Representantes das Academias de Ciências do Brasil e da França debateram, na quarta-feira (5/5), como essas entidades, que reúnem os mais renomados cientistas de cada país, podem contribuir para a melhoria do ensino básico.

Segundo o físico e acadêmico francês Yves Quéré, para serem capazes de interferir positivamente nos rumos do aprendizado de ciências por crianças e jovens, as academias precisam ter estabilidade e independência em relação aos governos. Isso porque não podem se sujeitar a mudanças de enfoques políticos, uma vez que seu objetivo deve ser fortalecer o desenvolvimento das diferentes áreas do conhecimento.

Além dessas duas características, as academias deveriam estimular o contato de profissionais renomados com estudantes. “As academias são clubes de pessoas que podem falar com toda propriedade sobre ciência. Isso não deve ser desperdiçado”, afirmou.


Yves Queré, Diogenes Campos e Ernst Hamburger

Quéré apresentou algumas experiências desenvolvidas em seu país. Uma delas é um sistema on-line no qual professores de ensino médio e fundamental podem enviar perguntas para acadêmicos de renome responderem. O mecanismo funciona também para aconselhamento e oferta de sugestões por parte dos membros da academia, que podem propor novas metodologias e enfoques que atraiam mais os alunos. “Esse contato serve também para desmistificar os grandes cientistas”, garante.

O físico ainda elogiou o programa Mão na Massa do governo francês, que estimulou a montagem de laboratórios e o ensino prático das ciências nas escolas com a colaboração da academia francesa. Lançado em 1996, o programa conseguiu aumentar o percentual de crianças que aprendiam ciências de forma prática de 3%, em seu início, para 35%, em 2004.

A iniciativa francesa foi uma das inspirações do programa ABC na Educação Científica, desenvolvido com a prefeitura de São Paulo. Em seu escopo, foram capacitados 1.080 professores em 2008, além de ter produzido dois documentos de avaliação com bons resultados.

Criado com a colaboração de universidades e centros de pesquisa, o programa visava à melhoria da formação dos professores para que eles estimulassem as crianças a explorar o mundo com olhar científico. “A alfabetização científica deve ser precoce”, afirmou Diogenes Campos, membro da ABC e chefe do Museu de Ciências da Terra do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

O debate marcou o encerramento da Reunião Magna da ABC, iniciada na segunda-feira, dia 3 de maio.