O VI Seminário Nacional ABC na Educação Científica abordou experiências de educação científica na Região Nordeste. Os palestrantes foram o bioquímico Marcus Vale, o físico Antonio Oliveira, o químico Antônio Carlos Pavão, a bióloga Rejane Maria Lira da Silva, o historiador Carlos Wagner Costa Araújo e o biólogo Marcelo Domingues Faria.
A Ilha da Ciência
O físico Antonio José Silva Oliveira apresentou a Ilha da Ciência, localizada no Departamento de Física da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luis. O pesquisador explicou que a equipe que coordena tenta contribuir para mudar essa realidade do baixo desenvolvimento humano através da divulgação de ciência. “Estamos levando o projeto para outros locais – já temos uma Sala da Ciência implantada na Universidade Estadual do Maranhão e pretendemos implantar outra na cidade de Caxias”, contou Oliveira.
O objetivo da Ilha, criada em 2000, é promover a popularização da Ciência, a educação de jovens e adultos, a confecção de material instrucional (equipamentos), a pesquisa em ensino de Física e História da Ciência. A Ilha da Ciência utiliza a infraestrutura de laboratórios do curso de Física da UFMA. Os professores são alunos de iniciação científica do Programa de Educação Tutorial (PET) e voluntários, que produzem os próprios equipamentos. “Eles dão seminários nas escolas de ensino básico e depois convidam os alunos e professores para visitar a Ilha da Ciência, enviando ônibus da Universidade e oferecendo lanche”, contou Oliveira.
A Seara da Ciência
O bioquímico Marcus Vale, diretor da Seara da Ciência da Universidade Federal do Ceará (UFC), iniciou sua apresentação contextualizando a ciência no Brasil. Dentre os índices positivos listados estão o IDH de 0,699, considerado elevado dentre os quatro níveis estabelecidos: muito elevado, elevado, médio e baixo. No país, a região Nordeste é a que tem o IDH mais baixo.
Embora sendo a 8a economia do mundo e gastando tanto ou mais quanto países mais bem colocados no ranking da educação, o Brasil tem, nesse aspecto, um dos índices mais baixos do mundo, de acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA). Nos mapas do Brasil e dos EUA que indicam os centros e museus de ciência, Vale mostrou que a diferença é imensa: o número de instituições de divulgação científica no Brasil é muito pequeno.
No sentido de contribuir para preencher essa lacuna foi criada a Seara da Ciência, espaço de divulgação científica e tecnológica da Universidade Federal do Ceará (UFC). Segundo Vale, “a Seara procura estimular a curiosidade pela ciência, cultura e tecnologia, mostrando suas relações com o cotidiano e promovendo a interdisciplinaridade entre as diversas áreas do conhecimento.”
Nos laboratórios de pesquisa ou no Salão de Exposição, nos cursos oferecidos ou nas peças de teatro e shows científicos, estudantes e professores de escolas públicas interagem com o mundo do saber, entrando em contato com a ciência por meio dos mais variados recursos pedagógicos. “O conceito de interdisciplinaridade sai do papel para ser literalmente manuseado pelos visitantes que formam o nosso público-alvo”, destacou Vale.
Duas vezes por ano, nas férias de janeiro e julho, a Seara oferece cursos experimentais a alunos do nível médio, nas áreas de Química, Física e Biologia, supervisionados pelos coordenadores de área e realizados por monitores especialmente treinados para esse fim. Professores também são selecionados e lhes é oferecido um estágio com bolsa na própria Seara, onde pesquisam novas formas de transmitir o conhecimento, desenvolvem objetos e aparelhos que demonstram fenômenos e princípios científicos, ajudam nas tarefas de ensino, orientação de alunos e monitoria do Salão de Exposições.
Além disso, a Seara também promove o show Magia da Ciência, combinando aprendizagem, diversão e arte num espetáculo apresentado regularmente em eventos científicos, colégios e demais espaços. “Com objetivos semelhantes, também temos um grupo de teatro que se apresenta em atividades desenvolvidas pela própria Seara ou a convite de outras instituições”, contou Vale. “São as nossas contribuições para a melhoria da qualidade do ensino público e popularização da ciência”, concluiu Marcus Vale.

Marcus Vale, Antonio Carlos Pavão e Carlos Wagner
O Espaço de Ciência e Cultura
O historiador e especialista em divulgação científica Carlos Wagner Costa Araújo, diretor do Espaço de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Vale do São Francisco (ECC/Univasf) apresentou o projeto que tem sua sede numa casa cedida pela Prefeitura de Petrolina (PE). “Temos auditório, laboratório, espaço para exposições e fazemos um trabalho itinerante com experimentos em comunidades e assentamentos, para o qual a universidade cede ônibus e caminhão”, contou o diretor.
As atividades do ECC envolvem mostras científicas, oficinas temáticas, uma Experimentoteca, uma exposição permanente, o Programa ABC na Educação Científica, participação na Semana Nacional de C&T e na Semana Nacional do Meio Ambiente, o Teatro Científico e uma Olimpíada de Química, além da Mostra Científica Itinerante.
O Espaço Ciência
O químico Antonio Carlos Pavão, diretor do Espaço Ciência em Olinda, Pernambuco, ligado à Secretaria de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente, deu uma visão geral sobre os modelos de museus de três gerações. “Nos da primeira geração, os museus expositivos, é proibido tocar nos objetos. Nos da terceira geração, os interativos, é proibido não tocar – estes são basicamente os museus de ciência”, informou Pavão.
O Espaço Ciência de Pernambuco ocupa 129 mil m2 entre Recife e Olinda, em uma rede de exposições baratas em diversas cidades pequenas e um museu itinerante – o Ciência Móvel -, que pode ir até outros estados. É o maior museu a céu aberto do país e um dos maiores do mundo – um cenário tomado por um belo espelho dágua, uma hidrelétrica gerando corrente, um planetário, uma misteriosa caverna, um gigantesco vulcão, giroscópio, avião, foguete, dentre muitos outros experimentos, além dos laboratórios de ponta nas áreas de Química, Física, Matemática, Biologia e Informática.
“São mais de 40 monitores que se distribuem em horários diferenciados para dar conta dos mais de 100 mil visitantes por dia”, contou Pavão. O Espaço oferece a educadores oficinas onde se discute a importância da educação científica para a vida dos alunos. “Os professores são mobilizados por meio de jogos, troca de experiências, construção de painéis, projeção de curtas e discutem conceitos como observação e curiosidade, elementos importantes para a formação da atitude científica”, explicou o diretor. Num segundo momento, entram em contato com os experimentos e atividades da instituição, apoiados pelos monitores, o que ajuda no planejamento da visita com os alunos ao museu.
O Espaço Ciência funciona também como Pólo Universitário de Apoio Presencial do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), implantado em parceria com a Universidade Federal (UFPE) e a Prefeitura Municipal de Olinda. O Pólo proporciona a professores das redes públicas de ensino o curso de especialização lato sensu “Ensino de Ciências”, na modalidade a distância, iniciado em março de 2009, com aulas ministradas por professores da UFPE.
Um evento promovido pelo Espaço Ciência já há 16 anos é a Ciência Jovem, uma das quatro maiores feiras de ciência do Brasil. Estudantes de todas as idades de escolas municipais, estaduais e privadas participam da feira apresentando trabalhos científicos em diversas categorias.Mais de 200 escolas costumam participar dos três dias de evento, perfazendo um total de nove mil visitantes. Segundo Pavão, “o objetivo da feira é articular sociedade, comunidade acadêmica e estudantes de modo que passem a olhar a ciência como algo útil ao dia a dia das pessoas.”
Programa Social de Educação, Vocação e Divulgação Científica da Bahia
A bióloga Rejane Maria Lira da Silva atua desde 2002 no Programa Social de Educação, Vocação e Divulgação Científica da Bahia, “um espaço não formal dentro do espaço formal da escola”, segundo ela. “Há uma seleção inicial pelo interesse e idéias sobre ciência. Depois, cada um dos 20 alunos de cada turma trabalha num tema e constrói o seu próprio conhecimento, com o apoio de um professor mediador”, explicou Rejane.
Rejane considera fundamental o papel dos museus de ciências, mas não acha que sejam espaços de aprendizagem. “Nosso lema é pesquisar, produzir e divulgar”. Em parceria com a jornalista científica Simone Bortoliero, Doutora em Comunicação Científica e Tecnológica e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Programa publica um jornal on line intitulado O Pergaminho Científico, oferece atividades de campo, edita publicações e promove eventos relacionados à formação de professores de Ciências e Biologia. “É um programa de criação de experimentotecas que funcionam como laboratórios escolares intensivos e proporcionam um ensino construtivo e criativo”, esclareceu Rejane.
O Museu Itinerante de Anatomia Animal
O coordenador do Museu Itinerante de Anatomia Animal da Univasf , Marcelo Domingues Faria, apresentou o projeto, que é oferecido às escolas e prefeituras. “No início havia resistência, porque a Univasf era nova na região. Hoje o Museu Itinerante é altamente requisitado pelos municípios circunvizinhos”, contou Marcelo. Desde 2007, já foram visitados ao municípios de Petrolina (PE), Juazeiro (BA), Morro do Chapéu (BA), São Raimundo Nonato (PI), Senhor do Bonfim (BA) e Coronel José Dias (PI), tendo sido atingidas no total 81.000 pessoas.
O Museu Itinerante leva aos municípios exposições museológicas, mostra a preparação de peças anatômicas e promove atividades para estudantes e professores voltadas para a promoção de responsabilidade sócio-ambiental, como a posse responsável de animais, a biopirataria, a coleta seletiva de lixo e outros temas correlatos. “De início eram feitas explanações orais, que foram evoluindo para peças teatrais. A informação é passada de forma lúdica, de acordo com a máxima de Confúcio Ouvi, esqueci. Vi, lembrei. Fiz, aprendi…”
Para Faria, a ida ao Museu não deve ser tratada pelas escolas apenas como um passeio, mas como uma atividade pedagógica que deve ser preparada antes pelo professor com uma visita prévia. “O papel do museu não é ensinar: é provocar e estimular. O aluno eventualmente até aprende, mas esse não é o objetivo principal. O que queremos é que ele saia com um brilho nos olhos, motivado para a ciência, e que o professor leve com ele materiais de fixação das informações desenvolvidos pela equipe do Museu.”