Leia o artigo publicado no Correio Brasiliense pelo Acadêmico Isaac Roitman, coordenador de Comunicação Institucional da Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB):

“Anísio Teixeira, um dos responsáveis pela concepção da Universidade de Brasília (UnB), considerava que a educação é um direito e não um privilégio. Sonhava com uma universidade transformadora. Concebeu em 1935, no Rio de Janeiro, a Universidade do Distrito Federal (UDF), que reuniu educadores de primeira linha, tais como: Afrânio Peixoto, Gilberto Freyre, Hermes Lima, Roquette Pinto, Josué de Castro, Heitor Villa-Lobos, Cândido Portinari e Sérgio Buarque de Holanda.

A UDF, considerada como uma utopia vetada, teve vida curta. Em 1939 é incorporada na então Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Anísio, sonhador indomável, no entanto, manteve viva a sua utopia, que finalmente se concretizou na construção e fundação da UnB, por meio da Lei nº 3998 de 15/12/1961. Darcy Ribeiro, parceiro dos sonhos de Anísio, convocou intelectuais brasileiros, tais como Antonio Houaiss, José Leite Lopes, Luiz Fernando Labouriau, José Israel Vargas e Florestan Fernandes, para a conceberem uma universidade que teria como principal missão a transformação e modernização da educação brasileira.

Assim como a UDF, o segundo sonho de Anísio é interrompido durante a ditadura militar. Esse episódio é analisado de forma notável por Roberto Salmeron, físico de renome internacional e o primeiro coordenador do Instituto de Física da UnB, em seu livro: A Universidade interrompida: Brasília, 1964-1965. A universidade destroçada foi lentamente reconstruída a partir do final da década de 1960. A reconstrução durou pelo menos duas décadas.

Em 1995, Darcy, em discurso na cerimônia de outorga do título de Doutor Honoris Causa da UnB, destacou: Antevejo algumas batalhas. A primeira delas é reconquistar a institucionalidade da lei original, que criou a UnB como organização não governamental, livre e autoconstrutiva… inclusive e principalmente seu caráter de universidade experimental, livre para reinventar o ensino superior de graduação e pós-graduação, fazendo deles instrumentos de liberação do Brasil.

Infelizmente, a UnB tem enfrentado nos últimos anos obstáculos que causam atraso na concretização dos sonhos de Anísio e Darcy. As amarras de uma legislação não apropriada a uma instituição que tem a vocação de estar na vanguarda da sociedade prejudicam de forma sensível a sua missão de formação de recursos humanos e seu papel na produção do saber. Atualmente, a principal luta é pela conquista de autonomia plena, como já apontava Darcy em 1995: Cumpre libertar-nos da tutela ministerial, assumindo plenamente a responsabilidade de nosso destino.

É o momento de libertação da universidade das incoerências burocráticas capitaneadas por segmentos que não valorizam e nada entendem de educação. Citando mais uma vez Darcy, que creio ficaria feliz em ser coautor desse artigo, assim se expressou durante uma emocionante e merecida homenagem no câmpus universitário que leva o seu nome: Essa não pode ser a concepção de uma universidade que se quer central e inspirada de um país que não deu certo. As classes dirigentes entre nós foram e são as responsáveis maiores por nosso fracasso histórico. São também culpadas pelo tipo de prosperidade mesquinha que temos, incapaz de estender-se ao povo. Em nossas circunstâncias, é tarefa da universidade criar intencionalmente elites novas. Elites orgulhosas do patrimônio que herdamos do passado – um território continental e um povo multitudinário, unificados em uma nação cheia de vontade de felicidade e de progresso, pronta para florescer como uma nova civilização. Mas, sobretudo elites cheias de indignação frente à realidade sofrida do Brasil. Elites fiéis ao nosso povo, prontas a reconhecer que nossa tarefa maior é nos elevarmos à condição de uma sociedade justa e próspera, de prosperidade e generalizada a todos.

Esse é o nosso desafio. A universidade do futuro tem um compromisso de formar quadros adequados que sejam compatíveis com os avanços da ciência e tecnologia. Em adição, é fundamental que todos os estudantes que passarem por ela tenham ampla formação cultural e consciência de sua responsabilidade social com a população brasileira. As palavras do mestre Darcy e os novos desafios deverão iluminar os caminhos que levem a um futuro virtuoso que o povo brasileiro merece.”