O ecólogo aquático e doutorando da UFSCAR Taurai Bere, orientando do Acadêmico José Galizia Tundisi, tratou dos problemas de gestão das águas no Zimbábue e apresentou um estudo de caso.

Segundo Bere, os principais problemas de gestão no Zimbábue se referem à poluição orgânica das águas, intensificada pela eutrofização; à escassez desse recurso, acentuada pela seca cada vez mais freqüente e intensa e pela demanda crescente dos setores agrícola, industrial e doméstico. “Além desses fatores, há ainda os desafios sociais, políticos e econômicos do país”, contextualizou o ecólogo aquático e doutorando da UFSCAR Taurai Bere, orientando do Acadêmico José Galizia Tundisi.

Um estudo de caso foi realizado no lago Chivero, construído em 1952 para fornecer água para a cidade de Harare – capital do Zimbábue – e para fins de irrigação, sendo também utilizado posteriormente para a prática de esportes, a pesca e o turismo. “Este lago foi intensamente estudado, sendo assunto de conferências internacionais em diversas ocasiões.

Em todos os estudos, a conclusão foi negativa: havia grave deterioração da qualidade da água”, relatou Bere. Financiamentos consideráveis foram destinados à busca de soluções de manejo. No entanto, o lago tornou-se hipereutrófico, levando ao questionamento da qualidade do tratamento de suas águas. Encontraram-se evidências da presença de metais pesados e compostos orgânicos, tais como pesticidas.

Logo, perceberam-se os odores da decomposição de algas verde-azuladas e a proliferação das aguapés em níveis alarmantes. Estudos financiados pelo município de Harare e liderados pela Universidade do Zimbábue concluíram que o esgoto efluente do tratamento primário havia vazado para as unidades de filtro, sendo o principal responsável pela poluição orgânica do lago. Após o incidente, rigorosos padrões de controle foram adotados.

Embora na década de 60 o problema da deterioração da qualidade da água tenha sido bem abordado e desde então tenha havido crescimento econômico, industrial e de infraestrutura, a qualidade da água piorou. Por quê? Para Taurai Bere, em função de uma hegemonia política displicente com a questão ambiental. “A gestão da água ficou nas mãos de funcionários inexperientes, com pouco entendimento das conseqüências dos danos ambientais e o que se viu foi uma gestão que subvalorizava os recursos humanos e subfinanciava as obras essenciais”, relatou o pesquisador. Desvio de fundos do contribuinte para auto-engrandecimento político e uma gestão irresponsável tinham por pano de fundo a busca demagógica do voto popular. Foram violados os estatutos urbanos de proteção ambiental e fomentando pelo descaso o crescimento descontrolado das cidades. Nesse contexto, serviços públicos como a coleta de resíduos, a manutenção da infraestrutura e a higiene geral das cidades foram relegados a segundo plano.

A cidade de Chitungwiza, subúrbio de Harare, onde fica o lago Chivero, é uma prova da pobreza desse planejamento. Concebida como um pequeno povoado, ela é hoje uma das maiores cidades do Zimbábue e se vê assolada pela falta de manutenção da rede de esgoto. “Os subúrbios são muito densos demograficamente, o crescimento populacional apresenta taxas maiores a cada ano e não há instalações de tratamento de água adequadas a tamanha população. O lixo em geral não é coletado, incentivando o despejo ilegal de resíduos”, lamenta Bere.

Há ainda um sigilo institucional prejudicial sobre a qualidade da água disponível, visto que falta interesse público sobre o estado das águas que ingressam para o lago. Por tudo isso, projetos importantes precisam ser financiados, não apenas em Harare. “Os problemas de manejo da água que afligem o município são aplicáveis a outras áreas urbanas do Zimbábue”, informou

A solução mais urgente, segundo Bere, é uma boa governança. “Nenhum poder técnico pode contornar a má administração”. A capacidade de autopurificação do rio, graças ao clima úmido, ainda poderia servir como pulmão ecológico da cidade, permitindo reavaliar a atual política de conversão das zonas úmidas em zonas industriais, agrícolas e residenciais. Finalmente, a conscientização e posterior ação dos indivíduos devem ser promovidas. “Com a implantação efetiva dessas medidas, espera-se que a qualidade da água no Zimbábue e no mundo seja valorizada para além do discurso”, concluiu Taurai Bere.