O Acadêmico Paulo Emílio Vanzolini, de 86 anos, é reconhecido pela contribuição à ciência, especialmente para o desenvolvimento da zoologia. São mais de seis décadas dedicadas à busca de uma explicação de como teria surgido a grande diversidade da fauna sul-americana.

Agora toda a obra acadêmica do autor da teoria dos refúgios está reunida no livro “Evolução ao Nível de Espécie: Répteis da América do Sul”, com lançamento marcado para a próxima sexta-feira, 15 de outubro, às 17h, na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Produzida pela editora Beca com apoio da Fapesp, a obra é composta por um livro com 704 páginas acompanhado de um CD-ROM. Nas páginas impressas está uma seleção de 47 artigos, publicados entre 1945 e 2004, escolhidos pelo próprio autor por considerá-los “coluna vertebral” de sua trajetória científica.

No CD-ROM estão, além desses 47, outros 106 que completam as 153 publicações do zoólogo, em PDF, com possibilidade de busca simultânea. No CD ainda é possível assistir ao documentário “Calangos do Boiaçu”, filmado pelo cineasta Ricardo Dias, em 1992. Nele é mostrada a metodologia de trabalho em campo para a coleta de exemplares, fase fundamental dos trabalhos de pesquisa de Vanzolini.

Os 153 artigos originais passaram por atualização ortográfica e nova diagramação de tabelas e gráficos, além da substituição de mapas e fotografias. A grafia dos topônimos nos textos em inglês foi mantida como nos originais.

“A publicação dessa coletânea é uma justa homenagem a esse ilustre membro da comunidade científica, que tanto tem feito pelo desenvolvimento da ciência em São Paulo e no Brasil, seja atuando na linha de frente da pesquisa, seja participando da edificação da estrutura institucional necessária para que a pesquisa se realize”, afirma Celso Lafer, presidente da Fapesp, no prefácio do livro. Ele fará a abertura da cerimônia de lançamento no dia 15, que terá a presença de Vanzolini e convidados.

Teoria dos Refúgios

Por muito tempo, a explicação mais aceita para justificar a biodiversidade de biomas como a Mata Atlântica estabelecia que o grande número de espécies era resultado de longos períodos de estabilidade climática e geológica, que teriam representado ambiente propício para cruzamentos e reprodução.

No final da década de 1960, Vanzolini resgatou conceitos inicialmente formulados para explicar a diferenciação de aves na Europa para apresentar a teoria dos refúgios. Segundo essa interpretação, a América do Sul teria passado, especificamente no último 1,6 milhão de anos, por ciclos de variações climáticas intensas.

Entre 18 mil e 14 mil anos, quando o continente enfrentou a última glaciação, teriam se formado, por conta do frio, nichos geográficos com florestas tropicais – os refúgios -, que garantiram a sobre vivência de espécies menos acostumadas ao frio. Quando a temperatura voltou a esquentar, esses animais puderam abandonar os refúgios e voltaram a se encontrar.

Vanzolini mostra que a diversidade e a especiação surgiram graças à formação das ilhas de isolamento e a mudanças frequentes, e não em consequência de evolução lenta e estável.

Especialistas dizem que Vanzolini foi inovador ao introduzir e divulgar no Brasil, por meio de seus alunos, uma visão moderna e centrada no estudo da variação geográfica, usando para tanto ferramentas estatísticas.

Há, entretanto, estudos que tentam não só contestar mas negar a teoria dos refúgios. Vanzolini rebate e afirma que até agora nenhuma outra explicação cientificamente convincente foi apresentada em substituição à tese que formulou.

Sobre a trajetória de Paulo Emílio Vanzolini

Aos 14 anos de idade, Vanzolini já era estagiário no Instituto Biológico de São Paulo e aos 23 formou-se em medicina pela Universidade de São Paulo (USP). No doutorado, concluído em 1951, na Universidade Harvard, Estados Unidos, decidiu enveredar pela herpetologia, o estudo de répteis e anfíbios. Entre outras atividades relevantes foi diretor do Museu de Zoologia da USP, de 1962 a 1993, e ao longo de décadas construiu uma das maiores e mais importantes coleções zoológicas neotropicais.

Integrou a primeira composição do Conselho Superior da Fapesp, de 1961 a 1967 e cumpriu mandatos de conselheiro entre 1977 e 1979, e 1986 e 1993. Em 2008 foi premiado pela Fundação Guggenheim, de Nova York, como reconhecimento por suas contribuições à ciência.

Em paralelo, Vanzolini também é um consagrado compositor de música popular brasileira.

O livro pode ser adquirido pelo site da Editora Beca: http://www.editorabeca.com.br/.