Apesar das dúvidas que apareceram na juventude, comuns da idade, sobre que carreira seguir, o membro afiliado da ABC Adriano Andricopulo começou a se interessar por Química no ensino médio, nas aulas no laboratório. A idéia foi amadurecendo nas visitas promovidas pelo colégio em que estudava à Universidade de Santa Maria, motivando Andricopulo a cursar Química Industrial naquela instituição. “Foi uma decisão que fui tomando com calma, naturalmente”, recorda.
Natural de Porto Alegre, o cientista fez iniciação científica desde o segundo período da faculdade. Em seguida, cursou mestrado e doutorado sanduíche em Química Orgânica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e na Universidade de Michigan, onde em seguida completou um pós-doutorado em Química Medicinal. Quando retornou ao país, foi trabalhar em um projeto Jovem Pesquisador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Estado de São Paulo (FAPESP).
Em 2006 entrou para o corpo docente efetivo, na área de Química Medicinal, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de São Paulo (USP), onde atua como professor associado e coordena o Laboratório de Química Medicinal e Computacional (LQMC), com uma linha de pesquisa de Química Medicinal e Planejamento de Fármacos, sobretudo na área de doenças infecciosas parasitárias como, por exemplo, a doença de Chagas. Também desenvolve trabalhos na área de planejamento de novos fármacos contra o câncer, além do desenvolvimento de bases de dados e modelos preditivos de propriedades farmacocinéticas.
O grupo do professor trabalha há um ano para a Organização Mundial de Saúde (OMS) desenvolvendo um novo candidato a fármaco para a doença de Chagas, que em 2009 completou 100 anos da sua descoberta pelo pesquisador brasileiro Carlos Chagas, sem um único medicamento apropriado para o tratamento clínico dos infectados. “Esse é o nosso objetivo fundamental: encontrar uma nova terapia para a doença de Chagas”, ressalta.
Hoje ainda não existe um tratamento eficaz e seguro para a doença de Chagas. Ela se caracteriza por uma fase aguda ao ser contraída – com febre e outras características similares a uma gripe. O único fármaco existente, segundo Andricopulo, talvez seja eficaz para essa fase aguda, mas na maior parte das vezes o paciente ainda não tem um diagnóstico. Depois que passa essa fase aguda, o paciente pode ficar vários anos sem sentir nada: algumas pessoas são portadoras da doença durante dez, 20 ou 30 anos e morrem sem jamais descobrir.
Em certo momento, explica o químico, a doença se torna crônica e então não há mais solução. “O paciente passa a ter uma série de complicações graves, que podem afetar o coração, o esôfago e intestino grosso e não há mais como eliminar o parasita, que vai se desenvolvendo cada vez mais e agravando a saúde do paciente. Só se pode eliminá-lo na fase aguda”, esclarece Andricopulo.
Há uma enorme expectativa pelos resultados do projeto e várias pessoas que têm a doença procuram o professor para obter mais informações sobre os trabalhos e um possível novo medicamento. No entanto, de acordo com ele, as pesquisas se desenvolvem em diversas etapas. “O trabalho em Química Medicinal necessita de um olhar mais amplo. Começa com um princípio ativo, uma molécula pequena que tem propriedades farmacodinâmicas e farmacocinéticas que precisam ser otimizadas para que possam vir a ser utilizadas no homem com segurança e de forma eficaz. Essa é a nossa área de pesquisa e isso leva tempo”, esclarece o professor.
A OMS dispõe de uma rede de centros de pesquisa que possibilita os avanços nos estudos bem como a aquisição de novos conhecimentos para possibilitar o desenvolvimento de novos medicamentos. Embora seja um processo muito complexo, segundo Andricopulo, o projeto está evoluindo bem, pois há muita dedicação e empenho. “O que mais me encanta nessa área são os desafios que ela proporciona. Temos que descobrir coisas novas para produzir ciência, ter bons projetos, trazer mais alunos para a pesquisa, esse é o nosso dia-a-dia. Tem uma dinâmica interessante que nos motiva a trabalhar com dedicação, comprometimento e entusiasmo”, relata o químico.
Para Andricopulo, o interessante da Química Medicinal é a sua multidisciplinaridade, ou seja, sua interrelação com outros campos da ciência. “Há vários conteúdos correndo ao mesmo tempo nessas pesquisas, precisamos do colega para complementar os nossos estudos. Preparamos a molécula, mas precisamos do farmacologista ou do microbiologista para testar em um ou outro modelo”, esclarece. Todas essas áreas são extremamente importantes para que o trabalho evolua dentro do contexto da Química Medicinal, que é o planejamento de novas moléculas candidatas a fármacos.
Apesar de haver um número significativo de doutores novos e com ótima formação, para Andricopulo – que também é diretor da divisão de Química Medicinal da Sociedade Brasileira de Química – existe a necessidade de geração de novas oportunidades com distribuição geográfica mais ampla e uniforme. “A área gera grande interesse, tem atraído muitos alunos e não há lugar para todos nos grandes centros”, avalia. Para o aluno que deseja crescer na profissão, o importante é gostar, ter afinidade, dedicação, esforço e comprometimento em querer realizar algo mais. “Às vezes não é o aluno mais inteligente que você vai querer no seu grupo. É uma combinação da inteligência com a capacidade de trabalho e com o entusiasmo e a dedicação, que são aspectos fundamentais”, observa.
A indicação para a Academia no ano de 2008 foi um privilégio e uma honra, um reconhecimento pela dedicação ao trabalho, na avaliação de Andricopulo. Ele acha que os novos membros devem ser ativos, sobretudo na interação com os Titulares da ABC na produção de novos conhecimentos, vislumbrando novas oportunidades no campo da ciência. “É uma distinção importante, mas temos que assumir o papel de forma cuidadosa e humilde, tentando sempre sermos úteis e colaborar com outros”, encerrou o Acadêmico.