Na Conferência Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe, realizada pela Academia Brasileira de Ciências entre 29/11 e 3/12/2010, representantes de agências financiadoras brasileiras se reuniram para apresentar aos cientistas convidados dos países vizinhos e ao público presente as conquistas recentes e os desafios e para o futuro imediato de CT&I no país.
O TWAS-Rolac
O Escritório Regional para América Latina e Caribe da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS-Rolac) está sediado na ABC desde sua criação, em 2004. Coordenado inicialmente pelo Acadêmico Carlos Aragão, desde 2007 está sendo conduzido pelo matemático do Instituto de matemática Pura e Aplicada (IMPA) Marcelo Viana.
Também fazem parte do conselho executivo: Francisco Barrantes, representante das Ciências Biológicas da Argentina; Carlos Di Prisco, matemático venezuelano; Manuel Limonta, das Ciências Médica de Cuba; Harol Ramkinsoon, matemático de Trinidad Tobago; Ranulfo Romo, neurocientista mexicano e Rafael Vicuña, das Ciências Biológicas do Chile
Viana apresentou os resultados do escritório regional do Rio de Janeiro, que é um dos cinco espalhados pelo mundo em desenvolvimento – os outros são em Nairobi, Pequim, Bangalore e Alexandria. Com o objetivo de incentivar e influenciar as políticas científicas do continente, estão entre as atividades desenvolvidas pelo Escritório Regional a concessão de bolsas de estudo em universidades do mundo em desenvolvimento, a eleição de novos membros afiliados e a Conferência de Jovens Cientistas – que ocorre desde 2006 e atualmente conta com duas edições anuais, uma em maio e a outra em dezembro, sendo que nesta última ocorre a entrega dos Prêmios TWAS-Rolac a jovens cientistas e cientistas de destaque no continente. Os premiados este ano na categoria Jovem Cientista foram dois Membros Afiliados da ABC: o engenheiro de software da PUC-Rio Alessandro Garcia e Robson Monteiro, biólogo da UFRJ. Eles foram escolhidos entre as onze indicações recebidas.
Guillermo Chong e Marcelo Viana
O Prêmio TWAS de Popularização da Ciência foi para o geólogo chileno da Universidad Católica del Nuerte Guillermo Chong Dias, escolhido entre sete candidatos de três países diferentes. “É uma premiação singela, mas muito importante” garantiu o presidente da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS), Jacob Palis, no momento da entrega do prêmio que foi feita por Marcelo Viana.
O reconhecimento a Diaz se deve pelo seu trabalho como escritor e seu esforço em criar museus para divulgar a ciência. Foram dois livros publicados – Enseñando Geologia a los Niños e Enseñando Geología a lo largo de Chile – e três museus abertos, sendo o mais recente o Museu das Ruínas de Huanchaca, em Antofagasta.
Em sua apresentação, Diaz expôs sua paixão pela Geologia e justificou seu esforço em divulgar a ciência. “Minha filosofia é que o conhecimento é importantíssimo”, afirmou, “mas só obtém valor ao ser compartilhado. Não adianta saber sozinho, nada se constrói dessa forma”.
Os resultados da Capes
O Acadêmico e bioquímico Jorge Guimarães, atual presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), destacou o significativo aumento do orçamento da financiadora nos últimos oito anos e a previsão de aumento para 2011, chegando a um crescimento de aproximadamente 500%. “Em 2011, a maior parte deste orçamento estará voltada para a concessão de bolsas de estudos (aproximadamente 75%)”, relatou Guimarães acrescentando que se 2009 para 2010, o número de bolsas concedidas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) aumentou em quase seis vezes (de 3.073 para 17.454).
Guimarães também destacou o aumento do número de inscritos em pós-graduações e do número de bolsas para esses alunos. “O principal é que o número de bolsas cresce numa velocidade maior que o número de alunos, o que fez com que a proporção de pós-graduandos bolsistas quase dobrasse em 10 anos, passando de 16% para 29%”, informou o presidente da Capes. As bolsas para o exterior também aumentaram, mais que dobrando o valor de 1998. A maioria delas é concedida para alunos de doutorado (seja ele sanduíche ou não) e o principal destino escolhido pelos brasileiros para estudar é a França.
Por último, o Acadêmico ressaltou o crescimento do Portal de Periódicos da CAPES, em número de acessos e de artigos, e também o crescimento da produção brasileira de artigos e de sua relevância internacional. “Isso leva o país a uma posição de destaque na produção científica internacional, já que, comparativamente, o Brasil tem crescido mais que países já consolidados nesse campo, como França e Estados Unidos, e também mais que seus vizinhos sul-americanos”, ressaltou Guimarães.
Atuação recente do CNPq
O físico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Acadêmico Carlos Alberto Aragão, atual presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), corroborou o tom otimista de Guimarães. Esclareceu que tentaria falar especificamente da atuação de sua gestão, que teve apenas um ano de ação e pouca margem de manobra, já que os recursos do CNPq já estavam comprometidos devido ao orçamento do ano anterior.
As diretrizes principais do CNPq em 2010 eram a internacionalização da Ciência brasileira, o aumento do orçamento, o cumprimento das metas do Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI) e a defesa do desenvolvimento científico no país. A atuação da Diretoria permitiu que essas diretrizes fossem postas em prática e neste ano o CNPq aumentou o número e o valor das bolsas concedidas.
O órgão também fortaleceu suas parcerias e expandiu a cooperação, tanto nacional quanto internacional. As bolsas no exterior mantêm um pequeno crescimento nos últimos anos, que não se compara ao salto sofrido entre 1987 e 1996, “quando o Brasil precisava mandar pessoas para fora, pois não havia no país cursos nem profissionais suficientes para promover a qualificação”, explicou Aragão. Outra contribuição dessa Diretoria é a nova sede do CNPq, que será inaugurada no dia 27 de dezembro.
Contribuições das Fundações de Amparo à Pesquisa
Representando as financiadoras dos estados, falaram Mario Neto Borges, presidente do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), e Ruy Garcia Marques, diretor presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
Mario Neto fez um panorama da ciência no Brasil e no mundo. Ele demonstrou a relação entre ciência e desenvolvimento e apontou o Brasil e os outros BRICs em uma posição privilegiada de crescimento, pois reúnem três fatores para expansão: população, área e PIB entre os maiores do mundo. Neto destacou que o Brasil hoje tem um bom número de artigos publicados comparados à produção mundial, mas que a quantidade de patentes ainda é muito pequena.
“A política de fomento deve corrigir a desigualdade no trinômio Ciência, Tecnologia e Inovação, uma vez que no país a Tecnologia e a Inovação ainda são fracas comparadas à Ciência e só as três juntas podem gerar o desenvolvimento”, ilustrou o presidente da Confap. Para isso, ele lembrou a importância das Fundações de Amparo à Pesquisa dos estados, que atuam no sentido de que todo o país contribua para o desenvolvimento científico e cresça em conjunto.
Ruy Garcia Marques falou sobre a financiadora do Rio de Janeiro, que este ano completou 30 anos com eventos no Museu de Arte Moderna (MAM) e no Teatro Municipal. Ele relatou o aumento orçamentário – que representa hoje 2% da arrecadação tributária líquida do Estado – que permitiu uma maior credibilidade da instituição, o aumento do número de bolsas, a diversificação do apoio para todas as áreas do conhecimento e o início da recuperação da infraestrutura para pesquisa nas instituições sediadas no Rio de Janeiro.
Marques explicou que a verba da instituição é divida entre demanda espontânea – auxílios e bolsas, que são dadas para todos os níveis – e demanda orientada, que são os editais lançados isoladamente ou em parcerias com outras agências. O diretor-presidente da Faperj também destacou os critérios de seleção, que têm sua avaliação fundamentada no mérito do projeto e na produção científica do solicitante, mas também no interesse econômico e social que este projeto possa ter para o Estado do Rio de Janeiro.
O crescimento da Finep
O presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep-MCT) Luis Fernandes, cientista político com ênfase em Relações Internacionais, fez uma avaliação de sua atuação à frente da agência financiadora em sua apresentação intitulada O desafio de transformar o Brasil por meio da ciência e da inovação.
Fernandes fez um panorama da economia mundial, em que a inovação desempenha um papel cada vez mais importante, já que o aperfeiçoamento qualitativo é cada vez mais valorizado e o terceiro setor (serviços) é responsável atualmente por 90% da economia. “Para que o Brasil possa ser destaque em inovação, é necessário um protagonismo do setor empresarial – nos países avançados, mais de 70% dos investimentos são realizados por empresas”, apontou Fernandes.
As estratégias do governo e da Finep para o desenvolvimento apoiado em C,T&I, através do aumento da inovação e da participação empresarial em pesquisa e desenvolvimento, passa pela formação de recursos humanos, pela restauração da infraestrutura dos centros pesquisadores (ProInfra) e por programas que fortaleçam a integração Institutos de Ciência e Tecnologia – Empresa (como o Sibratec) e que apóiem as empresas que invistam em pesquisa e desenvolvimento, com empréstimos facilitados para esse fim (programas InovaBrasil, Juro Zero e Inovar).
Todas as apresentações realizada na ABC apontaram para o mesmo objetivo: a consolidação de um Brasil melhor através do desenvolvimento científico. Cada instituição busca, a sua maneira, contribuir, mas com a consciência de ser parte de um conjunto maior, que ultrapassa inclusive as barreiras nacionais e visa uma integração mundial.