Quando criança, Patrícia Fernanda Schuck já queria ser cientista, “daqueles cientistas loucos que via na TV, nos filmes, lia nos livros…” No colégio, gostava muito de Química e Biologia. Quando entrou na faculdade e começou o curso de Farmácia, imediatamente procurou um laboratório de pesquisa para estagiar. “Tive a sorte de cair no laboratório do Prof. Moacir Wajner, que trabalha com Erros Inatos do Metabolismo”, lembra. Patrícia acabou se apaixonando pelo assunto fascinante e negligenciado na ciência e passou a ter certeza de que a pesquisa era sua vocação. “Não me imagino fazendo outra coisa”.

Graduou-se em Farmácia em 2003, tornando-se mestre em 2005 e doutora em Ciências Biológicas/Bioquímica em 2009, sempre pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Cursou um pó0s-doutorado na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), onde atualmente é professora e orientadora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde.

A pesquisa com que concorreu ao Prêmio LOréal analisa a fenilcetonúria, uma doença genética causada pela deficiência de uma enzima. “Essa doença provoca um acúmulo de fenilalanina no organismo”, explica a professora. A fenilalanina é um aminoácido essencial, isto é, só pode ser obtido através da alimentação, pois não é produzido pelo organismo.

O diagnóstico da fenilcetonúria pode ser feito no teste do pezinho. As crianças afetadas pela doença apresentam um grave retardo mental e, se não forem tratadas adequadamente, podem morrer antes de chegar à adolescência. Os mecanismos que levam a esse dano cerebral tão grave ainda não são bem conhecidos.

“O objetivo da minha pesquisa é avaliar o que acontece no cérebro em um modelo animal de fenilcetonúria, obtido através da administração de fenilalanina em animais”, esclarece, “o excesso da fenilalanina parece ser tóxico ao cérebro. Descobrindo o que acontece exatamente no cérebro desses pacientes, poderemos criar novas estratégias terapêuticas, na tentativa de melhorar a qualidade de vida dessas crianças”.

Patrícia soube da existência do prêmio através de pesquisadoras vencedoras em outras edições, com as quais convivia. “Receber uma premiação como essa é muito importante para a carreira de uma pesquisadora”, entusiasma-se, “além de possibilitar a realização do projeto através do auxílio financeiro. Por isso decidi me inscrever, mesmo achando que não teria muita chance de ganhá-lo. Até o momento, acho que não caiu a ficha”.

Ela comemora o fato de ser valorizada enquanto pesquisadora, ganhando visibilidade dentro da comunidade científica e chamando a atenção para o trabalho que desenvolve. “Também estou planejando aplicar os recursos financeiros na minha pesquisa: na compra de reagentes e equipamentos e na participação em congressos internacionais, importantes para a atualização das pesquisas e o estabelecimento de colaborações internacionais”, revela. “Sinto-me muito feliz por acreditarem no meu trabalho e pela oportunidade de aprimorá-lo.”

Questionada sobre a presença feminina na Ciência brasileira, Patrícia afirmou que o cenário de desigualdade tem se alterado. “Antigamente, a mulher era bastante inferiorizada, não só no campo da pesquisa, mas em qualquer campo de trabalho que ela exercesse. Mas hoje, elas têm sido muito valorizadas em seus empregos. Prêmios como este auxiliam muito para a igualdade de gêneros”, garante.

Ao incentivar as jovens que pensam em seguir a carreira científica, a cientista aconselhou-as a experimentar e insistir na profissão. “Nós levamos trabalho para casa, praticamente não temos férias, mas vale muito a pena! Quando conseguimos ajudar alguém com o nosso trabalho, sentimos uma alegria que não há dinheiro que pague.”