Durante a mesa-redonda que envolveu cientistas e jornalistas em evento comemorativo dos 40 anos do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, em 5 de junho, a editora de ciência do jornal O Globo, Ana Lúcia Azevedo, concordou com a posição de Herton Escobar, da Folha de S. Paulo, sobre a questão do valor do assunto. “Tem a ver com impacto sobre a sociedade, se aquilo vai ser útil para as pessoas ou se, simplesmente, aquilo é uma coisa interessante”. Na categoria útil, segundo ela, entram quase todas as matérias de saúde, engenharia, clima. Na categoria interessante, entram temas relacionados à astronomia, arqueologia e história, por exemplo.

Ela afirmou utilizar também como referência o fato de a pesquisa ter sido publicada ou aceita para publicação em grandes revistas, como Nature e Science, porque passaram por um processo de revisão por pares. “Mas também consideramos quem é o autor ou o grupo que está por trás, se tem credibilidade”. Ana afirmou que o índice de publicações brasileiras nas grandes revistas tem melhorado muito nos últimos anos, mas ainda é baixo, e em certas áreas da ciência existem diversas pesquisas publicadas apenas em revistas brasileiras que podem ter interesse nacional. “A arqueologia brasileira, por exemplo, não têm tradição de publicação em revista indexadas,”

A questão fundamental, no entanto, segundo Ana Lúcia Azevedo, é a estrutura que a ciência estrangeira tem, com agências internacionais divulgando as principais notícias para as redações do mundo inteiro com uma boa antecedência. “No Brasil, as instituições que produzem pesquisa pouco as divulgam e algumas vezes, em vez de facilitar, dificultam o acesso aos pesquisadores.”

Ana Lúcia destacou o cuidado especial na área médica e de saúde, que é o assunto mais lido do Globo – 84% dos leitores se interessam por saúde. “Em segundo lugar vem a manchete do jornal, lida por 64% das pessoas. Em relação aos jovens, a gente só perde para a editoria de esportes”. Ela diz que o assunto sofre uma pressão gigantesca por parte de laboratórios farmacêuticos, por parte de empresas, pois tem muito interesse por trás. “Tomamos muito cuidado na hora de selecionar uma notícia para ver se aquilo não vai interessar somente a um determinado grupo”, destacou a jornalista.

Na área de meio ambiente, segundo Ana Lúcia, há muita pesquisa, mas muito conflito de interesses também. “Uma grande parte dessas pesquisas não são publicadas em revistas, não porque os pesquisadores não queiram, mas porque grandes empresas não têm interesse nenhum que aquilo vá a público. É muito complicado.”

Ela observa que a área de ciência do jornal atinge realmente uma parcela mínima da população. “Realmente há uma elite cultural dentro do Brasil. A empresa faz pesquisas sobre o nível de conhecimento do leitor, então há determinados assuntos – principalmente da física ou da matemática – que não se consegue publicar, porque para explicar o que é necessário que se saiba antes de chegar na notícia em si seria preciso um espaço que não temos no jornal. É muito distante do dia-a-dia das pessoas”.