O Acadêmico Wanderley de Souza, médico e Doutor em Ciências Biológicas, publicou o seguinte artigo no Jornal do Brasil, em 13 de junho:
“A cada ano aumenta o número de artigos científicos publicados nas mais variadas áreas do conhecimento. Na área científica, tal fato se deve a quatro fatores básicos.
Primeiro, cresce anualmente o número de pesquisadores atuantes e produtivos, sobretudo nos países emergentes como China, Índia, Coréia do Sul, Brasil, Paquistão, Cingapura e África do Sul, para citar os mais relevantes.
Segundo, os mecanismos atualmente existentes de financiamento à atividade científica por parte de agências governamentais e fundações privadas exigem maior produtividade, em geral medida pelo número de artigos publicados e a qualidade das revistas.
Terceiro, o fluxo mais rápido da informação pressiona o pesquisador a publicar o mais rapidamente possível seus resultados. Atualmente, as revistas são consultadas on-line por vários pesquisadores em todo o mundo, sendo que muitas revistas divulgam o conteúdo futuro antes da sua publicação definitiva.
Quarto, cresce rapidamente o número de revistas publicadas exclusivamente on-line e com acesso livre. Tais revistas, inicialmente recebidas com algum descrédito, vêm alcançando grande sucesso. Cito como exemplo, na área biológica, a série PLoS (Public Library of Science) lançada inicialmente em agosto de 2003 com a PLoS Biology e que já conta com sete séries nas mais variadas áreas das ciências biomédicas. Algumas, como a PLos Biology e a PLos Medicine, já alcançam índices de impacto da ordem de 13.5 e 12.6, respectivamente, valores estes obtidos apenas por um número restrito de revistas tradicionais, muitas das quais criadas há mais de 50 anos.
Posso assegurar que, face ao grande número de revistas existentes, é muito difícil escolher aquela para onde submeter um artigo científico. As opções são muitas e crescentes. Muitas vezes nos deparamos com o dilema entre publicar em uma revista clássica da área e conhecida por todos, mas que tem menor índice de impacto, ou por uma nova e que já conta com índice maior. Acresce ainda o fator econômico, uma vez que existem hoje, pelo menos, três tipos de revistas.
Primeiro, as publicadas por grandes editoras tradicionais, como a Elsevier, Willey-Blackwell e a Springer Verlag. Estas não cobram pela publicação e muitas vezes ainda oferecem algumas cópias do artigo ou a sua versão em pdf. O segundo tipo de revista é, em geral, publicado por associações científicas, contam com elevado prestígio e cobram valores variáveis, algo em torno de US$ 80 por página. O terceiro inclui as revistas exclusivamente on-line e de livre acesso, mas que cobram do autor valores que vão de US$ 800 a US$ 3 mil a título de manutenção do sistema de livre acesso. Cabe ressaltar que autores que comprovem não contar com apoio financeiro podem pedir isenção deste pagamento.
Cresce a pressão de várias agências no sentido de que as publicações científicas sejam acessíveis a todos. O sistema do National Institutes of Health, uma das principais fontes de financiamento à pesquisa médica nos Estados Unidos, exige que a versão eletrônica de artigos aceitos para publicação e que foram financiados com seus recursos sejam depositados no PubMed Central. A Wellcome Trust, importante agência inglesa, obriga a que o artigo seja disponibilizado gratuitamente tão logo seja publicado. Para isto, libera recursos ao pesquisador, da ordem de US$ 3 mil por artigo, no sentido de que tal regra seja cumprida. Com isto, estes artigos poderão ser lidos por um número maior de pesquisadores, objetivo principal de todos os autores.
Esta política aumenta a chance de que um determinado artigo tenha maior impacto, seja mais citado por outros autores e, com isto, aumente o prestígio da revista que o publicou. No Brasil, as agências ainda não fixaram uma política em relação às publicações científicas. No entanto, isto é uma questão de tempo, uma vez que regulamentar a publicação de artigos científicos pelas agências que os financiam é uma tendência mundial.”