Dentro da programação das comemorações dos 40 anos do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, foi organizada um mesa-redonda com o tema Quando é legítimo que uma pesquisa científica seja divulgada?, com a participação dos jornalistas Ana Lúcia Azevedo e Herton Escobar, além dos cientistas Ildeu Moreira e Suzana Houzel.

Promovida pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a segunda mesa redonda da programação sobre A Biomedicina do Século 21, que visa comemorar os 40 anos da instituição, discutiu temas relacionados à interação entre as ciência e sociedade. No encontro, realizado no dia 5 de junho, no Centro de Ciências da Saúde (CCS) na Ilha do Fundão, foram debatidos o impacto da difusão científica na formação da opinião pública e quando é legítimo divulgar uma descoberta da ciência. Coordenado pelo membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências Stevens Rehen, o evento contou com a participação de quatro palestrantes, entre jornalistas e cientistas.

Notícia importante x notícia interessante

O primeiro a se colocar na mesa redonda foi o responsável pela cobertura de ciência e meio-ambiente do jornal O Estado de S. Paulo, o jornalista Herton Escobar. Ele falou sobre a dificuldade diária de identificar na ciência o que de fato é notícia e qual o momento ideal para publicar a novidade. Ele considerou que se a descoberta tem uma aplicação prática e terá um impacto direto na vida das pessoas, a divulgação é essencial.

De acordo com Escobar, um dos principais desafios dos jornalistas é publicar uma informação que não atrai as pessoas, mas, que é importante para a sociedade. “Existe a notícia importante e a notícia interessante. A importante não é, necessariamente, a interessante. E para o jornalista isso é péssimo. Você acha que tem que publicar, mas também tem que convencer o leitor de que aquilo é importante. E aí entra o talento do profissional em motivar a leitura.”

Escobar afirma que não existe uma resposta universal que indique o momento adequado de publicar uma notícia. Ele ressalta que antes de qualquer divulgação, o jornalista nunca pode esquecer de apurar quem é o pesquisador e a instituição responsável pelo estudo, de forma a estabelecer se a pesquisa é realmente confiável. Segundo Escobar, outros critérios que podem ser utilizados é avaliar se as perguntas centrais foram respondidas ao longo do trabalho e apurar se a descoberta foi ou será publicada em renomadas revistas científicas – como Nature e Science. “Este último é um critério útil, mas que não deve ser utilizado de maneira discriminatória, porque em diversas áreas existem pesquisas interessantes e inéditas que não saem nessas revistas obrigatoriamente.”

Outro cuidado destacado pelo jornalista é prestar atenção para não despertar falsas esperanças nas pessoas. “O estágio da pesquisa deve sempre ficar claro. Muitas vezes deixamos de divulgar um trabalho que ainda está em uma fase muito preliminar”, acentua. De acordo com Escobar, quando o estudo é financiado pelo setor privado, os interesses empresariais devem ser identificados para não contaminarem a matéria com elementos comerciais.