Nascida no Rio de Janeiro e criada com seu irmão mais velho, Marina Anciães diz que foi profundamente influenciada pelas profissões dos pais. Sua mãe abandonou as Artes Plásticas para dedicar-se ao estudo em Programação de Computadores, enquanto o pai lecionava Engenharia Mecânica na UnB, ao mesmo tempo em que foi nomeado para trabalhar no Ministério da Tecnologia, quando da sua fundação.

Marina conta que na terceira série do ensino fundamental já tinha interesse pela Ecologia, área a que se dedica atualmente, graças a uma professora da época, que pedira uma pesquisa sobre Ecologia, e à vasta biblioteca dos pais. O acompanhamento e incentivo parental também pesou na sua escolha: “quando eu abri o livro sobre Ecologia aos nove anos e li a definição, eu disse pros meus pais que seria ecologista. Eles perguntaram o que era ecologista. É quem estuda Ecologia. E eles perguntaram o que era ecologia e eu repeti o que estava no livro, que era a interação dos seres vivos com o meio ambiente em que eles vivem”.

Evidentemente, não era clara para Marina a preferência pela área em que atua hoje. “Durante a adolescência, eu não sabia o que ia fazer no vestibular, pensei em tudo: História, Artes Plásticas, Arquitetura”. Mas a influência de sua infância afetou suas preferências. “Eu morava num lugar bem vazio e vivia muito solta mesmo. Foi quando eu comecei a tomar gosto pela natureza”, recorda.

No Ensino Médio, Biologia não era a matéria com a qual Marina tinha mais facilidade, ao contrário de Matemática e Física. Ela encarava a Biologia como um desafio. “O pensamento que tive foi que eu precisava estudar mais para satisfazer meu interesse pela natureza”, explica, “e a Biologia foi a resposta. Eu achava seu aspecto multidisciplinar e sua dinâmica muito bonitos. E era algo que não dava para decorar, tinha que entender. Então eu fiz a faculdade na UnB”.

Na faculdade demorou um pouco a se adaptar. “Eu tinha facilidade para aprender, mas sempre fiz muita bagunça no colégio”, confessa, “e na faculdade continuei com a mesma postura, custei um pouco a perceber que já estava na universidade e que não era mais hora de brincadeira”. Desde então, Marina tomou iniciativa de procurar por conta própria suas oportunidades. “Eu queria fazer estágio, aí fui de laboratório em laboratório. Eu queria experimentar”, relata.

Sua iniciativa rendeu frutos e algumas de suas pesquisas renderam-lhe uma publicação. Começou pesquisando a degradação de penas de aves por fungos que quebram a queratina da pena, chamados queratinolíticos. “Aí, eu vi que queria trabalhar mesmo com a interação dos seres vivos com o ambiente”, revela. Nessa fase, contou com a ajuda do professor da UnB Jader Marinho, que trabalha com morcegos. Ele a acolheu em seu grupo de pesquisa, no qual Marina permaneceu estagiando por um ano.

Marina Anciães sabia das dificuldades que encontraria. “Meu pai me disse que se eu quisesse seguir a carreira de pesquisa, eu teria que ser muito boa”, lembrou a cientista de 37 anos. Apesar da pouca idade, Anciães já realizou muito. Depois do mestrado em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre pela UFMG, passou seis anos estudando no estrangeiro, principalmente nos Estados Unidos, onde concluiu o doutorado em Ecologia e Sistemática pela Universidade do Kansas em 2005 e o pós-doutorado pela Universidade de Columbia em 2008. Além disso, foi bolsista do programa Desenvolvimento Regional (DCR) da Fapeam, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), de 2006 a 2009, onde desde então é pesquisadora.

Em suas pesquisas foi se encantando pelos tangarás, aves que atualmente estuda. “O que mais me chama atenção neles são as danças nupciais que fazem para cortejar as fêmeas. Me interessa ver como essa dança evolui, sua semelhança com a de outras espécies e a beleza com que mostram suas cores”. Nessas pesquisas, Anciães contou com a colaboração de nomes renomados nacional e internacionalmente. Antes de ingressar no mestrado, o contato com Miguel Marine, ornitólogo que encontrou na UFMG e leciona hoje na UnB, foi fundamental para a descoberta da paixão pelo grupo de aves. No Kansas, o contato com Richard Prum, um dos especialistas em tangarás, fortaleceu sua convicção pela área de estudo. Quando foi terminar seu doutorado em Yale, encontrou Tim Goldsmith, com o qual compartilhou experimentos na área de modelos de visão.

A ornitóloga voltou ao Brasil para se aprofundar em suas pesquisas e estudar as espécies de tangarás nativas. “Vim estudar o Ilicura militaris na Mata Atlântica, que tem cores militares, o verde militar, branco, preto e vermelho, e o Corapipo gutturalis, que é o tangará do peito branco que só tem aqui na região de Manaus”, explicou. Na sua volta, contou com a ajuda de Mario Cohn-Haft, curador de aves do INPA, e Renato Cintra, tutor do mesmo Instituto. Mas as idas e vindas entre Brasil e EUA foram recorrentes. Marina defendeu sua tese de pós-doutorado na Universidade de Columbia em 2008, mas retornou a seu posto de bolsista do programa de Desenvolvimento Regional (DCR) da Fapeam no INPA, ocupado de 2006 a 2009, tornando-se Tecnologista Pleno do Instituto.

As dúvidas sobre seu destino persistiam, mas acabou escolhendo a vida na Amazônia. “Essa floresta é muito grande”, empolga-se a pesquisadora, “é contagiante esse lugar”. O fato de já ter viajado bastante também pesou em sua escolha, assim como a margem de atuação que poderia ter. “Quis ficar na Amazônia porque sabia que aqui eu faria a diferença”, declara convicta.

A indicação para a Academia para ao período 2010-2014 veio do vice-presidente da ABC para a Região Norte e diretor do INPA Adalberto Luis Val e foi uma surpresa para Marina Anciães. “Encarei como uma grande honra”, afirma, “é quase um prêmio Nobel no Brasil, um topo relativo. Sei que ainda é possível, com muito trabalho, almejar um postode Titular, mas só o fato de ter sido nomeada Afiliada já é uma conquista”. Marina pretende, agora, contribuir mais para o setor social e vem desenvolvendo projetos nesse sentido. “O que buscamos é fomentar atividades interativas que atraiam as pessoas para a Ciência”, conclui.