No V Seminário Nacional ABC na Educação Científica, o professor e Acadêmico Ernst Hamburger, ex-diretor da Estação Ciência, ligada à Universidade de São Paulo (USP), falou sobre as ações do pólo de São Paulo no programa ABC na Educação Científica – Mão na Massa durante o biênio de 2008-2009.

O pólo paulista foi o piloto do programa no Brasil e contou com o apoio das Secretarias de Educação do estado e dos municípios. Atualmente, o programa, que privilegia o ensino de ciências baseado na investigação e busca atingir crianças nos primeiros anos escolares (1ª a 5ª séries), possui cerca de 100 escolas da rede municipal envolvidas – uma pequena amostragem num universo de mais de 1.000 escolas.

O principal foco do programa é a formação de professores e também de formadores de professores. “Ensinar Ciência para crianças é um grande desafio, pois os educadores têm que desenvolver aptidões tanto pedagógicas quanto científicas, já que seu trabalho envolve não só a transmissão de conteúdo, mas também a formação interpessoal e o despertar do indivíduo para o conhecimento”, disse Hamburger. Para tanto, é necessário que o professor receba uma boa formação e seja valorizado pela sociedade, atingindo o mesmo patamar socioeconômico que um médico ou um engenheiro.

No pólo da Estação Ciência da USP, os professores receberam um curso de longa duração, cujo objetivo era prepará-los para ensinar Ciências de um modo atraente e envolvente para as crianças, aproximando o conteúdo de seu cotidiano e fazendo com que elas aprendam por conta própria, através da investigação. “Uma pessoa que só decorou pode ter um bom desempenho imediato. No entanto, logo depois ela esquece aquilo e volta às crenças iniciais” ressaltou Hamburger, ao apontar para a importância dessa metodologia de ensino de Ciências.

O Acadêmico citou uma pesquisa feita por uma professora francesa, na década de 70, em escolas primárias e universidade. Ao perguntar sobre a queda dos corpos, ela constatou que o conceito instintivo de que o objeto mais pesado cai mais rápido era comum entre crianças que não haviam estudado o tema, mas que todas assimilaram que todos os corpos caem na mesma velocidade após terem uma aula sobre o tema. Entretanto, ao questionar universitários da área de humanas, ela percebeu que muitos deles haviam voltado a crença inicial. “Isso ocorre devido à falta da investigação e da experimentação”, reforçou Hamburger.

Ao fim da formação – que aborda temas recorrentes nas escolas, como fenômenos naturais, meio-ambiente e higiene, e busca salientar a importância social das ciências e a necessidade de uma interdisciplinaridade, buscando a elaboração de módulos didáticos e troca de experiências – espera-se que o professor seja capaz de dar continuidade ao programa por conta própria: planejando suas aulas, produzindo materiais didáticos, procurando temas próximos à realidade dos alunos e nunca deixando de estudar.

Para avaliar o método, foram aplicados testes aos alunos e professores. “Os testes foram planejados como uma aula comum, só que com uma observação externa”, esclareceu Hamburger. Um desafio foi proposto para os alunos, que deveriam encontrar uma resposta através do método de investigação cientifica: primeiro formulavam uma hipótese, depois faziam as experiências e, a partir da observação, tiravam suas conclusões. O resultado da avaliação foi muito satisfatório: “Percebemos que o conhecimento estava chegando onde nós queríamos”. A avaliação dos professores, feita através de questionários, reforçou essa conclusão: eles ressaltaram que com o programa as crianças demonstraram maior interesse e assimilação do conteúdo.

O Acadêmico terminou sua apresentação reforçando a importância da mudança do ensino de Ciências, tornando-o mais interativo e próximo das crianças, o que ajuda a desenvolver nos alunos uma postura crítica. Para isso, ele lembrou da importância da formação dos professores e destacou o papel que as universidades devem desempenhar, aperfeiçoando a licenciatura e mantendo uma comunicação com a rede fundamental e média de ensino.

* O V Seminário Nacional ABC na Educação Científica – Mão na Massa foi realizado com o patrocínio do Programa Desenvolvimento & Cidadania Petrobras

(Elisa Oswaldo-Cruz e Julia Dias para as Notícias da ABC)