A comunidade brasileira de geocientistas terá uma rara oportunidade de participar dentro do próprio país de sessões técnicas e científicas lideradas por eminentes pesquisadores internacionais. Mais de dois mil participantes, entre pesquisadores, professores e estudantes, são aguardados em Foz do Iguaçu (PR), de 8 a 13 de agosto, para O Encontro das Américas – AGU 2010, que será realizada pela AGU (União Americana de Geofísica) em parceria com diversas sociedades e instituições cientificas do Brasil, América Latina e Estados Unidos.

Organizada para ser uma das maiores reuniões internacionais de geocientistas, o Encontro das Américas terá como objetivo tratar de todo o Sistema Terra de maneira multidisciplinar e integrada. O tema escolhido pelo comitê local para concentrar o foco do evento foi Mudanças Climáticas e Riscos Naturais, um assunto que desperta cada vez mais o interesse da mídia mundial mesmo após o fracasso da Cúpula do Clima, em Copenhagen, no ano passado. Uma das palestras já programadas será proferida pelo Acadêmico Carlos Nobre, diretor do INPE e representante brasileiro no IPCC (Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas das Nações Unidas).

Mas não faltarão outros temas como Oceanografia, Física Espacial, Riscos Naturais, Sismologia e Geofísica. (ver tabela). Cientistas de renome apresentarão seus estudos detalhados, não apenas para platéias extremamente especializadas, mas também para estudantes de vários níveis de escolaridade.

Eric A Davidson (WHOI, EUA), por exemplo, falará sobre as interações entre a floresta Amazônica e o clima no Brasil e na Terra. Os impactos do clima nas megacidades será o tema da pesquisadora Maria Silvia M. Araújo (Coppe/UFRJ). Em outra sessão, Leila Carvalho (IAG-USP) coordenará discussão sobre extremos climáticos (picos e recordes de chuva, temperatura, neve etc.) e avaliará quantas destas variações extremas são causadas pelo homem.

Outro que confirmou presença foi o sismólogo Eric Calais (Purdue University, USA). Calais previu em 2008 a possibilidade de um terremoto no Haiti de magnitude 7, baseado no histórico de sismos passados e em medidas de movimentação da placa do Caribe.

Por sua vez, Felipe Niencheski (Furg) apresentará estudos sobre o Aquífero Guarani e sua relação com a água superficial, importante em problemas de poluição do aquífero e de tempo de recarga e recuperação.

Temas polêmicos

Apesar de a hidreletricidade ser considerada uma forma de “energia limpa”, o físico e Acadêmico Luiz Pinguelli Rosa (Coppe/UFRJ) colocará em debate pesquisas indicando que reservatórios hidrelétricos podem emitir muito gás de efeito estufa. Polêmica não faltará.

Em paralelo, o pesquisador Aderson Nascimento (UFRN) mostrará estudos de tremores causados por barragens hidrelétricas e mineração. No Brasil mais de 20 reservatórios hidrelétricos já provocaram tremores de terra.

Nos seis dias do evento, está prevista a realização de 243 sessões científicas nas diversas áreas temáticas (ou disciplinas) que fazem parte das Ciências da Terra. As sessões serão coordenadas por mais de 660 cientistas que virão de várias partes do mundo. Os lideres das sessões estão distribuídos por locais de suas instituições de origem em: Estados Unidos e Canadá (270); Brasil (180); América Latina, excluindo o Brasil (100); Europa (90); Ásia (18) e Austrália (6).

Além de pesquisadores de universidades e institutos de pesquisa do Brasil, deverão liderar sessões do evento representantes de instituições como Columbia University (Lamont-Doherty Earth Observatory), University of California, Caltech, USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos), Institut de Physique du Globe de Paris, Berkeley, Yale, Michigan, Massachussets, Cornell, Texas, Toulouse, Trieste, México, Chile, Kyoto, Adelaide, Australian Commonwealth Scientific and Research Organization (CSIRO), Massachusetts Institute of Technology (MIT) e National Aeronautics and Space Administration (NASA), entre muitas outras

Maturidade e parcerias

“O elevado número de sessões reflete a maturidade das Geociências no Brasil uma vez que uma parcela significativa foi proposta por brasileiros juntamente com pesquisadores de centros de pesquisa e universidades de outras partes do mundo, ou seja, as sessões refletem parcerias já existentes”, afirmou o Acadêmico Marcelo Assumpção, da Universidade de São Paulo, líder do comitê cientifico do Encontro das Américas, junto com Peter Swart, da Universidade de Miami.

Assumpção coordena também o comitê local constituído por membros da Sociedade Brasileira de Geofísica (SBGf) , que desde sua fundação tem mantido estreita relação com a AGU através de participação em eventos científicos, especialmente nas disciplinas de Geofísica da Terra Sólida e de Física Espacial. Para o professor da USP, nas sessões propostas exclusivamente por pesquisadores de fora do Brasil, será possível abrir futuras parcerias e colocar a comunidade brasileira frente a novas linhas de pesquisas que necessitam ser fomentadas no país.

Atividades paralelas

Além das sessões técnicas estão previstos, quatro cursos pré-congresso e um curso pós-congresso. Para mais informações, veja a página do evento http://www.geophysics2010.org/courses.htm:

Também estão previstas duas visitas técnicas à Usina de Itaipu. Uma, para observar questões geológicas e geotécnicas e outra com ênfase em questões hidrológicas do Rio Paraná. Outro destaque será dado a uma excursão pós-Congresso, onde se poderá visitar duas Crateras de Impacto no Basalto do Paraná.

Duas exposições de divulgação científica ocorrerão em paralelo ao evento e serão voltadas para atrair o interesse de estudantes de ensino fundamental e médio das redes pública e privada local para o estudo das geociências: Ciência Móvel do Parque Cientec, da Universidade de São Paulo; e a exposição interativa “O que é Geofisica?”, patrocinada pela Sociedade Brasileira de Geofisica.

Os detalhes dos cursos e excursões podem ser acessados pelo site do evento em www.geophysics2010.org

A programação científica completa pode ser vista em www.agu.org/meetings/ja10

American Geophysical Union

Com 90 anos completados no ano passado, a AGU congrega pesquisadores ligados a diversas disciplinas que têm como objetivo o estudo do sistema Terra, seu interior, as partes sólida e fluída e também seu espaço externo e outros planetas. Com sede em Washington DC, a AGU conta com mais de 58 mil sócios em todos os continentes, sendo que aproximadamente 30% dos associados são originários de fora dos Estados Unidos.

A entidade publica conceituados periódicos científicos como o “Journal of Geophysical Research”, que aborda temas relacionados à Terra sólida, oceanos e ciências atmosféricas, o “Tectonics”, o “GRL” (Geophysical Research Letters), o “G3” (Geochemistry, Geophysics and Geosystems) e livros especializados. Além disso, a AGU edita um boletim semanal (EOS Transactions of the AGU) e mantém uma página na internet atualizada e dinâmica (www.agu.org).

É a primeira vez que o Encontro das Américas é organizada pela AGU na América do Sul. O evento já foi realizado em Montreal, Canadá (2004), Nova Orleans, EUA (2005), Baltimore, EUA (2006), Acapulco, México (2007), Fort Lauderdale, EUA (2008) e Toronto, Canadá (2009).

Informações adicionais sobre o evento estão em www.geophysics2010.org e www.agu.org/meetings/ja10

Serviço

Evento: O Encontro das Américas – AGU 2010
Data: 8 a 13 de agosto de 2010
Local: Centro de Convenções do Hotel Rafain Palace, Foz do Iguaçu, Paraná
Submissão de resumos: Até 31 de março de 2010
Realização: AGU – American Geophysical Union
Apoios: CNPq, CAPES, ABC – Academia Brasileira de Ciências, SBMET – Sociedade Brasileira de Meteorologia, AAGG – Associación Argentina de Geofísicos e Geodestas, SBG – Sociedade Brasileira de Geologia, SBGf – Sociedade Brasileira de Geofísica, ABEQUA – Associação Brasileira de Estudos do Quaternário, ABRH – Associação Brasileira de Recursos Hídricos, SUG -Sociedad Uruguaya de Geologia, LATINMAG – Associacion Latinoamericana de Paliomagnetismo e Geomagnetismo, CERESIS – Centro Regional de Sismología para América del Sur, IASPEI International Association of Seismology and Physics of the Earths Interior, International Association of Hydrological Sciences, UGM -Unión Geofísica Mexicana, IGEO – Intl Geoscience Education Organization, ALAGE – Associação Latinoamericana de Geofísica Espacial, SBGq – Sociedade Brasileira de Geoquímica, SBC – Sociedade Brasileira de Cartografia e Geodésia, SEG- Society for Exploration Geophysicists, SGC – Sociedade Geológica de Chile e EMBRATUR – Ministério do Turismo.