O engenheiro geológico com PhD em ambientalismo Tamsir NDiaye começou sua apresentação descrevendo suas atividades como diretor do Observatório da Organização da Valorização do Rio Senegal (OMVS, na sigla em francês). A organização foi criada em 1972 como uma ferramenta estratégica de monitoramento do meio ambiente e dos recursos naturais da bacia do Rio Senegal.

As dimensões, localização e diversidade da bacia é que lhe dão importância geopolítica. Cobrindo 345.000 km², ela se divide em três áreas naturais: a bacia do Alto, o Vale e o Delta. Partindo de sua nascente, Djallon Fouta, na Guiné, ela percorre 1800 km atravessando, além da própria Guiné e Senegal, mais dois países – Mali e Mauritânia.

A bacia conta com alguma infraestrutura de desenvolvimento. São bons exemplos a barragem de Manantali, de uso múltiplo, fornecendo energia elétrica, irrigação e água através da regulação do fluxo do rio e a represa de Diama, que funciona como uma barreira contra o sal, impedindo a recuperação da água do mar no rio e bloqueando a subida dessa mesma água na maré baixa. No entanto, esta instalação está causando mudanças no funcionamento dos ecossistemas do delta. Dentre os muitos impactos negativos, há proliferação de plantas aquáticas invasoras e de doenças de veiculação hídrica, como a esquistossomose e a malária.

Tendo em vista tais problemas, surgiu a OMVS. Sob o lema “com todos, para todos”, a Organização se propõe essencialmente a promover a cooperação integrada entre os países ribeirinhos e coordenar o desenvolvimento da Bacia do Rio Senegal. Dentre seus objetivos, estão a redução da vulnerabilidade econômica dos países frente aos riscos climáticos e hidrológicos; a garantia das condições de segurança alimentar para as populações da bacia; o reforço do desenvolvimento econômico, promovendo um uso solidário dos recursos da bacia; a preservação do equilíbrio global do hidrossistema e a proteção e melhoria da renda das populações.

Nas duas últimas décadas, a Bacia do Senegal sofreu modificações importantes, com a construção das duas grandes barragens referidas e a instalação de diques, dos parques nacionais, a evolução da agricultura, entre outros. Ainda que essas alterações tenham conduzido a melhorias significativas nos aspectos socioeconômicos, avaliações ambientais e sanitárias têm demonstrado alguns impactos negativos, que não são facilmente descritos ou quantificados. “O Observatório da OMVS foi criado no ano de 2000, então, para cobrir essas lacunas de dados e limites,” explicou Tamsir. “Seu principal objetivo é acompanhar a evolução do meio ambiente e dos recursos naturais na bacia, oferecendo aos estados-membros informações que lhes permitam avaliar os impactos da infraestrutura e implementar ações para reduzir esse impacto.”

Outra missão do Observatório é organizar a coleta de dados e o processamento de monitoramento ambiental sistemático. Também compete a ele reunir informações, produzir indicadores relevantes, garantir a divulgação e análise dessas informações, detectar situações que exijam ação das autoridades e propor uma estrutura para participação e consenso, contribuindo para a elaboração de medidas que contrabalancem os impactos negativos das obras de infraestrutura sobre a bacia.

Para organizar o acompanhamento e a avaliação, foram identificados quatro grandes grupos. São eles Recursos Naturais e Descritores Físicos, Biodiversidade e Ecossistemas, População e Economia e Qualidade da Água. “Cada grupo contém diversos setores de acordo com sua consistência, tais como quantidade de água superficial, cobertura vegetal, doenças humanas de veiculação hídrica e qualidade da água superficial, respectivamente, citou Tamsir, em breve exemplificação.

O funcionamento da estrutura organizacional do Observatório é baseado em uma rede de coleta e tratamento de dados nos quatro países da OMVS. “Em cada país existe uma sub-rede do Observatório, com um Ponto Focal Nacional, que coordena as atividades de diversas temáticas”, esclareceu o pesquisador. Com essa estrutura, Tamsir NDiaye espera que os impactos negativos das instalações adjacentes à bacia sejam contornados e seus recursos aproveitados de forma democrática e sustentável.