No período de 29 e 30 de outubro de 2009 foi realizado, na Universidade Federal de Minas Gerais, o workshop A Crise da Água e o Desenvolvimento Nacional: um Desafio Multidisciplinar. Este evento foi organizado pelo Grupo de Estudos sobre Recursos Hídricos da ABC, coordenado pelo Acadêmico José Galizia Tundisi, em parceria com a Vice-Presidência Regional da ABC em Minas Gerais e Centro-Oeste, ocupada pelo Acadêmico Francisco César de Sá Barreto.


Alexandre Lima de F. Teixeira (ANA); Denise Bicudo (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, SP);
Neusa Marcondes (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, SP); Ivanildo Hespanhol (USP);
Wagner Costa Ribeiro (USP); Carlos Nobre (INPE); José Carlos Mierzwa (USP);
Francisco Barbosa (UFMG); Ricardo Hirata (USP): Carlos Bicudo

Parte do Ciclo de Conferências ABC-UFMG-Fapemig, o workshop teve como coordenadores científicos, além do próprio Tundisi, o pesquisador Carlos Eduardo de Mattos Bicudo, da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, e o professor Francisco Antônio Rodrigues Barbosa, da UFMG. Dentre os conferencistas estavam os Acadêmicos Carlos Afonso Nobre e Virgínia Ciminelli.

De acordo com o Prof. Bicudo, o objetivo principal da reunião foi reunir especialistas de diferentes áreas do conhecimento para apresentar suas visões sobre os recursos hídricos e sua absoluta importância estratégica para o desenvolvimento nacional. Foram debatidos aspectos como qualidade e quantidade, abastecimento e saúde pública, indústria, mineração, reuso, agricultura e conservação da biodiversidade, com o objetivo de oferecer subsídios e diretrizes para políticas de gestão desse recurso essencial para a sociedade.

O evento contou com palestras de onze especialistas nas áreas de gestão, abastecimento, água subterrânea, mudanças climáticas globais, geografia política, limnologia, química e engenharia. O público foi constituído por cerca de 130 pessoas, entre professores e pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, técnicos especializados, estudantes de graduação, pós-graduação e público em geral.

A reunião plenária consolidou as discussões dos temas apresentados, salientando pontos considerados essenciais para a melhoria da gestão dos recursos hídricos no Brasil. No debate foram elencadas sugestões a serem aprofundadas no Grupo de Estudos sobre Recursos Hídricos da ABC, para eventual inclusão no Plano Nacional de Recursos Hídricos, e considerações para a atuação da Agência Nacional de Águas.

Os pontos destacados foram gestão de águas transfronteiriças, detalhamento das ecorregiões aquáticas com vistas à conservação e ao uso sustentável dos recursos hídricos, capacitação de gestores municipais, ampliação do reuso de água, referenciação geológica da água quanto ao suprimento e aos processos de contaminação e geodinâmica, recuperação de séries históricas, os efeitos das mudanças climáticas globais, cenários de segurança hídrica, entre outros. A plenária também decidiu pela elaboração de um documento-síntese.

Multidisciplinaridade: estratégia fundamental

Na avaliação da Profa Kyoko Furuya, do Instituto de Física da Unicamp e membro da Comissão Organizadora do evento, o resultado foi excelente, pois cada palestrante abordou os problemas, dificuldades e soluções direcionadas à sua especialidade. “A interdisciplinaridade foi um ponto extremamente importante, pois cada um dos presentes pôde ouvir diferentes pontos de vista, o que tornou as discussões extremamente ricas e diversificadas.”

Furuya destacou as palestras do Prof. Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), sobre a relação da questão climática com a água, com detalhes de diversos estudos; os testes de membranas biológicas para reuso da água apresentados pelo Prof. Ivanildo Hespanhol, engenheiro da USP-São Carlos, e os trabalhos realizados pelo grupo da Profa Ciminelli, da Escola de Engenharia da UFMG, sobre os efeitos da indústria mineral sobre a água. “Para mim, que sou da área de Física, foram novidades”, acentuou a professora.

Ela também observou que a organização do evento ocorreu de forma que muitas pessoas vindas de cidades pequenas com problemas reais relativos à água tivessem a oportunidade de fazer perguntas e apresentar propostas, recebendo sempre um retorno sobre o que apresentavam. “Essa prática democrática tornou ainda mais valiosa a discussão, nos permitiu compor uma visão mais global e completa dos problemas, soluções e necessidade de uma gestão adequada da questão da água”. Furuya ressaltou que, em sua opinião, palestras como essas deveriam ser gravadas e encaminhads às escolas e universidades, para ampliar a discussão também com os estudantes.

Para o Prof. Bicudo, “o evento foi pioneiro ao reunir um grupo de especialistas brasileiros de várias formações – biólogos, engenheiros, físicos, geógrafos, geólogos, sociólogos – para debater aspectos extremamente atuais sobre a água no país”. Foi consenso entre participantes e organizadores que o workshopA Crise da Água e o Desenvolvimento Nacional: um Desafio Multidisciplinar constituiu um verdadeiro marco e fórum para avançar na discussão das questões nacionais da água em prol do desenvolvimento sustentado no Brasil.