Leonardo Menezes nasceu no Rio de Janeiro em 1972. Filho único, introspectivo, brincava como toda criança, mas sozinho. Lia muito e gostava de pesquisar em enciclopédias. Sempre gostou de ciências e tinha vontade de participar de feiras. No ensino médio, teve um professor de Física que o incentivou a estudar além do que precisava para a escola, tendo lhe dado o livro “A evolução da Física”. Na época, fez um curso de verão no Museu de Astronomia (MAST): foi aí que tomou gosto pela ciência, ir a sebos comprar livros, que lia com voracidade.

Graduou-se em Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde dedicou dois anos e meio à iniciação científica em espectroscopia ótica, orientado pelo Prof. Ricardo Barthem. No fim do curso começou a procurar alguma pós-graduação em Ótica não linear, especialmente em fibra ótica. “Só encontrei opções na Unicamp e na UFPE, visitei as duas e optei por Recife”, conta Leonardo, destacando que o que mais o impressionou na UFPE foi a disponibilidade das pessoas, que trabalhavam até mesmo na véspera do carnaval – e a festa em Pernambuco é uma das melhores do mundo.

Menezes cursou o Mestrado e o doutorado na UFPE, orientado por Cid Araújo, e pós-doutorados na Humboldt Universität zu Berlin e no Fritz-Haber Institut der Max-Planck Gesellschaft. Atualmente é Professor Adjunto III da Universidade Federal de Pernambuco, onde trabalha com nano ótica. Conseguiu recursos para a montagem de um laboratório que lhe permita desenvolver suas pesquisas, que já está pronto, com ótimos equipamentos. Agora, ele quer trabalhar com eletrodinâmica quântica de cavidades, numa abordagem experimental na região ótica do espectro eletromagnético. “É um trabalho de experimentação pioneiro no país”, apontou. O laboratório conta com três estudantes de iniciação científica, um de mestrado e há a expectativa de receber mais alunos. “A decolagem já foi feita, mas é preciso agora ganhar altitude.”

O trabalho de seu grupo consiste no estudo da interação da matéria com a radiação no nível quântico, o mais fundamental possível. Trabalham com matéria confinada, estruturas nanoscópicas de diversas naturezas (semicondutores, dielétricos, moléculas orgânicas individuais), buscando fazê-las interagir com a radiação eletromagnética confinada em microcavidades óticas. As microcavidades com as quais trabalham são microesferas dielétricas, estruturas esferoidais, com diâmetro de 40 a 50 micrometros, capazes de confinar a luz por um tempo muito longo, alguns microssegundos, numa região espacial muito pequena. “Ou seja, os campos elétricos associados a esses campos armazenados nas microcavidades são extremamente elevados. Isso é importante, porque um campo elétrico associado a uma radiação muito intensa com um tempo grande de armazenamento dessa radiação numa cavidade dá mais oportunidade de que essa radiação interaja com algum material colocado para interagir com ela. Essa é a idéia”, destacou o pesquisador.

Embora pareça complicada, a pesquisa tem aplicações imediatas como filtros muito estreitos em freqüência, usados em telecomunicações. Uma das limitações que existiam era a impossibilidade de se mandar sinais muito próximos em frequência um do outro numa mesma fibra ótica. “O filtro agora permite que esses sinais sejam enviados e diferenciados sem que as linhas se cruzem. O número de conversas dessas fibras óticas pode ser aumentado, a capacidade de transmissão de dados é ampliada.”

Outra aplicação de sua pesquisa se dá na produção de sensores ultra-sensíveis. “Existem ainda aplicações como armazenamento de informação quântica e seu processamento na área de computação quântica, muito popular hoje em dia e que move forças mundiais na sua elaboração”, lembrou Menezes.

A indicação para a ABC foi uma grata surpresa. “Sabia que havia essa modalidade de associação porque dois colegas meus, os professores Ernesto Raposo e Daniel Felinto, já haviam sido indicado em anos anteriores. Mas era algo completamente distante de mim, tenho 37 anos, achava que meu tempo tinha passado. Imagino que a indicação tenha partido do Prof. Cid, o que me deixou bastante satisfeito porque ele não é muito de elogiar. Mas de vez em quando acontece um negócio desses, que vale por todos os elogios”.

Menezes considerou a indicação um estímulo muito grande. “Acho que vai abrir portas para eu expor minha visão sobre a Ciência e a Tecnologia no país. Tenho uma série de críticas e idéias, minha voz vai ecoar de forma mais retumbante. Tive a oportunidade de participar do Simpósio de Jovens Cientistas da TWAS na ABC, no ano passado, uma experiência muito boa porque me permitiu interagir com pessoas de alto nível. As informações que circulam nas conversas são de qualidade elevada. É uma experiência que gostaria de repetir e já se constitui como resultado positivo por si só.”, concluiu Leonardo Menezes.