Filho de pai descendente de japonês e mãe italiana, Guilherme Sassaki nasceu em Ponta Grossa, no Paraná. Seu avô tinha vindo do Japão, onde era enfermeiro, para viver numa cidade pequena do interior de São Paulo. Lá começou a trabalhar como farmacêutico e se formou por correspondência. “Me lembro de histórias do meu pai e parentes contando que o meu avô estudava em livros para fazer pequenas cirurgias, porque não havia médico na cidade”. O pai era engenheiro químico e o menino gostava de vê-lo trabalhar. Durante o ensino fundamental morou cinco anos no Pará, mas o ensino médio foi cursado em Curitiba, no Paraná, quando ficou nítida sua vocação cientifica. “Gostava da idéia de ver moléculas, lia muito a enciclopédia Delta La Rousse, a Conhecer, via os programas ambientais do Jacques Cousteau. Eu já sabia que queria trabalhar com Bioquímica.”
As disciplinas de que mais gostava na escola eram Química, Física e Biologia. Fez vestibular para Farmácia. Gostava de entender a Química dentro da célula, tendia para o lado biológico, para a Bioquímica. Mas descobriu seu talento para a pesquisa por causa de uma reprovação em Botânica, por faltas. “A aula era pura decoreba, então apesar de eu ter passado por média, fiquei reprovado”. E teve que repetir a disciplina numa turma especial, com um professor que dava aula de Biologia Estrutural. Foi quando Sassaki percebeu que a faculdade não era só para estudar, mas também para refletir. E entrou para a iniciação científica.
Seu interesse por pesquisa despertou. “Tive curiosidade de desenvolver novos métodos, lidando com algumas reações químicas e vendo como funcionava a química de carboidratos. Começou a trabalhar com a química de polissacarídeos e, em suas palavras, se apaixonou por essas moléculas. Estudando os líquens, queria entender como é que funcionava o fluxo de integração, a simbiose de um fungo com uma alga. “Os dois formam um talo liquênico onde há alga e fungo, formando um corpo característico. O fungo retém umidade, que é essencial para a alga. Esta fornece fonte de carbono e outros nutrientes para o fungo. Eu queria entender porque isso ocorria apenas com alguns fungos e algas”. Sassaki achou que devia haver algo diferente na membrana da alga, do fungo ou na parede celular para iniciar o processo de liquenização. “Alguma molécula ou a soma de outras devem em conjunto iniciar o contato e o reconhecimento entre os organismos, como se estivesse dizendo: vamos viver em comunidade”. Esta é a resposta que Sassaki procura agora.
Da iniciação científica, passou por um pequeno período de mestrado e foi para o doutorado direto. Seu orientador, Marcelo Iacomini, lhe ofereceu uma bolsa de pós doutorado. Mas Sassaki recusou, pois estava num momento de crescimento pessoal. “Já tinha passado muito tempo em laboratórios, queria dar aulas. E enfrentou o desafio. Estudou muita Farmacologia e Química Medicinal para lecionar Química Farmacêutica em Itajaí, Santa Catarina e, em 2002, fez concurso para professor adjunto na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Inquieto, encontrou uma situação crítica em seu novo local de trabalho: o aparelho de ressonância magnética nuclear estava parado, por falta de técnico para operar a máquina e fazer os experimentos. Sassaki pegou o manual, conversou com técnicos e amigos usuários que utilizavam o equipamento e em duas semanas aprendeu alguns princípios operacionais que possibilitaram a execução de alguns experimentos.
Depois de fixar sua linha de pesquisa, o cientista avaliou que era uma boa hora para sair do país: vai este ano para Milão, na Itália, com a família. O local é referência em técnicas de ressonância magnética, que é o que lhe interessa atualmente. “Basicamente, quero trabalhar com glicosaminaglicanos, componentes que interagem com certas proteínas e estão envolvidos em diversos processos de divisão celular, inclusive no desenvolvimento de tumores”. Assim como seu avô farmacêutico, Sassaki cuida de pessoas, só que indiretamente. “Trabalho com técnicas áridas de que pouca gente gosta, é uma parte bem pesada, mas essencial na descoberta de novos caminhos e estruturas.”
A indicação para a ABC veio através do Acadêmico Philip Gorin, da UFPR, que foi seu co-orientador de doutorado. “Eu sei que a Academia tem um propósito maior, não é só um título pra mim”. Para Sassaki, os jovens membros devem contribuir ampliando a divulgação da ciência brasileira para a sociedade e para a comunidade cientifica de modo geral. “Acho que a nossa grande motivação é poder mostrar aos jovens que alguém que gosta e se dedica ao que faz pode chegar a ser um cientista. Não é preciso ser um gênio, saber tudo para trabalhar com ciência. A gente vai fazendo e aprendendo.”