O Escritório Regional para a América Latina e Caribe do Conselho Internacional para Ciência (ICSU-LAC, na sigla em inglês) divulgou uma síntese de ações prioritárias intitulada Biodiversidade e Bem-Estar Humano na América Latina e no Caribe: Uma Contribuição Multissetorial para a Interface Ciência-Política.

O documento é fruto de uma ampla consulta realizada com mais de 200 especialistas sobre as relações entre biodiversidade e bem-estar humano na região e teve a coordenação científica de Sandra Diaz, da Universidade de Córdoba, na Argentina, também diretora da rede de pesquisa DiverSUS. O propósito é oferecer aos gestores e tomadores de decisão uma síntese dos problemas prioritários e das possibilidades de ação. O documento tem versões em inglês e espanhol.

Temas prioritários

Resultantes de um amplo consenso e referendados no Seminário realizado em abril de 2009 no Rio de Janeiro, no Jardim Botânico, os cinco temas prioritários representam problemas complexos, abarcando aspectos ecológicos, ambientais e sociais. Segundo a diretora do ICSU-LAC, Alice Abreu, “esses temas são excelentes exemplos do tipo de desafio e oportunidades que fundamentam as interfaces biodiversidade-sociedade e investigação-ação.”

Para Alice, o documento visa contribuir para que a geração de conhecimento responda a perguntas relevantes, para que a ação esteja baseada no melhor conhecimento disponível e para que ambos possam se adequar melhor à realidade da região.

Os seguintes temas foram definidos como prioritários:

1. A planificação coordenada e justa da produção agropecuária em grande escala e da provisão sustentável de outros serviços ecossistêmicos fundamentados na biodiversidade.

Visto que as mudanças no uso da terra são os principais fatores de perda de biodiversidade na região, todos os custos e benefícios associados à biodiversidade devem ser levados em conta. Tal atitude pressupõe o planejamento meticuloso do equilíbrio entre a expansão e homogeneização da agropecuária e a disponibilidade sustentável dos benefícios ecossistêmicos.

2. As relações entre biodiversidade e doenças infecciosas transmitidas por vetores em um contexto de mudanças ambientais e sociais.

Para tal, deve ser observado que a expansão das fronteiras agropecuárias é um dos mais influentes fatores para a transmissão de doenças desse tipo.Também devem ser ressaltadas a dificuldade e imperfeição de generalizações feitas para toda a região: cada bioma deve ser analisado de acordo com suas particularidades.

3. As sinergias e conflitos entre a disponibilidade local e regional de serviços ecossistêmicos e as estratégias globais de mitigação das emissões de carbono.

Vale considerar para esse tema a posição estratégica da América Latina e do Caribe, por sua biodiversidade, seu potencial de energia renovável e sua influência sobre o clima. Mas tal posição deve ser afirmada pela cooperação harmônica da região como um todo. Isso passa pela identificação e resolução de conflitos, assim como pela definição de compromissos multilaterais.

4. A dependência mútua da agrobiodiversidade e de comunidades rurais tradicionais.

Se por um lado a continuidade dos modos de vida das comunidades rurais de subsistência depende das plantas e animais que se desenvolveram especificamente ao longo de muitas gerações, também é verdade que os sistemas agropecuários tradicionais associados a tais comunidades são um legado para as futuras gerações, dentro e fora da região. No entanto, esse patrimônio tende a desaparecer, sendo necessária a criação e manutenção de paisagens rurais simultaneamente produtivas e diversificadas.

5. O papel da biodiversidade e seus serviços ecossistêmicos decorrentes da adaptação às mudanças climáticas.

A região possui um grande potencial biológico, tecnológico e social para desenvolver adaptações às exigências ambientais. Tal potencial reside em três elementos fundamentais: o patrimônio genético silvestre, o patrimônio biocultural acumulado pelas sociedades locais e a capacidade de inovação de seus sistemas científicos. Esse quadro permite projetar o desenho de novas práticas sociais e a criação ou modificação de instituições.

Novas formas de ação: interdependência e comunicação intersetorial

Os cinco desafios identificados tendem a ser multidimensionais, atravessar unidades administrativas ou países, abranger interesses e direitos de múltiplos atores sociais. “Para abordá-los com eficiência, precisamos de novas formas de geração e administração do conhecimento e também de mecanismos criativos de articulação entre os distintos setores e atores sociais nos mais diversos âmbitos”, apontou Alice.

As sete vias de ação incluem a produção de novos conhecimentos, o melhor aproveitamento da informação existente, novas práticas sociais e organizacionais de vinculação intersetorial, acesso mais ágil dos tomadores de decisão ao conhecimento científico, transformação ou ampliação dos mecanismos de financiamento, comunicação e participação intersetorial e reconhecimento da desigualdade de acesso aos benefícios científicos, tecnológicos e sociais.