A cerimônia de posse dos Novos Membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC) ocorreu na noite de 5 de maio, no Copacabana Palace, junto com a entrega do Prêmio Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia, outorgado pelo MCT/CNPq com o apoio da Fundação Conrado Wessel.

O presidente do CNPq e Acadêmico Marco Antônio Zago iniciou a série de discursos da noite afirmando que a aproximação entre as Ciências Experimentais, Teóricas e Tecnológicas e as Ciências Humanas, Sociais e a Literatura é uma das características dos períodos de maior progresso da humanidade. Explicou que enquanto as primeiras interagem para promover o progresso material imediato, gerando produtos e procedimentos inovadores e visando a conhecimentos fundamentais sobre a natureza, sobre a origem do Universo e o seu funcionamento, as Humanidades têm um papel central sobre o conhecimento e o funcionamento da própria sociedade, não só para ampliar nossa compreensão sobre os fenômenos sociais mas também para influir decisivamente sobre eles. “Esse é o seu papel”, esclareceu o cientista.

Essa aproximação, na opinião de Zago, nunca foi mais vital do que agora. “Uma profunda mudança envolve nosso mundo, com claro deslocamento dos centros de decisão e de poder político e econômico. Ao mesmo tempo, as transformações produzidas pelo progresso científico e tecnológico avançam em ritmo extraordinário, fazendo com que as velhas estruturas – entre elas nossas universidades – se vejam atropeladas e ultrapassadas”, ressaltou.

Dessas considerações, derivam claras responsabilidades que recaem sobre os cientistas, intelectuais, gestores de educação, de ciência e tecnologia. A primeira, segundo Zago, é a necessidade de aproximação das comunidades científica e humanística. “O Brasil fez uma clara opção pela sociedade do conhecimento como estratégia de desenvolvimento. Sua concretização não pode prescindir da intervenção de cientistas sociais e humanistas. Por outro lado, cabe a esses cientistas e humanistas dar atenção a problemas concretos de nossa sociedade e empenhar-se em propostas que possam resultar em políticas públicas”, apontou o presidente do CNPq.

O Prêmio Álvaro Alberto de Ciência e Tecnologia é a mais importante distinção outorgada pelo CNPq, em parceria com a Fundação Conrado Wessel, para celebrar o conjunto da obra de grandes cientistas. Sua concessão ao sociólogo e historiador mineiro José Murilo de Carvalho, que pertence à Academia Brasileira de Letras (ABL) e à Academia Brasileira de Ciências (ABC), realiza aquele ideal de aproximação citado por Zago. “As dificuldades são similares em todas as áreas da ciênciaÉ uma honra para o CNPq contar com seu nome no rol dos agraciados, um claro sinal de que nesta casa o que importa não é a forma nem a roupagem do conhecimento, mas sim sua excelência e seu valor intrínseco para a sociedade.”, concluiu Marco Antônio Zago.

O presidente da Fundação Conrado Wessel, (FCW), Américo Fialdini, ressaltou em sua fala que a FCW vem há alguns anos fomentando a ciência e a cultura no Brasil. “Esses prêmios dão merecido reconhecimento ao trabalho de pessoas que muito contrubuíram para a vida nacional e tem pouca visibilidade.”

Para Fialdini, o investimento em Educação é também fundamental. “Temos verificado problemas básicos e seríssimos na Educação brasileira, especialmente na Educação básica, mas que estão sendo tratados através da Capes, já mostrando alguma melhora, ao menos em São Paulo. Precisamos de gente que saiba compreender textos, é lamentável que não o tenhamos ainda conseguido. É um trabalho hercúleo, mas acho que conseguiremos, pois a questão está em boas mãos”. O presidente da FCW finalizou dirigindo-se ao Prof. José Murilo. “Nosso premiado de hoje é um homem letrado, grande estudioso e escritor. Cumprimento-o em nome da FCW”.

O grande homenageado da noite, José Murilo de Carvalho, mostrou-se bastante humilde diante da premiação. “Quando recebi o telefonema do ministro Sérgio Rezende, achei que era trabalho, que iam me pedir para fazer parte de alguma comissão. Quando entendi que era eu o premiado, fiquei surpreso, pois me colocaram na companhia de gigantes da ciência brasileira contemporânea como – para citar apenas os da área de Humanas – o economista Celso Furtado, o historiador Caio Prado Júnior, o fundador da moderna crítica literária Antônio Cândido, o sociólogo Florestan Fernandes, a socióloga Maria Isaura Pereira de Queiroz e o filósofo Benedito Nunes”, contou Murilo. O Acadêmico afirmou que em sua área a maior gratificação é o reconhecimento dos pares, mas não diminuiu a importância do prêmio material oferecido pela FCW, no valor de R$200 mil. “Já dizia São Tomás de Aquino: primeiro viver, depois filosofar”. [Leia a sua fala na íntegra]

As áreas de Ciências Sociais e Humanas, segundo dados apresentados por Murilo, têm uma participação de 20% no número de pesquisadores registrados no CNPq e sua contribuição cresce para 27% quando se trata de grupos de pesquisa. Também corresponde a 20% do total de cursos de pós-graduação existentes no Brasil. Em revistas nacionais, entre 2000 e 2003, as áreas de Humanas e Sociais detêm 20% da produção científica, mas este índice cai para 4% quando se trata de revistas internacionais. “Porquê? Ora, a Física, a Biologia, a Química e a Matemática são internacionalizadas em função de seus objetos. Mas a História, a Sociologia, a Ciência Política exigem estatutos epistemológicos próprios, repertórios teóricos e interpretativos distintos”, explicou o pesquisador.

José Murilo observou que o gênero humano tem características únicas, e que seu comportamento está no centro das preocupações dos cientistas sociais e historiadores. “A espécie humana é a única que tem consciência de sua história, e constrói as duas – história e consciência dela – para o bem e para o mal”. Para o sociólogo, mesmo com as grandes transformações que estão ocorrendo, continuará sendo responsabilidade dos profissionais das áreas citadas “desvendar o mundo em que vivemos, descortinar os novos horizontes que se abrem e tornar mais claras as opções que se apresentam ao exercício de uma liberdade da qual não abrimos mão”. O premiado agradeceu a presença do presidente da ABL, Cícero Sandroni, e agradeceu o prêmio à FCW, ao CNPq e ao MCT em nome de todos os pesquisadores das áreas das Ciências Humanas e Sociais.


Fernando Haddad, Sérgio Cabral, Américo Fialdini,
José Murilo de Carvalho, Sérgio Rezende e Marco Antônio Zago