Dráulio de Araújo nasceu em Fortaleza e não esconde que sua infância teve influência determinante em sua carreira científica. A tradição da família, com os pais e tios acadêmicos, estimulou desde cedo sua curiosidade científica. “Lembro-me de acordar de madrugada para ver o cometa Halley. Com 12anos, me pegava medindo o tempo entre a chegada da luz do relâmpago e o som para calcular a distância da tempestade”, recorda Araújo.

Assim que entrou para o Instituto de Física da UnB,procurou a iniciação científica. Aos poucos, suas áreas de interesse foram se moldando. “Comecei trabalhando com Física de Materiais e percebi que esse não era meu objeto de maior interesse. Fui mudando e hoje trabalho com Neurociência”. Prestes a terminar o curso, porém, chegou a pensar em deixar de lado a Física para especializar-se em Psicologia. Mas a crise durou pouco e uma conversa com o professor Paulo Caldas mostrou-lhe o quão amplo e multidisciplinar é o conhecimento da Física e as múltiplas possibilidades de atuação. “O curso de graduação tem a responsabilidade de passar não só o conteúdo, mas deve delinear o modo como o indivíduo raciocina”, explica Araújo, “e em alguma momento eu vi que não precisava atuar necessariamente em problemas da Física”.

Com o mestrado na Universidade Federal do Ceará e o doutorado em Física Aplicada à Medicina e Biologia pela Universidade de São Paulo, passou a dedicar-se à Neurociência, sua atual área de pesquisa. “O curioso nessa história é que hoje eu sou um físico fazendo perguntas de Biologia”, reflete, “e o interesse da pesquisa é entender o cérebro humano. Sou hoje um profissional que atua na interface entre várias áreas”.
A pesquisa de Araújo busca implementar e aplicar métodos não invasivos de investigação do cérebro humano ou, com suas palavras, “criar e utilizar ferramentas capazes olhar dentro do cérebro humano sem precisar abrir a cabeça”. Ele explicou as dificuldades que a utilização de técnicas invasivas provocava, na medida em que essas ferramentas requerem o acesso direto à superfície do cérebro, o que acaba ficando limitado a pacientes submetidos à neurocirurgia. “E esses são cérebros que não estão funcionando dentro dos padrões de normalidade”, completa o cientista.

A possibilidade de trabalhar com técnicas não invasivas surgiu na década de 80. “Houve uma verdadeira explosão dessas técnicas”, observa Araújo, referindo-se à imagem por ressonância magnética, a eletroencefalografia, a magnetoencefalografia, a medicina nuclear, para citar apenas algumas. “Mas cada uma dessas técnicas tem suas limitações”, adverte, “elas não dão o conhecimento completo isoladamente, mas são complementares”. A pesquisa de Araújo, portanto, envolve a utilização de tais técnicas para responder a perguntas específicas ou para aplicá-las a uma rotina clínica. A partir do conhecimento mais detalhado das diferentes partes do cérebro e de suas funções se pode intervir de forma mais eficaz.

A indicação para Membro Afiliado teve para Dráulio de Araújo dois significados. “Tanto o pesquisador que me indicou quanto a Academia confiam no meu trabalho”, alegra-se. O Acadêmico Sérgio Mascarenhas foi quem lhe rendeu essa homenagem, que Araújo espera aproveitar da melhor maneira possível. “Ter voz dentro de uma instituição com tamanho peso nas políticas públicas de Ciência e Tecnologia me motiva a realizar meu trabalho com mais afinco, em nome da sociedade”, conclui o Afiliado.