brasil, não temos todas as cadeias que precisamos: importamos então, o que aumenta o custo de produção”.

Segundo o Acadêmico, o Brasil não dispõe de tecnologia para produzir e controlar todas as cadeias e ligações de carbono indispensáveis à vida do homem. Mas existem programas que visam a evolução dessa tecnologia, como é o caso do Processo Shop, primeiramente inventado pela companhia Shell, pelo qual é possível deixar uma cadeia linear carbonada crescer até, mais ou menos, 30 carbonos. Em seguida, algumas partes dessa cadeia, contendo entre 12 e 16 carbonos, são pegas para a produção de detergentes e outros produtos. “A tendência atual é conseguir obter mais cadeias de carbono e conseguir trabalhar com um sistema bifásico, que diminui o impacto ambiental causado pelos processos químicos”, destacou Souza.