Dentro do VI Seminário Nacional do Programa ABC na Educação Científica, realizado na Universidade do Vale do São Francisco (Univasf) no final de novembro último, a segunda sessão contou com apresentações dos pólos do Programa em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

O Parque da Ciência

O físico Evandro Ferreira Passos, coordenador do Parque da Ciência na Universidade Federal de Viçosa (UFV/MG), contou um pouco de sua experiência à frente do projeto piloto do ABC Mão na Massa em Minas Gerais, desenvolvido em Nova Viçosa e Posses, que produziu diversos kits de atividades e aplicou a metodologia em escolas pobres, para as quais o material se adequou perfeitamente.

Em 2008, a Secretaria de Estado de Educação propôs a implantação do Programa, através do treinamento de 1.250 professores de 1º ao 5º ano. Passos informou que a Secretaria dá um apoio para inscrições on line e para a capacitação de duas professoras por escola. “Elas recebem diárias de R$ 100 para deslocamento e alimentação, que possibilita sua freqüência às oficinas”. Após as oficinas de capacitação, cada professor recebeu uma caixa com um kit de materiais básicos para reproduzir com seus alunos o material didático utilizado nas atividades.

Em 2010, em torno de 1600 professores dentre os 2900 que participaram em 2008 e 2009 retornaram a Viçosa para o Módulo 2. Foram mais 80hs de oficinas presenciais sobre os mesmos temas, mas com novos materiais. Para Evandro Passos, um sucesso e uma grande realização. “Conseguimos crescer em escala sem perder a qualidade. Esse é o grande desafio”, concluiu o professor.

O Centro de Divulgação Científica e Cultural da USP-São Carlos

A Universidade de São Paulo em São Carlos abriga outro pólo do Programa ABC na Educação Científica-Mão na Massa: o Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC/USP), apresentado por seu coordenador, o físico Dietrich Schiel e pela química Angelina Orlandi.

Apresentndo o CDCC, Angelina remeteu-se às origens do Programa ABC na Educação Científica – o programa Hands On, criado pelo Nobel de Física de 1992, Leon Lederman, em Chicago, em seguida levado para a França pelo também ganhador do Prêmio Nobel Georges Charpak, com o nome La Main à La Pâte. Em 2001, de acordo com Angelina, foi feito um convênio entre as Academias de Ciências da França e do Brasil, tendo sido então criado o Programa ABC na Educação Científica, usando a sigla da Academia Brasileira de Ciências também com o sentido do início da alfabetização (abecedário).

Em São Carlos, o Centro de Divulgação Científica e Cultural da USP tornou-se um pólo do Programa e fez parcerias com a Diretoria de Ensino da Região de São Carlos – entidade estadual que abrange 41 escolas nos municípios de Corumbataí, Itirapina, Descalvado, Ribeirão Bonito, Dourado, Ibaté e São Carlos – e com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura.

O CDCC promove um trabalho de formação continuada com os professores de educação infantil e ensino fundamental, para o qual oferece certificação da USP e da Coordenadoria ede Estudos e Normas Pedagógicas (CENP). Inicialmente, o material utilizado eram roteiros traduzidos e adaptados da França. Desde 2002, no entanto, os roteiros vêm sendo elaborados ou adaptados pela equipe do CDCC. “O método permite ao professor fazer uma reflexão sobre sua prática e trocar experiências. São aulas experimentais com material simples e de fácil acesso, que motiva inclusive sua aplicação em outros conteúdos”, explicou Angelina.

Em 2007 e 2008 foram oferecidas pelo CDCC cursos de 60hs com 20hs de atividades presenciais e 40h de atividades virtuais. “O professor que acessa nosso site tem toda a informação estruturada e organizada, além de um espaço interativo no qual eles podem se apresentar, falar sobre suas perspectivas e mostrar trabalhos.”

Pelo lado do aluno, a metodologia aumenta sua interação com os professores e eles demonstram grande interesse em manusear o material experimental. “A dinâmica das aulas permite que o aluno relacione os conhecimentos saberes do seu senso comum com o saber científico”, concluiu Angelina.

A Estação Ciência

A física Beatriz de Castro Athayde apresentou a Estação Ciência, braço da Universidade de São Paulo (USP) no ensino básico. “São 1.500 visitantes agendados por dia, em função de uma parceria que fizemos com as Secretarias Municipal e Estadual: foram 80 escolas envolvidas, entre 2006 e 2008”, explica a professora.

As Secretarias, no entanto, não permitem que os professores deixem o horário de sala de aula para fazerem cursos de qualificação profissional. “Então, temos trabalhado com os coordenadores pedagógicos, que ficam incumbidos de replicar as informações”, observou Beatriz. “Procuramos fornecer subsídios para que o coordenador pedagógico se sinta capaz de organizar e conduzir a formação dos professores na escola”. Segundo Beatriz, eles vivenciam atividades fundamentadas no processo investigativo, aprofundam conceitos científicos e elaboram seqüências didáticas com atividades investigativas de ciências. Recebem ao final do curso materiais didáticos de apoio que levam para suas escolas.

Após a formação de formadores, é feito um acompanhamento nas escolas, visando auxiliar a sistematização das formações, auxiliar os professores na elaboração de atividades investigativas, acompanhar a aplicação em sala de aula e fornecer os resultados para continuidade e reestruturação das formações. “Esse processo formativo é contínuo e propõe o trabalho coletivo na escola, mediado pelo coordenador pedagógico, para discutir e estruturar o ensino ciências, buscando um avanço na aprendizagem dos alunos”, explicou Beatriz.

As propostas do projeto são discutidas coletivamente e incorporadas ao trabalho docente paulatinamente, num processo prolongado que necessita de encontros periódicos. “Nesses momentos são identificadas as dificuldades e as soluções são buscadas pelo grupo”. As atividades são elaboradas no sentido de preparar o professor para ter autonomia. “Queremos formar profissionais diferenciados, qualificados para essa autonomia. Eles recebem alguns kits como apoio inicial, mas a idéia é que o professor esteja imbuído do sentido da autonomia e da criatividade para produzir, junto com seus alunos, seu material próprio.”


Danielle Grynszpan e Beatriz Athayde

O pólo da Fundação Instituto Oswaldo Cruz

A bióloga Dannielle Grynszpan (Fiocruz/RJ) coordena o Programa ABC na Educação Científica no estado do Rio de Janeiro, que atua em parceria com a Secretaria de Estado de Educação.

Danielle referiu-se ao nome do Programa ABC na Educação Científica, explicando que a sigla enfatiza o apoio pioneiro da Academia Brasileira de Ciências bem como a prioridade dada à melhoria da educação científica no ensino fundamental. “Este projeto estimula a formulação de questões sobre a realidade concreta, a elaboração de predições e o teste das hipóteses levantadas, ao mesmo tempo em que favorece um ambiente propício ao debate de idéias e ao desenvolvimento da capacidade de argumentação, através da confrontação de opiniões entre os educandos”, explicou.

A equipe do Rio de Janeiro trabalha desde 2001 oferecendo aos professores do estado um programa de formação continuada, com a preocupação de favorecer um ambiente investigativo e um contato direto entre professores das redes de ensino, cientistas e especialistas em didática das ciências. “Nosso objetivo maior é levar os educandos a desenvolverem uma postura critica e investigativa, com base tanto em atividades experimentais, como na exploração do meio ambiente a sua volta.”

As soluções apresentadas pelo Programa são simples, mas não simplistas. “A pesquisa tem que estar associada a uma prática social, criamos sequências pedagógicas de forma que uma pergunta suceda a outra e o processo de letramento não termine nunca”.

Este ano, o pólo da Fiocruz gerou um novo fruto – o Centro de Educação e Cultura Científica e Ambiental de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. No total, são sete escolas envolvidas no Programa, atingindo 10.505 alunos e 125 bolsistas de iniciação científica, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Com isso pretendemos contribuir com a qualificação do professor de regiões mais carentes, num movimento que visa, em última análise, melhorar o padrão a educação científica no estado”, concluiu Danielle.