Em mesa-redonda realizada no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da UFRJ, por ocasião da comemoração dos seus 40 anos, o diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia (C&T) do Ministério de C&T (MCT), Ildeu Moreira, afirmou que a resposta à pergunta-tema do evento quando é legítimo divulgar uma descoberta científica envolve várias outras questões relacionadas a ela que também são importantes, como interesse e oportunidade.

“Nas várias áreas da ciência, há olhares diferentes sobre o que é descoberta científica”, observou o físico da UFRJ. Ildeu enfatizou as questões éticas que envolvem a divulgação de descobertas científicas. Para ele, as novidades da ciência podem, muitas vezes, ser abordadas pela mídia de forma descontextualizada e distorcida. “No início, a AIDS foi descrita como uma doença de homossexuais. Esse conceito foi sustentado por frágeis conhecimentos científicos. Muitas vezes, os próprios cientistas ainda não têm clareza sobre determinados conteúdos”, exemplificou.

Moreira afirmou que a publicação de qualquer novo conhecimento sofre a influência dos interesses subjacentes de diferentes setores da sociedade. “A ciência é uma atividade socialmente condicionada. Qualquer descoberta está inserida em um contexto social. A divulgação dos estudos tem implicações até mesmo para o próprio cientista e sua equipe de trabalho”, acrescenta. Segundo o físico, o impacto positivo ou negativo que a publicação científica tem sobre diferentes segmentos sociais pode fazer com que os estudos sofram diferentes controles – empresarial, industrial ou até mesmo militar, como ocorre em alguns casos nos Estados Unidos. “Os cientistas que trabalham em universidades têm mais credibilidade que os contratados por empresas. As pessoas não são ingênuas, elas percebem que, muitas vezes, há interesses ocultos por trás dos conteúdos”, observou.

Durante a palestra, Ildeu divulgou dados que refletem a opinião pública sobre a divulgação científica no Brasil e enfatizou a importância dos cientistas levarem em conta os interesses da população, uma vez que os cidadãos financiam grande parte dos estudos do país. Para ele, além de ser uma necessidade democrática, a difusão do conhecimento é uma responsabilidade ética dos profissionais da ciência que foi mal exercitada ao longo de muitas décadas.

Os resultados apresentados, oriundos de pesquisa nacional de percepção pública da ciência, promovida e coordenada pelo MCT e pela Fiocruz, com a parceria da Academia Brasileira de Ciências e colaboração do Labjor/Unicamp e da Fapesp no ano de 2006, demonstraram que apenas 15% dos brasileiros acreditam receber um nível razoável de informação científica através da televisão. O percentual foi ainda menor em relação aos outros meios de comunicação. Moreira lamentou que apesar de existir um grande interesse geral pela área, há pouca oferta de divulgação da ciência. Em sua opinião, muitas vezes as coberturas são sensacionalistas ou tendenciosas, as matérias difíceis de serem compreendidas e as controvérsias e os riscos que envolvem as pesquisas são ignorados pela mídia. De acordo com os índices, a população é consciente dos benefícios proporcionados pela ciência, e seus principais focos de interesse são as notícias relacionadas à saúde e melhoria da qualidade de vida.

Um dos resultados dessa pesquisa, segundo Ildeu, incomodou muito, é o dado que mostra que a maioria dos brasileiros não conhece a ciência brasileira e nem suas instituições. “Essa é uma das razões para que esse ano a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia seja voltada para a divulgação mais ampla da ciência brasileira”, destacou o diretor do MCT.

Ildeu Moreira aludiu a duas frases de Einstein sobre o tema. “A comunidade dos pesquisadores é uma espécie do órgão do corpo da humanidade. E esse órgão secreta uma substância essencial à vida que deve ser conhecida por todas as partes do corpo, na falta da qual ele perecer”. Einstein disse também “que somente quando a ciência cumpre essa importante missão de divulgar os grandes problemas científicos na mídia, em conjunto com a sociedade, é que ela adquire, do ponto de vista social, o direito de existir”. Ildeu observou que considera essa uma frase muito forte, “especilamente dita por um cientista que vivenciou tantas descobertas científicas no seu sentido mais amplo”, concluiu o físico.