A infância de Luís Carlos Bassalo Crispino foi vivida mais com brincadeiras do que com leitura. Caçula de cinco irmãos, não faltavam companheiros com quem se entreter. “Nossa casa era grande, e sempre cheia de gente. Por exemplo, naquele convívio, eu tive várias figuras maternas: minha mãe, minha avó, minha tia-avó, minha tia e uma senhora que trabalhava na casa. Havia sempre muitas pessoas para interagir”, recorda.

O menino foi alfabetizado por uma professora particular e um pouco por todos da casa. As brincadeiras eram tantas, que o pai preocupava-se que o filho não estudasse o bastante. “Ficou combinado que enquanto eu tirasse boas notas, não haveria problema”, contou Crispino. Entre as pessoas que o marcaram profundamente na infância estava sua tia-avó. Era ela quem o acordava, ainda de madrugada, para que ele estudasse enquanto ela preparava o café. “Ela me mostrava o céu, indicando o Carrossel das Sete Estrelas (plêiades), as três-marias (cinturão de Órion), a estrela-dalva (Vênus)”… Quando ela morreu, ele ficou tão triste que pensou em fazer Medicina, pois achava que se fosse médico poderia tê-la salvado da morte.

O interesse pela Astronomia acabou se convertendo em um interesse pela Ciência de um modo mais amplo e convergiu para a Cosmologia e para a Física. “Eu queria estudar os fundamentos da natureza, em uma escala ampla”, afirmou Crispino. Procurou um tio que é físico atrás de conselhos, o mesmo que o havia presenteado com uma coleção de livretos e kits de experimentos denominada “Os Cientistas”, produzida na década de 1970, o que exerceu uma influência determinante. “O meu tio disse que para ser um cosmólogo, era preciso antes ser um físico”, lembra Crispino. Foi assim que Crispino acabou por ingressar no curso de Bacharelado em Física da Universidade de São Paulo.

Durante sua formação acadêmica, interessou-se pela teoria quântica de campos em espaços curvos, “que une os ingredientes fundamentais da teoria quântica de campos e da relatividade geral”, acrescenta o pesquisador que obteve o mestrado e o doutorado em Física pelo Instituto de Física Teórica (IFT/UNESP).

Após um período em Trieste, na Itália, pensava em retornar. Embora achando que no exterior teria melhor futuro profissional, tinha apego ao lugar onde nasceu e avaliou que no Norte do Brasil poderia dar uma contribuição mais significativa. Aproveitou ainda as oportunidades que surgiram para se dedicar também a outras coisas – como história da ciência e das instituições científicas, e difusão e popularização de ciência e tecnologia -, o que considerou positivo, pois ampliou seus conhecimentos e pode perceber de modo mais evidente os benefícios da interdisciplinaridade.

Mas a preocupação principal ainda é a Amazônia. Crispino aceita de bom grado a colaboração de profissionais de outros estados do Brasil e vem desenvolvendo projetos para ampliar essa rede de colaboração. A maioria destes projetos vem sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Física da UFPA, do qual Crispino atualmente é coordenador. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia na região tem sido o foco principal de sua atenção e orgulha-se de ter participado da criação do primeiro Curso de Doutorado em Física aprovado em toda a Amazônia. “Precisamos formar doutores antes de tudo, falta massa crítica na região”.

Crispino considera diversas ações a serem desenvolvidas nesse sentido, como o incentivo a pesquisadores seniores para criar núcleos de pesquisa na Amazônia. Mas esse tipo de iniciativa, a seu ver, tem que ser incentivada pelo poder público para ir à frente. E avalia que o ritmo do desenvolvimento na região Norte, embora recebendo diversos incentivos, ainda é lento. “Em um futuro de curto ou médio prazo, dificilmente a região Norte vai se equiparar às regiões mais desenvolvidas do país”.

Para Crispino, colocar nas mãos de jovens cientistas a iniciativa de articulação regional é uma questão delicada, uma vez que estes deveriam estar mais focados no desenvolvimento de seus projetos de pesquisa. Mas ao considerar o caráter decisivo do momento, em se tratando da Amazônia, admite sacrifícios.

Por isso considera louvável a iniciativa da Academia Brasileira de Ciências de nomear jovens membros afiliados de todas as regiões do país. “Essa descentralização é um passo significativo, que a médio e longo prazo vai se refletir no quadro de Membros Titulares”, concluiu, agradecendo a indicação pelo período de 2010 a 2014.