Na noite de 23 de setembro, o Golden Room do Copacabana Palace foi palco de mais uma cerimônia de outorga do Prêmio L’Oréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência, que em 2009 está na sua quarta edição.

A mestre de cerimônias e jornalista Renata Capucci deu início ao evento, dizendo ser um grande privilégio “poder apresentar pelo terceiro ano consecutivo este projeto tão sério e conhecer mulheres tão brilhantes, que são um exemplo de determinação e de contribuição ao progresso da ciência”.

Renata destacou que o programa internacional For Women in Science, lançado em 1998, foi o primeiro prêmio dedicado às cientistas mulheres em todo o mundo. “Depois de 11 anos, os números são impressionantes: 57 notáveis cientistas já foram laureadas, e 635 jovens cientistas de 43 países distintos também foram contempladas com premiações internacionais e locais. Na edição brasileira, 26 mulheres já foram laureadas desde 2006, um investimento direto da L’Oréal Brasil para o desenvolvimento da ciência no país de mais de meio milhão de dólares”, relatou a apresentadora.

Ela demonstrou orgulho como mulher brasileira pelo fato de quatro notáveis cientistas de nosso país já terem sido contempladas com este prêmio internacional: as Acadêmicas Mayana Zatz, em 2001; Lucia Previato, em 2004; Belita Koiller, em 2005 e agora em 2009, Beatriz Barbuy.

As saudações dos organizadores

O presidente da L’Oréal Brasil, François-Xavier Fenart, cumprimentou os parceiros e deu os parabéns as premiadas. Destacou que o prêmio desse ano tem um significado muito especial para a L’Oréal , pois é o ano do centenário do grupo que completa 50 anos do início de sua trajetória de sucesso no Brasil.

Fenart lembrou beleza significa ciência, pesquisa, inovação. Contou que a L’Oréal foi fundada em 1909, pelo químico francês Eugène Schueller que, em um pequeno apartamento em Paris, transformou a cozinha em laboratório e a sala de jantar em área de demonstração. Nascia naquele espaço reduzido a “Sociedade Francesa de Tinturas Inofensivas”, que mais tarde se chamaria L’Oréal. Determinado a vencer, o químico francês foi construindo passo a passo a indústria de beleza, marcada por sua obsessão pela excelência , pela inovação e pela pesquisa, marcas que se tornaram o DNA da L’Oréal. Um pequeno negócio familiar se tornou o líder mundial da indústria de cosméticos.

Hoje, presente em 130 países, com mais de 67.000 colaboradores, o grupo possui 42 fábricas e um portfólio de 27 marcas internacionais além de 18 centros de pesquisa e desenvolvimento espalhados pelo mundo, sendo um deles no Rio de Janeiro. Inaugurado em 2008, este Centro já trabalhou em mais de 80 projetos e 100 fórmulas foram oficializadas. Com mais de 100 parcerias científicas no mundo, a L’Oréal investiu 581 milhões de euros em pesquisa e desenvolvimento em 2008 e registrou 628 novas patentes.

“A ciência está, portanto, no centro das nossas operações e o Programa Para Mulheres na Ciência lançado em 2006 é a prova do nosso engajamento com a pesquisa científica no Brasil”, disse Fenart. Ele agradeceu a colaboração dos membros do júri, “grandes incentivadores deste projeto, que se empenham em apontar o que há de melhor na ciência brasileira”, assim como agradeceu aos parceiros e amigos da Unesco e da Academia Brasileira de Ciências, “cuja colaboração é fundamental para o êxito deste Programa.”

Representando o presidente da ABC Jacob Palis, impedido de comparecer à cerimônia de outorga do Prêmio L’Oréal-Unesco-ABC pela primeira vez nestes quatro anos, a vice-presidente regional da ABC Elisa Reis leu uma mensagem de Palis em que agradece efusivamente à L’Oréal e a Unesco por tão importante parceria e declara ter esse prêmio um significado muito especial para ele. “O prêmio reconhece o valor de um grupo excepcional de jovens pesquisadoras e incentiva uma legião de jovens brasileiras a abraçarem o labor científico como uma atividade que não só pode como deve ser compartilhada por homens e mulheres, em igualdade de condições”. Ao encerrar, a professora de sociologia política da UFRJ fez questão de cumprimentar as premiadas em seu triplo papel: como representante da ABC, como cientista e como mulher.

O representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny, não pôde comparecer presencialmente à cerimônia. No entanto, valeu-se da tecnologia para saudar as laureadas e levar a mensagem da Unesco, por meio de um vídeo gravado para esse fim. No seu pronunciamento, Defourny ressaltou que na sua missão de promover a paz e o desenvolvimento a Unesco contempla a perspectiva de equidade de gênero nos seus projetos e ações. Destacou a contribuição das mulheres cientistas na produção do conhecimento e a importância da parceria com a L’Oréal e ABC. “O prêmio é um incentivo à presença da mulher no mundo científico, dando visibilidade ao trabalho das pesquisadoras e oferecendo condições favoráveis para a continuidade de seus projetos”, apontou Defourny.

Os jurados

Subiram ao palco então os membros do júri presentes (na ordem da foto): Suely Bordalo, diretora científica da L’Oréal; a física da UFRJ e Acadêmica Belita Koiller; o vice-presidente da ABC para a Região Nordeste e físico da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Cid Bartolomeu de Araújo; o químico da Universidade Federal da Bahia e Acadêmico Jailson de Andrade; a biomédica da UFRJ e Acadêmica Lucia Previato; o matemático do IMPA e Acadêmico Marcelo Viana; a geneticista da USP e Acadêmica Mayana Zatz. Não puderam comparecer o representante da Unesco Pedro Lessa, a astrofísica da USP e Acadêmica Beatriz Barbuy e o vice-presidente da ABC para a Região Sul, o geneticista Francisco Salzano.

A representante do júri, a Acadêmica Mayana Zatz, parabenizou as sete premiadas de 2009 e afirmou seu contentamento em ter essa oportunidade de estimular vocações em jovens cientistas de tanto valor. Mayana leu um e-mail que recebeu de uma jovem que tinha dúvidas quanto à escolha de carreira, e leu sua resposta à ela, na qual recomendava que sua escolha se desse a partir da paixão, pois considerar esse o fator que determina a qualidade profissional que uma pessoa pode atingir.

O momento da premiação

Após a apresentação de pequenos vídeos sobre a vida pessoal e profissional das premiadas, cada uma delas subia ao palco para receber seu diploma, seguido de um buquê de flores.

A química Annelise Casellato, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), recebeu o diploma das mãos da primeira-dama do Estado do Rio de Janeiro, a advogada Adriana Anselmo Cabral, que cumprimentou-a e a todas as vencedoras e se disse uma grande batalhadora pela causa das mulheres em termos de sua afirmação profissional, lutando pela valorização da competência feminina e sua especial capacidade de se desdobrar em múltiplos papéis com desenvoltura.

A astrônoma Elysandra Figueredo, da Universidade de São Paulo (USP) foi premiada pela diretora do Departamento de Bioquímica Médica do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, a Acadêmica Débora Foguel, que desejou a todas as contempladas com o Prêmio LOréal-Unesco-ABC a mesma felicidade profissional que ela encontra em seu cotidiano. “Espero que vocês tenham, um dia, um espaço de trabalho que possam chamar, como eu, de lar-boratório”…

A engenheira química Ângela Uller, Pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFRJ, entregou o diploma à bioquímica Alexandra Ioppi Zugno, da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Ângela parabenizou a todas as premiadas e declarou-se feliz em estar ali compartilhando esse momento com pesquisadoras que, como ela, deram prioridade à sua carreira e estudos mas mantém uma vida pessoal rica e cercada de pessoas que as apóiam. “Investimos no desenvolvimento de nossas carreiras e ao mesmo tempo cuidamos de nossos filhos e familiares. O importante é ser feliz.”

A bioquímica Flavia Carla Meotti, do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) recebeu seu diploma das mãos da advogada e empresária Cristina Gouvêa Vieira, filha do Prof. Carlos Chagas, um dos nomes mais importantes da ciência brasileira do século XX, falecido em 2000. Cristina remeteu-se ao pai, que dizia ter a Ciência na pele. “Como eu a tenho no sangue, fico muito honrada em estar aqui entregando esse prêmio a jovens cientistas dedicadas a quem eu desejo muito sucesso – sucesso este que, aliás, já começou para vocês.”

A apresentadora do programa Mais Você da TV Globo Ana Maria Braga entregou o diploma à médica Lea Tenenholz Grinberg, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Ana Maria contou que chegou a estudar Biologia, pois era muito interessada na área de Genética. “Mas a vida me levou para outros caminhos e hoje faço a ligação entre vocês, pesquisadoras, e o público, carente de conhecimento sobre Ciência. Sou muito feliz com o que faço, mas devo confessar que tenho uma certa inveja de vocês, doutoras”, concluiu a apresentadora, parabenizando todas as premiadas.

A médica Sheila Cavalcante Caetano, do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) recebeu das mãos da doutora em Arqueologia e Geologia, professora titular da UFRJ e de pós-graduação no Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional Maria Beltrão seu diploma do Prêmio LOréal-Unesco-ABC para Mulheres na Ciência. Maria aconselhou as pesquisadoras premiadas a sempre lutar “contra” a Ciência, no sentido de desafiar os conhecimentos estabelecidos e romper paradigmas.

A antropóloga Madalena Diegues, representante do Ministério de Ciência e Tecnologia no Rio de Janeiro, cumprimentou as premiadas e agradeceu a oportunidade de estar naquele momento diante de tantas jovens pesquisadoras talentosas, podendo avaliar que o investimento de toda a sua vida em C&T valeu a pena. Ela entregou o diploma á bióloga Valeria Sandrim, da Santa Casa de Belo Horizonte, em Minas Gerais.

Lea Grinberg foi escolhida para discursar em nome das premiadas de 2009. Em nome das laureadas, agradeceu à LOréal Brasil, à Unesco e à Academia Brasileira de Ciências pelo reconhecimento e estímulo dados aos seus projetos de pesquisa, ressaltando o alcance da iniciativa, que reconhece toda a dedicação e empenho realizado pelas mulheres que estão iniciando as suas carreiras cientificas e desejam participar da construção do conhecimento cientifico brasileiro.

“Receber este prêmio traz confiança e certeza que todos os anos dedicados aos estudos e todos os finais de semana que passamos no laboratório e consequentemente de todos esses que não estivemos juntos a nossos amigos e familiares não foram em vão”, disse ela, agradecendo a todos os familiares, mestres, colegas e amigos que fizeram possível aquele momento para todas elas.

Estavam presentes cinco das outorgadas com o prêmio de 2008 – Adriana Fontes, Carolina Bhering, Janine Rossato, Lucielli Savegnago e Maria Augusta Arruda. Esta última foi escolhida para representá-las no púlpito e em nome do grupo desejou sorte e sucesso às premiadas de 2009, destacando que esse evento será certamente um divisor de águas em suas carreiras, como foi na de suas antecessoras.

Com chave de ouro

O último a falar foi o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos do MCT (Finep), Luis Fernandes, representando o ministro da Ciência e Tecnologia, o Acadêmico Sergio Machado Rezende. Ele declarou seu grande interesse pelo tipo de programa proposto pela LOréal, pois lembrou que apesar de todo o crescimento das mulheres na Ciência em todo o mundo elas ainda são minoria nos cargos de poder e na Academia Brasileira de Ciências, por exemplo, “uma defasagem histórica que precisa ser transformada”.

Fernandes destacou que a premiação Para Mulheres na Ciência L’Oréal-ABC-Unesco já está inserida na agenda de C&T do país, o que considera muito significativo. Referiu-se também ao fato de que em 2009 está sendo comemorando o Ano da França no Brasil e que a L’Oréal é uma grande representante desta colaboração mútua, por estar completando 100 anos em 2009 e há 50 anos investir no desenvolvimento da indústria cosmética, em ciência e tecnologia no Brasil.

O presidente da Finep concluiu arrancando risos da platéia, ao observar que, em seu quarto ano consecutivo presente à cerimônia de premiação, pensou com seus botões se a beleza seria um dos critérios de seleção das premiadas, pois todos os anos o conjunto de vencedoras se destaca não só pela excelência científica, mas também pela boa aparência. “Conhecendo, porém, a seriedade e nível de exigência de todos os membros desse júri, concluo que essa é uma condição inerente à mulher brasileira”.