O segundo dia do Encontro sobre Educação na Primeira Infância, organizado pela ABC em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e coordenado pelo Acadêmico Aloísio Araújo, contou com cinco especialistas de destaque em suas áreas, oriundos do Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e EUA.

Desenvolvimento na primeira infância: mitos e verdade

Sir Michael Rutter abriu o ciclo de palestras no dia 18 de dezembro, falando a respeito dos mitos e verdades da educação infantil. Rutter é clínico geral, neurologista, pediatra e psiquiatra, chefe do Departamento de Psiquiatria Infantil e de Adolescentes do Instituto de Psiquiatria, em Londres e diretor honorário do Conselho de Pesquisas Médicas – Unidade de Psiquiatria Infantil, no Reino Unido. Seus estudos sobre autismo; depressão; comportamentos anti-sociais; dificuldades de leitura; crianças carentes; crianças hiperativas; resultados e efeitos das escolas; e sobre crianças cujo problema psiquiátrico tem claramente um componente orgânico resultaram em inúmeras publicações de destacada importância.

O médico começou afirmando que é apenas durante a pré-escola que influências do ambiente podem ter impacto biológico duradouro an criança, porque é nessa época que ocorre o crescimento acelerado do cérebro. Certo? Errado. Essa afirmação foi o mito que Rutter escolheu para combater em sua palestra. Explicou que o cérebro continua a crescer até o início da idade adulta e que outras experiências no decorrer da vida demonstraram ter efeitos nervosos.

Ademais, descobriu-se que a superprodução inicial de neurônios e sinapses é seguida pela supressão das conexões não-funcionais. Viu-se que esse processo não ocorre apenas na infância, mas também na adolescência. Além disso, o tempo em que tudo isso ocorre varia muito para cada região do cérebro e se manifesta de formas diversas, dependendo do indivíduo. Rutter listou ainda os exemplos do taxista, do violoncelista e do malabarista, que possuem cada um característica peculiar na forma do cérebro, desenvolvida de acordo com suas respectivas atividades.

O segundo mito que o pesquisador se propôs a derrubar foi a crença de que só há um tipo de efeito biológico. Três evidências o contrariavam. O efeito experiência-expectante seria o primeiro. Ele foi descoberto através de experimento sobre a visão binocular e o desenvolvimento do córtex visual. O termo expectante é usado porque ele constitui o conjunto das experiências previsíveis. Outro efeito é o da experiência-adaptativa. Esse, inversamente, corresponde ao efeito das variações sem as manifestações habituais do meio. O terceiro efeito é o da experiência-dependente. Ao contrário dos outros dois, esse não resulta de nenhum tipo de período de restrição sensível.

Em seguida, Rutter explicou que se há um efeito neural, isso levará necessariamente a uma mudança permanente na função. Inversamente, se não há efeito neural, pode não haver nenhuma mudança permanente na função. Mas nisso consiste o terceiro mito. Essas afirmações são falsas porque há muitos exemplos de recuperação que acaba, ela e não os efeitos, definindo a lesão cerebral. Outro fato que contradiz o mito é a atuação dos efeitos epigenéticos, que não são função do desenvolvimento ou supressão neurais. Finalmente, os efeitos duradouros do estresse físico nas funções e estruturas neuroendócrinas vêm derrubar definitivamente o mito.

Muito se tem discutido que os efeitos produzidos pelo ambiente no cérebro em períodos críticos de crescimento são universais e invariáveis. Michael Rutter, porém, revela a natureza mítica dessa suposição. Há boas evidências de que a genética influencia significantemente nas vulnerabilidades ao meio. Outro argumento é o de que experiências aparentemente similares podem conduzir a resultados diametralmente opostos, observando-se efeitos de fortalecimento ou vulnerabilização do organismo.

O quinto mito diz respeito à hipótese de que efeitos das variações em experiências normais são similares aos efeitos extremos das experiências anormais. Rutter contradiz essa idéia explicando que apesar de ser abundantemente comprovada a durabilidade dos efeitos dos abusos físicos e sexuais, são escassas as evidências da eficiência da variação dos níveis controlados de castigo corporal. Acrescenta ainda que descobertas genéticas têm deixado clara a diferença entre o castigo corporal e o abuso físico.

No sexto mito, encontra-se a idéia de que, em razão de os efeitos das experiências ordinárias na idade adulta não costumarem alterar a estrutura neural, seria improvável elas produzirem efeitos psicológicos. É redargüido por Rutter que pesquisas têm demonstrado que a maioria dos efeitos de reviravolta na vida adulta está relacionada, por exemplo, ao casamento.

No sétimo e último mito apresentado, Rutter, expôs a hipótese de que, se experiências na primeira idade são variadas probabilisticamente e individualmente em seus efeitos, não há motivo em focar as intervenções nos primeiros anos de vida. Os argumentos usados para contradizer tal hipótese são que as experiências na infância são as primeiras e, por isso, podem moldar as experiências seguintes e que, em algumas circunstâncias, experiências extremas nessa idade podem ter efeitos acentuados e duradouros. Concede-se, porém, ao mito, a percepção de que intervenções efetivas na primeira idade não dispensam a necessidade de atenção nas experiências posteriores e que o fato de os efeitos das primeiras experiências serem duradouros não significa que esses efeitos serão permanentes e não poderão ser alterados.

Finalmente, Rutter concluiu que os primeiros anos de vida não são determinantes, porém, são de importância destacada por virem primeiro e moldarem as experiências posteriores, além de ocasionar efeitos biológicos duradouros, em circunstâncias ambientais extremas. Acrescenta que as intervenções na infância não bastam em si, sendo crucial acompanhamento posterior. Finalizou afirmando que ainda se tem muito que aprender a respeito dos elementos chave da intervenção efetiva e dos fatores que sublinham as diferenças individuais em resposta.

Os efeitos do primeiro desenvolvimento na saúde, no comportamento e no aprendizado

Em sua palestra, apresentada no dia 18 de dezembro, segundo do Encontro sobre Educação na Primeira Infância, James Mustard dissertou acerca dos efeitos do desenvolvimento infantil na saúde, no comportamento e no aprendizado.

James Fraser Mustard é um dos líderes mundiais em pesquisa na área médica. Dedica-se ao desenvolvimento infantil em seu período crucial, até os seis anos de idade. É um defensor da importância do desenvolvimento cerebral nos primeiros anos de vida para a saúde, qualidade de vida, comportamento e aprendizado pelo resto da existência do indivíduo. Influenciou políticas de saúde no Canadá, atuando em diversos comitês federais e locais, conselhos e comissões. Atualmente está envolvido em projetos com os governos do Canadá e Austrália, Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Unicef e da Universidade Aga Khan, no Paquistão.

Segundo Mustard, as doenças que se manifestam na idade adulta podem ter origem na infância ou até mesmo no período fetal. Para defender sua posição, cita os pesquisadores Barker e Robinson, que em 1992 revelaram que o desenvolvimento infantil neurobiológico define o risco de pressão alta e doença coronária na idade adulta. Mustard ainda citou Gluckman, outro palestrante do evento, quando defendeu a replicação extensiva das observações epidemiológicas de que magreza e pouca estatura no nascimento e na infância estão associadas ao aumento de doenças coronarianas, derrame cerebral, diabetes mellitus tipo 2, adiposidade, síndrome metabólica e osteoporose na vida adulta.

Mustard ainda falou a respeito da relação entre os primeiros anos de vida e a linguagem. Ele explicou que nos primeiros sete meses, o bebê aprende a diferenciar os idiomas a partir de sua sonoridade. É nessa época que ele define sua capacidade de lidar com diversas línguas e traça a trajetória para o segundo e terceiro estágio do aprendizado lingüístico.

Knusen foi citado em sua pesquisa de 2004, que revelou que os níveis mais altos do circuito cerebral dependem de informações precisas e conectadas vindas de níveis mais baixos para cumprir suas funções. Ora, observou-se que períodos sensíveis de desenvolvimento dos circuitos de níveis mais baixos acabam cedo, sendo necessário desenvolvê-los prontamente para atingir níveis acima. Ademais, os circuitos de níveis altos permanecessem plásticos por um período de tempo maior.

Em seguida, Mustard listou instrumentos de desenvolvimento na primeira idade. São eles: a saúde física, o bem estar, o conhecimento e a competência sociais, a saúde emocional, a maturidade, o desenvolvimento lingüístico e cognitivo, as habilidades comunicativas e o conhecimento geral. Percebe-se que muitos elementos já são em si conseqüências do desenvolvimento, como a maturidade ou o conhecimento geral. Porém eles também são causa para o crescimento posterior, são níveis altos que permitem atingir outros ainda superiores.

O tema tratado a seguir foi a Neurobiologia. Mustard explicou que o cérebro não é produzido apenas pelos genes. Ele é esculpido pela sucessão das experiências, sendo as primeiras as mais crucias e condicionantes. Daí a importância dos primeiros anos de vida. Ele se propõe em seguida a definir o conceito de experiência. Ela seria tudo aquilo com o que o indivíduo se defronta desde o período pré-natal e durante a vida toda. Cita como exemplo os sons, os cheiros, a luz, a comida, entre outros.

Para refutar a tese de que o cérebro é definido geneticamente, Mustard explica que todos os neurônios contêm o mesmo DNA, apesar de possuírem funções distintas como, por exemplo, os neurônios que enviam as informações e os que as recebem. O que diferenciaria as funções dos quase 100 bilhões de neurônios contidos no cérebro seria a intervenção do meio na natureza e na alimentação das funções normais dos genes. Seus fatores seriam os epigenéticos e os microRNAs.

Dessa forma, conclui Mustard, as primeiras experiências afetam a manifestação dos genes e os caminhos neurais; moldam as emoções; regulam o temperamento e o desenvolvimento social; e ainda moldam as habilidades perceptiva e cognitiva; a saúde física e mental; o comportamento na vida adulta; a coordenação motora; e as capacidades idiomáticas e lingüísticas.

Após a análise teórica do assunto, Mustard buscou ancorar todos os argumentos já levantados em dados empíricos, ou seja, os programas desenvolvidos e seus resultados. Ele começou apresentando uma lista de evidências da eficiência dos programas de desenvolvimento da primeira idade. Comparou-se um grupo de indivíduos de 45 anos que tiveram intervenção a outro que foi apenas controlado. Observou-se que o dobro dos acompanhados tinham melhor emprego que os controlados, que um terço a mais havia completado o segundo grau, que o crime caira 40%, mesmo índice da gravidez, e que consumiam menos drogas.

Mustard, mais uma vez, citou um colega. Foi Heckman, Prêmio Nobel de Economia em 2000, que afirmou: não podermos postergar o investimento em crianças para quando elas forem adultas nem podemos esperar elas completarem a escola – poderá ser tarde demais para intervir.

Na seqüência, foram expostas pesquisas comparativas dos países latinoamericanos em diversos quesitos. O destaque foi Cuba, que primou nos resultados lingüísticos, no gradiente sociocultural da educação dos pais; nas baixas taxas de violência; na alta quantidade de crianças matriculadas na pré-escola; e no bom nível da leitura dessas crianças.

A prevalência de Cuba e seu destaque afirmado pelo palestrante não devem, entretanto, ser interpretados como defesa às ditaduras, mas sim como incentivo ao ideal democrático. Tanto que os resultados favoráveis de Cuba levaram seu vizinho democrático México a adaptar muitos elementos dos programas de desenvolvimento infantil no CENDI (Centro de Desarollo Infantil), focando a saúde e a educação das crianças mexicanas. O CENDI já rendeu bons resultados em comparações com países de primeiro mundo, como o Canadá, nas quais demonstrou menor número de repetentes.

Mustard, mais uma vez, citou seus colegas de pesquisa para encerrar a palestra com quatro recomendações. A primeira, feita por Pascal em 2009, conclama a província a criar um continuum de aprendizado infantil, cuidado da criança e suporte familiar desde o período pré-natal até o fim da adolescência, sob a liderança do Ministro da Educação. A segunda recomendação de Pascal aconselha o Ministro da Educação a estabelecer uma Divisão da Primeira Idade para desenvolver e implementar um sistema de políticas para a infância que poderá estabelecer continuidade das experiências de aprendizado para crianças de 0 a 8 anos de idade.

A WHO (World Health Organization) também recomendou em agosto de 2008 que ela mesma, em associação com a UNICEF, criasse um mecanismo entre as agências para garantir coerência no desenvolvimento das crianças. A mesma agência ainda pediu aos governos do mundo todo a criação de um suporte internacional para um pacote de programas que fomente o desenvolvimento qualitativo da primeira infância e aumente as assistências às crianças, mães e responsáveis, independente de suas rendas.

Sem dúvida, o principal aporte de Mustard em sua palestra foi a reafirmação da educação como base de qualquer sociedade. Para a nossa em especial. Afinal, segundo palavras do próprio palestrante, “como se pode ter democracia sem educação?”

Alfabetização da Saúde

Mark Hanson foi o terceiro palestrante do segundo dia do Encontro sobre Educação na Primeira Infância. Os assuntos abordados por Hanson foram os mecanismos por trás da origem precoce dos riscos ao desenvolvimento e as possibilidades de intervenção.

Diretor fundador do Instituto de Ciências do Desenvolvimento da Universidade de Southampton, diretor da Divisão de Origens do Desenvolvimento de Saúde e Doença na Universitys School of Medicine e professor de Ciência Cardiovascular na Fundação Britânica do Coração, Mark Hanson possui notoriedade no meio científico. Suas pesquisas, apresentadas no evento, focam as condições de desenvolvimento do feto no útero materno e a influência deste período para desenvolvimento de enfermidades posteriores, incluindo doenças circulatórias, do coração, diabetes do tipo 2 e obesidade.

Hanson iniciou a palestra refutando a crença de muitos especialistas de que se deveria intervir na fase da vida onde as doenças começam a se manifestar. Seus estudos demonstraram a perda de eficiência do corpo em responder às doenças conforme o passar dos anos. De fato, suas pesquisas indicam que quanto mais velha for a pessoa, menor será sua plasticidade orgânica, menor sua resposta a novas doenças e maior o risco de contrair males crônicos. Por isso, não se deveria esperar a manifestação da doença, mas intervir desde cedo na prevenção.

Outra crença desconstruída por Hanson – a genética como determinante das doenças – perdeu espaço. É aceito que a genética condiciona a doença, mas não se deve desprezar a influência significante da epigenética, e de que forma ambiente e desenvolvimento também condicionam as doenças e a própria constituição orgânica do indivíduo. Como exemplo, Hanson expôs a diferença existente entre as abelhas operárias e a rainha. Apesar de constituírem-se em um mesmo genótipo, rainha e operária distinguem-se quanto ao fenótipo, diferença esta definida pela alimentação.

Hanson transpôs essa observação das abelhas para a humanidade em seu estudo da importância da dieta da mãe durante a gravidez, desenvolvido em Southampton. Nesse estudo, verificou-se direta relação entre o peso da mãe e a futura obesidade do filho. Daí a necessidade de se tratar a virtual doença antes mesmo do nascimento da criança, através da educação e conscientização das mães grávidas. Dessa forma, elas poderiam se alimentar melhor e preparar em si mesmas o desenvolvimento saudável do filho.

Na conclusão, Mark Hanson relembra Paulo Freire e a necessidade de empoderamento das mães, para ensinar-lhes a importância de cuidar da própria saúde para passar isso desde cedo aos filhos. Tal educação é conceituada pelo palestrante como Alfabetização da Saúde, conceito, por sua vez, sintetizado no lema “Me, my health and my children health”.

Por que eventos na primeira infância têm conseqüências duradouras – implicações para as políticas públicas

A palestra de Peter Gluckman seguiu a de Mark Hanson não apenas no quadro de horários. As pesquisas de ambos os cientistas também convergem na defesa da importância do pré-natal e da educação dos pais.

Peter Gluckman é professor de Pediatria e Biologia Pré-natal na Universidade de Auckland, na Nova Zelândia e consultor científico do Primeiro Ministro do país. Foi chefe do departamento de Pediatria e diretor da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde.

Profundamente envolvido em diferentes aspectos de políticas de desenvolvimento em ciência, saúde e educação, estuda a importância do inicio da vida dos seres humanos, procurando entender como o ambiente a que está exposto o bebê entre a concepção e o nascimento determina sua infância e saúde ao longo da vida – e o impacto deste conhecimento para indivíduos e populações.

Assim com Hanson, Gluckman percebe relação direta entre a saúde da mãe em período pré-natal e à do filho. Foi observado que características da mãe em fase de gestação se refletirão em toda a vida do filho, daí a necessidade de se dar relevância e prioridade a essa fase.

Tendo em vista esses princípios, Peter Gluckman desenvolveu programas na Nova Zelândia, mais especificamente em Auckland, onde vive e leciona, que atende à conscientização da saúde. Nesses programas, o professor leva crianças aos hospitais e laboratórios, com o fim de ensinar a importância de hábitos de saúde e de higiene desde cedo. Dessa forma, essas crianças poderão ser, futuramente, pais conscientes. Como resultado, as crianças entendem melhor a importância de cuidar da saúde e ainda podem vir a se interessar por carreiras cientificas.

Na palestra, também foi ressaltada a questão da puberdade, área a que se tem dedicado Gluckman, e de que forma ela tem sido cada vez mais precoce. É uma questão relevante na medida em que foi observado que a média de idade da primeira menstruação caiu de 17 anos no século XVIII para 13 anos atualmente.

A adolescência vem aumentando em tempo e as mudanças na sociedade são as mais responsabilizadas pelo fenômeno. Duas possíveis razões são a exigência por mais maturidade das crianças, cada vez mais independentes, e a aparente liberdade que simboliza a adolescência, visão patrocinada pela propaganda, cuja maior parte se destina a esse público.

Peter Gluckman concluiu sua palestra alarmando para esse fenômeno e as futuras complicações que pode engendrar. Lamentou a ausência de políticas públicas e lembrou que ainda há um longo caminho a percorrer no atendimento a essas crianças, adolescentes precoces.

Risco, resiliência, e genética x interações ambientais em primatas

Stephen Suomi é chefe do Departamento de Etologia Comparada do Wisconsin, do National Institute of Child Health And Human Development e do National Institue of Health nos EUA. Possui mestrado e doutorado em Psicologia pela Universidade de Wisconsin. Suas pesquisas se notabilizaram pela busca de características humanas no comportamento animal, em especial nos macacos. Acredita que a pesquisa feita com um olhar distanciado possa revelar atributos humanos em geral despercebidos.

O pesquisador desenvolveu seu estudo com um grupo de macacos que em muito se aproximam dos homens em seus comportamentos, apesar de a genética não corresponder a tal proximidade. Uma das semelhanças percebidas é a capacidade de adaptação desses macacos: como os humanos, eles vivem em muitos lugares diferentes.

Tais primatas vivem em grupos e as fêmeas permanecem no mesmo grupo a vida inteira. Os machos, por sua vez, saem na puberdade e são incorporados por outros grupos. Entre os machos notam-se dois comportamentos distintos: um mais agressivo e outro mais medroso. Os mais medrosos demoram mais a sair do grupo. Essa característica acaba sendo compensada, já que com sua permanência eles têm mais tempo para se fortalecer e se desenvolver, aumentando suas chances de sobrevivência.

Essa espécie de macaco tem uma forte relação com as mães. No primeiro mês de vida, vivem constantemente ao seu lado; depois começam a se afastar, mas sempre voltam para a mãe. Essa característica só se ameniza no momento de se desvincular do grupo. Outro elemento revelador dessa proximidade entre mães e filhos é a relação face a face, algo visto até então apenas entre humanos. Considera-se que esse tipo de relação permite à mãe passar um conjunto de valores e definir o certo e o errado para o filho.

Suomi chegou a essas conclusões através de experimento em que os bebês macacos eram separados da mãe, colocados no laboratório com outros macacos até seis meses de idade, depois devolvidos à mãe e ao grupo. Observou-se que o vínculo com a mãe manteve-se forte.

Percebeu-se também que esses macacos se apegam muito uns aos outros, não costumam explorar e brincam pouco. Posteriormente, ficam mais medrosos e agressivos. Outra característica é que esses macacos apresentam níveis de cortisol maior e menor atividade cerebral. Ademais, quando se oferece álcool para os macacos em geral, estes apresentam maior tendência ao alcoolismo.

A conclusão que se tira das análises desse grupo de macacos se resume em dois pontos. Um deles é a importância da mãe e dos primeiros anos, experiências que seguirão latentes em toda a vida desses macacos. O outro é a importância do comportamento medroso, que resulta em ser mais seguro e acaba garantindo a sobrevivência da espécie.

Ao final, Suomi discursou acerca da genética, comparando vários primatas. Ele disse notar que os mais agressivos só apresentam um determinado gene curto, enquanto os mais calmos apresentam este gene longo. Acrescenta que a principal semelhança entre os macacos estudados e os humanos é o fato de ambos serem os únicos heterozigotos entre os primatas.

Finalmente, ele demonstrou reticência em usar a genética como determinante, sem, contudo, desprezar o argumento de que a diversidade genética pode ser uma vantagem adaptativa e propôs o resgate de Lamarck, que acredita ter sido mal interpretado.