A Diretoria da Academia Brasileira de Ciências lamenta comunicar o falecimento de seu prezado membro Jacques Vielliard, solidarizando-se à família e aos colegas das instituições em que o Acadêmico atuava. Reproduzimos abaixo duas manifestações de pesar – da Sociedade Brasileira de Etologia e da Sociedade Brasileira de Ornitologia – que bem representam a dimensão da perda para nossa comunidade científica.

“A Sociedade Brasileira de Etologia (SBEt) anuncia com pesar o falecimento do prof. Jacques Vielliard, etólogo e sócio. Estudioso da comunicação entre os animais, o Prof. Vielliard gravou milhares de vocalizações de pássaros, tendo talvez uma das maiores coleções do mundo sobre cantos de aves. O Prof. Vielliard pertencia à várias sociedades científicas, com destaque para a Academia Brasileira de Ciências.

Nascido em Paris no fim da Segunda Guerra Mundial, Jacques Marie Edme Vielliard formou-se no Lycée Louis-le-Grand e na Sorbonne, defendendo seu Doutorado em Ecologia na “École Normale Supérieure” – ENS. Jacques Vielliard foi encarregado da região da Ásia Ocidental para o International Wildfowl Research Bureau e viajou extensivamente da Romênia aos Himalayas no período 1967-1971.

Realizou o doutorado sobre a ecologia do maçarico Calidris alpina, e apresentou resultados que alteraram o conceito de nicho ecológico. Depois a agência de pesquisa da França, ORSTOM, convidou Vielliard para realizar o levantamento ornitológico do lago Tchad, até então praticamente inacessível. Seu estudo ecológico e biogeográfico desta avifauna mostrou que não existe uma região “África Central”, mas sim uma zona de contato bem definida entre as avifaunas da África Ocidental e da África Oriental.

Foi professor da École Normal Superier, colaborador do Muséum National dHistoire Naturelle e editor da Revista Internacional de Ornitologia Alauda. Apesar de seus outros compromissos na África do Norte e Ocidental, que resultaram na edição do primeiro guia sonoro das aves desta região e na descoberta na Algéria de Sitta ledanti Vielliard 1976, única espécie nova de aves descrita do Paleártico Ocidental neste século, Vielliard foi convidado por Pacheco Leão a visitar o Brasil.

Jacques Vielliard estabeleceu então as bases para novas pesquisas sobre a avifauna brasileira, desenvolvendo metodologias inovadoras para gravar e analisar as vozes das aves e quantificar suas comunidades. Vielliard aceitou em 1978 o convite de Zeferino Vaz, Sérgio Porto e Fernando de Ávila-Pires para criar na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um Laboratório de Bioacústica. Hoje, este laboratório é um centro de pesquisa de ponta e um dos maiores arquivos de sons animais. Este trabalho levou à descoberta do Caburé-da-Amazônia Glaucidium hardyi Vielliard 1989 e do Graveteiro-do-Cipó Asthenes luizae Vielliard 1990.”

Nota de pesar

“A Sociedade Brasileira de Ornitologia envia seus pêsames a Maria Luisa da Silva, esposa do ornitólogo Jacques Marie Edme Vielliard, falecido em 9 de agosto do corrente, bem como aos filhos do seu primeiro casamento.

Estendemos nossos pêsames também aos diversos pesquisadores, atuais e passados, vinculados ao Laboratório de Bioacústica e Ornitologia da Universidade Federa do Pará (UFPA) e Laboratório de Bioacústica da Unicamp. Este, iniciado em 1978 e liderado até então pelo Prof. Jacques, contém um dos maiores acervos de sons animais do mundo.

A contribuição do Prof. Jacques à Ecologia Quantitativa de aves e, principalmente, ao estudo bioacústico da avifauna brasileira, certamente se eternizará, principalmente com a conclusão de um dos seus principais trabalhos atuais, que consiste na digitalização de seu enorme acervo de fitas magnéticas com cantos de aves, obtido em mais de 30 anos de pesquisas no Brasil. Tal acervo, considerado o 5º maior do mundo, deverá, como era o seu desejo, ser futuramente disponibilizado na internet.

Leonardo Vianna Mohr
Presidente em exercício
Em nome da Diretoria, Conselho Deliberativo e Conselho Fiscal da Sociedade Brasileira de Ornitologia”