O Acadêmico José Galizia Tundisi coordenou a sessão de Ciências Biológicas, realizada no evento Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe em 1o de dezembro de 2010, que abordou basicamente a questão dos recursos hídricos.

Progressos em Limnologia

A Sessão foi aberta com a apresentação de Francisco Antonio Rodrigues Barbosa, professor titular e pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG), que expôs seu trabalho “Ecologia e Limnologia no Brasil”.

Doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Barbosa explicou que nos últimos 25 anos muitos progressos na área de estudo dos recursos hídricos ocorreram no Brasil. Tecnologias e métodos de medição mais acurados, a compreensão de sistemas integrados como unidade de estudo, novos conhecimentos sobre gestão e conservação, a avaliação dos processos funcionais, a mitigação de impactos e a recuperação de áreas degradadas permitiram usos e aplicações diversos em aqüicultura, conservação de biodiversidade, planejamento e gestão ambiental e em saúde humana.

“Mais ainda temos muitos avanços a fazer”, lembrou. “Em Taxonomia, a identificação, classificação e nomenclatura de organismos aquáticos neotropicais anda precisam ser feitas com mais afinco para aumentar o banco de dados”. No manejo e gestão de recursos naturais, Barbosa vem estudando o caso do reservatório de Ibirité, em que observou ser é a eutrofização a principal causa de degradação ambiental, em decorrência de esgotos não tratados. O excesso de nutrientes na água gera uma proliferação de algas que sufocam o ambiente. Barbosa contou que seu grupo já está fazendo experimentos que podem trazer uma solução para o problema.

O pesquisador referiu-se também informou ao fato de que cerca de 25% dos rios do mundo secam antes de atingirem os oceanos. A causa desse ressecamento é o mau uso dos recursos hídricos nas bacias. “Manipulações do ciclo da água afetam a biodiversidade, a produção de alimentos, a saúde e funcionamento dos ecossistemas diminuindo sua resiliência”, alertou. “Taxas atuais e projetadas de perda de biodiversidade nesses ecossistemas constituem a 6ª extinção em massa e a 1ª provocada especificamente pelas atividades humanas”.

Estudo de virologia ambiental

Em seguida, Fernando Rosado Spilki, professor da Universidade Feevale, exibiu seu estudo “Virologia Ambiental”, em que desenvolveu o monitoramento, tratamento e avaliação dos riscos à saúde dos vírus entéricos e considerou sua influência nos ecossistemas aquáticos, na formação de virioplânctons.

Spilki, que obteve seu Doutorado em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tem se dedicado ao controle da qualidade da água de sistemas de abastecimento, para fins de análises microbiológicas. “Na saída de cada unidade de tratamento devem ser coletadas, no mínimo, duas amostras semanais, recomendando-se a coleta de, pelo menos quatro amostras semanais”, recomendou. “Há sérios riscos de se encontrar vírus em águas residuárias de esgoto”.

Após lamentar a insuficiência do amparo legal, enumerou alguns desafios conceituais. “Conformando-se com o fato de que é comum encontrar ao menos um dos vírus entéricos em amostras de água, estão entre nossas prioridades a avaliação e o estabelecimento de uma dose máxima aceitável de ingestão de vírus, calculando seus riscos, assim como a definição de uma estratégia de controle da contaminação, que passaria pelo desenvolvimento de novos produtos químicos e métodos físicos para destruição e remoção dos vírus”, concluiu.

Redes interativas de espécies

Thomas Michael Lewinsohn, Doutor em Ecologia e professor titular da Unicamp, foi o último a se apresentar com o trabalho “Redes interativas de espécies”, em que descreve seu esforço em interligar a estrutura da biodiversidade com o funcionamento de ecossistemas.

As interações entre insetos e plantas tem uma importância crucial para o conhecimento fundamental da biodiversidade terrestre, já que representam as duas maiores taxas de organismos vivos, tanto em número de espécies quanto em biomassa total. “A biomassa de todos os insetos na Amazônia brasileira, por exemplo, supera a de todos os vertebrados terrestres em aproximadamente nove vezes”, observou Lewinsohn.

A vida animal não pode existir na ausência de plantas, que servem como fonte primordial de energia para quase todos os organismos. Em contrapartida, a longa exposição de plantas aos animais foi, supostamente, a principal causa do desenvolvimento de sua grande diversidade.

Como medir a biodiversidade? Essa é uma pergunta importante para países com grande riqueza de espécies, já que esta riqueza é uma das medidas possíveis. Mas para que ela seja realmente utilizável é preciso ainda investir muito em estudos taxonômicos.

“As novas relações ecológicas estabelecidas por alguns organismos resultaram em espécies colonizadoras, com estruturas populacionais que contribuem para mudanças evolutivas rápidas, especiação e irradiação adaptativa”, esclareceu Lewinsohn. “O conhecimento sobre as espécies de insetos que atacam frutos, por exemplo, seus níveis de especialização, taxas de infestação de frutos e outras informações adquiridas pelo estudo de interações entre insetos e tais elementos vegetais deverá fornecer informações valiosas sobre a estrutura, geração e a manutenção da biodiversidade nos ecossistemas florestais estudados.”

O pesquisador referiu-se à utilidade de sua pesquisa. “A integração estreita entre inventários bióticos e processos ecossistêmicos, a elucidação de características funcionais de grupos de espécies, a criação de uma teoria robusta para hipóteses ecológicas e evolutivas e a análise de sensibilidade e vulnerabilidade, via conservação, restauração e monitoramento, são algumas aplicações possíveis desse estudo”, concluiu.