O gosto pelos números, por fazer contas rápido e pelos desafios vêm de pequeno. O carioca Eduardo Sany Laber conta que a profissão do pai foi de grande influência para que seguisse pelo caminho da Engenharia de Computação. “O fato de o meu pai ser engenheiro despertou em mim, muito cedo, a curiosidade em relação aos números e à Matemática”, recorda.

Graduado em Engenharia de Computação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), mestrado e doutorado em Informática pela mesma instituição, o cientista garante que embora sempre tenha tido um interesse muito grande pela Matemática – tendo participado na adolescência, com sucesso, das Olimpíadas de Matemática no estado do Rio e da competição internacional dois anos depois – foi convencido de que tinha melhores chances de sobreviver na Computação. “Uma coisa é gostar do assunto e outra é querer trabalhar e viver daquilo. Na época, a Computação tinha aquela coisa de profissão do futuro e eu vi que através dela eu teria um link para a Matemática”, aponta.

A área acadêmica sempre foi mais estimulante para Laber. Após um estágio no mercado financeiro, teve a certeza de que sua praia era a pesquisa. “Sempre gostei muito de resolver problemas. Fico muito motivado ao pegar um problema que, a princípio, não sei como abordar e buscar em livros e outros materiais pistas de como resolvê-lo. E vi que existia uma possibilidade de trabalhar com isso no mundo acadêmico”, argumenta.

O que atrai seu interesse é o trabalho que combina a pesquisa teórica com o estudo de problemas aplicados. Nessa linha, o esforço de Laber está ligado ao desenvolvimento de algoritmos para problemas que emergem em diferentes subáreas da ciência da computação, como Compressão de Dados, Busca na Web, Inteligência Artificial e Banco de Dados.

Dentro desse campo, o cientista se dedica à descoberta de como se obter procedimentos mais eficientes na resolução de um determinado problema, através da análise de algoritmos, da pesquisa operacional e otimização de uma série de questões de interesse da indústria e da sociedade. “Uma empresa quer descobrir, por exemplo, como encaminhar um produto que fabrica para vários pontos de distribuição. Existem diversas formas de fazer essa operação e cada uma delas terá um custo diferente. A minha pesquisa busca encontrar as maneiras mais eficientes de realizar determinadas tarefas”, exemplifica Laber.

Outra frente em que atua é a filtragem de notícias na Internet. A fim de se distinguir quais dados em um site são, de fato, importantes, Laber programa o computador através de uma coleção de dados e desenvolve métodos que permitem que a máquina execute essa ação automaticamente, diferenciando o que é conteúdo relevante do que não é.

Para Laber, a informática tem um papel fundamental na vida das pessoas. “Para um indivíduo trabalhar com milhões de dados é muito complicado. A partir desse grande conjunto, busco estabelecer procedimentos inteligentes, extrair informações úteis, encontrar padrões, fazer otimizações. São formas de se ensinar o computador a te ajudar nessas tarefas”, argumenta o engenheiro de computação, membro do comitê do LATIN – principal conferência de Teoria da Computação da América Latina.

Para fazer pesquisa na área de algoritmos e otimização, o cientista considera necessários uma boa base matemática, familiarização com programação e sistemas mas, sobretudo, persistência, que acredita ser fundamental na resolução de problemas complicados, além da intuição. “É importante buscar nas empresas e na sociedade problemas relevantes e persistir na sua solução, que nunca vem de um dia para o outro”, ressalta.

Laber finalizou a entrevista com uma análise da situação atual da pesquisa no Brasil e de sua nomeação como Membro Afiliado da Academia Brasileira de Ciências. “Embora o Brasil tenha uma série de desafios a serem vencidos, como a questão da política científica – o que fomentar, onde se colocar mais dinheiro – o país tem investido em ciência e tecnologia e colhido bons resultados”, pondera.

Sobre a sua indicação, Laber diz ser um reconhecimento muito grande, já que apenas uma parcela pequena de bons cientistas está na Academia. Além disso, acredita na positividade da interação de várias áreas. “Nas poucas vezes em que estive na ABC encontrei um ambiente muito interessante. E ter esse espaço onde os cientistas de diversas áreas podem discutir e interagir é muito proveitoso e benéfico para a ciência do país”, finalizou.