O segundo simpósio da 4ª Conferência Regional para Jovens Cientistas da TWAS – ROLAC (The Academy of Sciences for the Developing World – Regional Office for Latin América and the Carribean), voltado para as Ciências Exatas, foi apresentado no dia 3/12, durante o evento Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe.

Na ocasião, apresentaram seus trabalhos os pesquisadores Stephen Walborn, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Andres Folguera, professor da Universidade de Buenos Aires (UBA), na Argentina; Lorena Olmedo, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Equador; e Manuel Schilling, do Serviço Nacional de Geologia e Mineração (Sernageomin) do Chile.

Medição direta do emaranhamento de um estado quântico

O americano Stephen Walborn bacharelou-se em Física, pelo Reed College, em Oregon, nos Estados Unidos. No Brasil, o cientista concluiu o mestrado e o doutorado na mesma área, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 2006 e 2007, Walborn concluiu dois pós-doutorados em Física na mesma universidade. Atualmente, realiza pesquisas nas áreas de Mecânica, Informação e Óptica Quântica. Sua apresentação no simpósio tratou da medição direta do emaranhamento de um estado quântico, onde explicou como quantificar e detectar o emaranhamento e exibiu gráficos com o resultado de experimentos.

Pesquisas sobre a dinâmica da cordilheira dos Andes

O chileno Andres Folguera, naturalizado argentino, é atualmente pesquisador do Laboratório de Tectônica Andina do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) e professor da área de Geodinâmica da Universidade de Buenos Aires, onde concluiu o doutorado.

Folguera estuda a dinâmica da cordilheira dos Andes – como, porquê e quando ocorre o levantamento e o colapso das montanhas. De acordo com ele, as pesquisas sobre risco geológico, como avalanches e vulcões, são bem financiadas.

“Existe uma tendência a favorecer tudo o que está relacionado com o ambiente e com catástrofes, mas os trabalhos teóricos recebem menos recursos porque não provocam um impacto direto sobre a vida humana. Investir pouco na teoria é um problema político da Argentina e, pessoalmente, não tenho muitas esperanças na nossa administração atual”, lamentou.

Segundo o pesquisador, a conferência é uma importante oportunidade para comparar o nível das pesquisas realizadas no Brasil e na Argentina. “Esta é uma análise essencial, porque os dois países possuem políticas científicas muito distintas. Enquanto a Argentina investe apenas 0,1% do seu Produto Interno Bruto (PIB) na ciência e tecnologia, o Brasil destina em torno de 1% para o mesmo fim. Não é pouca diferença, uma vez que este produto é per capita e o Brasil é enorme!”, argumentou Folguera.

Em seu ponto de vista, o intercâmbio de informações entre o Chile e a Argentina é fundamental, pelo fato dos dois países compartilharem os Andes. Ele também valoriza a cooperação científica e econômica com o Brasil. “O Brasil conquistou um elevado desenvolvimento em métodos de laboratórios, através da qualidade da infra-estrutura e do conhecimento relacionado a procedimentos, métodos e técnicas”, avaliou.   

Reatividade em Química Orgânica

A cientista Lorena Olmedo, Ph.D. em Química pela Universidade do Chile, é membro da Sociedade Americana de Química desde 2007. Ela estuda a reatividade em Química Orgânica, através da definição de escalas que permitem saber quais moléculas e estruturas entram mais rápido em processo de reação. “Através de modelos matemáticos, é estabelecido quais reações químicas podem ter aplicações comerciais por algum interesse biológico ou químico. O trabalho é basicamente teórico, mas possui a perspectiva futura de que seja experimentado”, esclareceu.

Segundo Lorena, participar da conferência possibilita compreender a essência do trabalho dos outros pesquisadores. “Na ciência, a divulgação de informação é muito limitada. Esses eventos generalizam o conhecimento que, antes, era restrito às revistas especializadas”.

A cientista atribui o baixo nível das pesquisas realizadas nos países do mundo em desenvolvimento à falta de cooperação científica e à pouca quantidade de financiamento. Em seu ponto de vista, a conferência possibilitou uma valiosa troca de informações e idéias. “Para os jovens cientistas, as sugestões dos pesquisadores mais experientes e o intercâmbio de opiniões são fundamentais para o progresso das pesquisas”, garante.   

Medição do tempo dos processos ocorridos nas rochas

Doutorado em Geologia pela Universidade do Chile, Manuel Schilling realiza pesquisas sobre as rochas do manto terrestre localizadas entre a crosta e o núcleo do planeta. “O sistema isotópico Rênio-Ósmio (Re-Os) é o meu principal método de estudo no laboratório. Este procedimento permite medir o tempo dos processos ocorridos no manto subcontinental, o que possibilita uma melhor compreensão sobre a evolução da crosta e da litosfera de parte da América do Sul”, explicou. De acordo com o cientista, através de sua pesquisa foi possível descobrir que existe um bloco do continente que é mais antigo. “Foram as rochas transportadas do magma profundo para a superfície, chamadas de lito mantélico, que possibilitaram esta descoberta”, esclareceu o pesquisador.

Schilling participa ativamente do Comitê Nacional do Chile para o Ano Internacional do Planeta Terra, promovido pela União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS, na sigla em inglês). A comissão tem como meta garantir um futuro mais seguro, saudável e rico para as sociedades humanas, através de um uso mais efetivo do conhecimento acumulado pelos profissionais das Ciências da Terra.

O pesquisador considera a conferência uma importante oportunidade para observar e aprender sobre a qualidade da ciência promovida na América Latina. “Conhecer o trabalho realizado pelos países vizinhos, fazer contato com pessoas que produzem pesquisas parecidas e formar parcerias para projetos são os benefícios de participar deste evento”, acrescenta.

De acordo com o cientista, a cooperação científica é primordial para os países que estão em desenvolvimento e investem um percentual pequeno do seu PIB em pesquisas. “Esta interação é fundamental para que o desenvolvimento da ciência alcance um resultado mais rico e seja aplicado de acordo com a necessidade de cada país”, finaliza.