A sessão de Ciências da Saúde, coordenada pelo Acadêmico Antonio Carlos Campos de Carvalho, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF-UFRJ), tratou basicamente de pesquisas com células-tronco.
Células-tronco para reparação cardíaca
O Acadêmico José Eduardo Krieger, professor titular de Medicina Molecular no Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e diretor do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP (Incor/USP), iniciou as apresentações da Sessão.
Sua pesquisa está focada na genética das doenças cardiovasculares, na identificação de biomarcadores para a avaliação de risco e estratificação terapêutica em doenças cardiovasculares e no desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas – como o uso de células-tronco – para doenças cardiovasculares. No evento, expôs seu trabalho intitulado “Abordagens Celulares para Reparação Cardíaca na Cardiopatia Isquêmica”.
Krieger falou a respeito das rotas e procedimentos corretos de injeção de células, da modificação genética celular in vitro usando vetores virais, células-tronco de tecido adiposo e células multipotentes para reparação cardíaca. O pesquisador explicou que após um infarto, várias células de músculo do coração são destruídas e, ao contrário da musculatura esquelética, não se regeneram. Se forem perdidas muitas células, o coração deixa de funcionar.
Os tratamentos existentes atualmente para isquemia cardíaca envolvem o uso de medicamentos, cirurgia de revascularização (ponte de safena) e a introdução de um cateter para desobstruir o vaso sangüíneo, que muitas vezes leva com ele um tipo de malha chamada stent, com medicamento, para manter o vaso aberto. Mas há casos em que esses procedimentos não resolvem. O grupo de Krieger no Incor busca desenvolver o a reparação cardíaca biológica, que em vez de tentar desobstruir os vasos sangüíneos, procuram reconstituí-los, assim como o músculo, com a utilização de células-tronco. “Estamos caminhando bem, mas ainda há muito que andar”, concluiu o cientista.
Células-tronco em doenças neuromusculares
A Acadêmica Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano do Instituto Nacional de Células-Tronco em Doenças Genéticas e presidente da Associação Brasileira de Distrofia Muscular sucedeu a Krieger com sua pesquisa “Células-tronco em doenças neuromusculares”.
Um dos objetivos dos estudos de Zatz é identificar e analisar novas fontes de células-tronco. Entre elas estão a polpa dentária, as trompas, a gordura de lipoaspiração e o sangue menstrual. “Quase todas são descartes biológicos que podem ser reaproveitados”, observou, “o que evita os problemas de natureza ética”.
Estudando essas fontes, Zatz descobriu que as células-troncos de tecido adiposo humano são melhores que as de cordão umbilical para formar músculos. “Além de uma novidade importante, essa descoberta também traz outra vantagem”, brincou, “não faltam doadores!”.
“Ultimamente, nossos objetivos têm sido analisar a expressão gênica em diferentes linhagens celulares, comparar com a mesma mutação e fenótipos discordantes e tentar diferentes estratégias para corrigir defeitos gênicos”, revelou.
Terapias celulares em doenças neurológicas
Para encerrar a sessão, a Acadêmica Rosalia Mendez-Otero, pesquisadora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresentou sua palestra que teve por título “Avanços e Perspectivas das Terapias Celulares em Doenças Neurológicas”.
Rosália destacou que as doenças cérebro-vasculares, que incluem o derrame, são a maior causa de mortes no Brasil, estão em segundo lugar no mundo e em terceiro nos EUA. “Mas são as maiores causadoras de disfunções no mundo, ou seja, as pessoas não morrem, mas ficam com seqüelas”, explicou a cientista.
A Acadêmica lidera um grupo de pesquisa que busca saber qual seria a melhor célula para terapias celulares em doenças neurológicas. Até agora, as células embrionárias estão na frente, por serem pluripotentes, ou seja, quando induzidas, podem gerar qualquer tipo de célula, incluindo neurônios e astrócitos, as células do cérebro.
Como não é permitido fazer pesquisas com essas células no Brasil, o grupo de Rosália vem desenvolvendo terapia celular com células-tronco adultas multipotentes no acidente vascular isquêmico e tem obtido bons resultados em ratos, com a utilização de células-tronco oriundas da medula espinhal. “Os objetivos, em casos de Medicina Regenerativa, é substituir células e/ou tecidos perdidos em doenças ou lesões, diminuir a morte celular e/ou aumentar a capacidade de regeneração do próprio tecido”, esclareceu a pesquisadora.