O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Informação Quântica (INCT-IQ), coordenado pelo Acadêmico e Professor Titular da Universidade Estadual de Campinas Amir Caldeira, tem como principais objetivos aprofundar o conhecimento já existente no país nas áreas de informação e computação quântica e investir na geração de tecnologia nacional nos setores em questão. Com sede na Unicamp, o instituto é constituído por uma rede de mais de 100 estudantes de pós-graduação e pós-doutorandos e 66 professores pesquisadores, dentre eles os Acadêmicos Luiz Davidovich (vice-coordenador), Belita Koiller, Maria Carolina Nemes, Alfredo Ozório de Almeida, Nicim Zagury, Jean Pierre von der Weid eMahir Saleh Hussein.

O INCT-IQ congrega pesquisadores das áreas de Óptica Clássica, Óptica Quântica, Física Atômica, Física do Estado Sólido, Teoria da Informação e Quântica e Ciências da Computação. São 20 grupos de pesquisa e 12 laboratórios em 15 instituições, localizados em sete estados do país: Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.

A ciência de informação quântica trata dos métodos para caracterizar, transmitir, processar, armazenar, compactar e utilizar computacionalmente a informação contida em sistemas quânticos. “Trata-se de um tema amplo e multidisciplinar, que teve um desenvolvimento acelerado nos últimos anos, motivado de um lado pelo seu interesse fundamental, e de outro, pelas perspectivas de aplicação em computação, comunicações e criptografia”, afirma Caldeira, doutor em Física da Matéria Condensada pela University of Sussex, Inglateterra e pós-doutor em Mecânica e Campos pela University of California at Santa Barbara, Estados Unidos.

O físico explica que a as áreas às quais o INCT-IQ se dedica – informação e computação quântica – nasceram da conjugação das disciplinas de miniaturização dos elementos usados em dispositivos convencionais (como circuitos computacionais) e mecânica quântica. Segundo o pesquisador, os elementos físicos agora usados nas operações lógicas apresentam novas propriedades e são chamados de q-bits ou bits quânticos. Antes, os elementos em questão eram os bits, onde a transmissão de informações acontecia através do sistema binário: todas as funções possíveis em computadores convencionais e equipamentos digitais de armazenamento e transmissão de informação eram executadas por meio da codificação dos elementos a serem usados – letras, números ou símbolos de pontuação – pelos algarismos zero e um.

Agora, com os q-bits, o grande desafio é encontrar o melhor sistema para desempenhar as operações lógicas. Para o físico, essa busca, somada ao empenho dedicado ao desenvolvimento de novos softwares que utilizem a capacidade computacional dos bits quânticos, dão a essas novas áreas uma característica multidisciplinar.

Para Caldeira, a importância desse tipo de pesquisa é, como diz, “evidente”, em função da revolução ocorrida ao longo das últimas três décadas nos setores de informação, comunicação e computação. “A miniaturização irá acelerar ainda mais esse processo e não podemos nos contentar com a posição de meros espectadores dessa mudança. A nossa participação nesse processo trará inúmeras vantagens para a sociedade, tanto do ponto de vista científico como tecnológico”, defende.

Sobre o investimento do Governo brasileiro em CT&I, o cientista e Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico reconhece o incentivo à criação dos INCTs e a conscientização do Governo Federal e de parte dos Governos Estaduais sobre a importância do investimento na área.

“No meu setor de atuação, houve um grande esforço nos seis últimos anos no sentido de apoia-lo especificamente, através da criação de dois Institutos Milênio em Informação Quântica. Essas iniciativas nos ajudaram a equipar melhor nossos laboratórios, formar recursos humanos com ótima qualificação e estabelecer colaborações científicas entre vários pesquisadores interessados direta ou indiretamente nessas linhas de pesquisa. Então, podemos dizer que hoje em dia há um consenso entre o Governo Federal e parte dos Governos Estaduais sobre a importância do investimento em ciência e tecnologia no país. Se os recursos para esse fim estão aquém do necessário ou desejável, é evidente que há interesse em mudar essa situação”.

Caldeira lamenta, porém, o que ocorre com a parte administrativa e operacional dos projetos. “A sua implementação e gerenciamento esbarram em barreiras burocráticas, muitas vezes criadas nas próprias agências financiadoras, que prejudicam uma execução flexível e ágil dos projetos, comprometendo até mesmo a utilização mais eficiente das verbas e eles destinadas”, finaliza.