A diferença de tamanho entre uma bolinha de Natal e a Terra equivale ao comparativo do diâmetro da própria bolinha com uma partícula nanométrica. Depois de os cientistas revelarem segredos das células de DNA, são microdetalhes até 250 vezes menores que estão em estudo nos principais laboratórios de universidades do Brasil e mundo afora.

Todo funcionamento de um organismo vivo se dá em nível molecular, explica o professor de Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro Afiliado da ABC Ado Jório de Vasconcelos, recém empossado presidente da Rede Brasileira de Microscopia de Varredura por Sondas (Rede SPM Brasil).

A entidade é formada por um grupo de instituições de pesquisa no país que congrega cientistas ligados ao mesmo tema, tendo como foco do estudo a instrumentação – desenho e desenvolvimento de sistemas apropriados para a microscopia. Desde a formação da Rede SPM Brasil, há quatro anos, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) destinou R$ 3,1 milhões para bolsas de estudos e de capacitação, compra de equipamentos e outros investimentos.

O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) definiu a nanotecnologia e a nanociência como áreas estratégicas. Segundo Ado, doutor em física pela UFMG e com título de pós-doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Boston (EUA), a intenção é fomentar pesquisadores para fazer intercâmbio e trocar informações. “Em vez de os esforços serem localizados e ficarem fechados em um laboratório, são somados”, explica.

No Brasil, a pesquisa em instrumentação ainda é pouco procurada. Enquanto nos Estados Unidos são destinados 6% dos recursos de pesquisa e desenvolvimento (p&d) para estudos, aqui a verba e o número de cientistas são bem menores. Agregando praticamente a totalidade de estudiosos, a rede é formada por cerca de 50 pesquisadores, entre professores, graduandos e doutores.

Partículas

Um dos investimentos da Rede SPM Brasil permitiu a construção de um sistema capaz de rastrear partículas nanométricas: o espectrômetro. No mundo, o experimento existe em apenas outros dois centros de estudos: o Instituto de Ótica de Rochester (EUA) e a Ludwig Maxmillians Universitaet, na Alemanha. Por meio do envio de luz sobre uma partícula, o aparelho é capaz de revelar a imagem e o espectro de um nanômetro.

Segundo o professor da UFMG, um microscópio tem potencial centenas de vezes inferior à capacidade de um espectrômetro. “O microscópio é limitado. Só consegue focar até certo ponto, depois ocorre difração e a partícula começa a ficar embaçada”, esclarece.

No caso do sistema montado na UFMG, o laser é lançado e refletido em semiespelhos até chegar a uma ponta de ouro, ocorrendo a concentração de um ponto magnético específico, à escolha do próprio cientista – sendo que a luz traduz a partícula com bastante semelhança, sendo pouco invasiva na estrutura.

Dali, é refletido novamente em outro semiespelho, sendo que parte desse material forma a imagem – traz informação visual -, e outra parte, o espectro – detalhes estruturais e da química molecular. A primeira permite identificar quais são os átomos e as ligações químicas, enquanto a segunda revela como as ligações estão estruturadas no espaço.

Num dos estudos desenvolvidos por integrantes da rede, é esperado que uma das peças que compõe o espectrômetro tenha custo reduzido em mais de 10 vezes. O mecanismo é importado por US$ 60 mil e a estimativa é que o produto feito pelos estudantes brasileiros possa ser vendido por R$ 10 mil. “A partir do desenlace de produtos, tanto o conhecimento adquirido quanto o material final podem ser vendidos”, diz o físico.